aqui, do alto do meu onipotente ego, sempre tive muita resistência à rotinas, métodos, rituais.
ao longo dos últimos anos de prática budista, os rituais eram a coisa que mais me incomodava:
"por que tenho que ficar me prostrando? por que não posso cruzar o zendô na diagonal? por que, por que, por que?"
(o fundador da "ordem dos pacificadores zen", o mestre zen bernie glassman, desestimula perguntas começadas com "por que": "esse tipo de pergunta indica um desejo de acumular conhecimento, e também nosso medo ou hesitação ao lidar com alguma coisa. na ordem, praticamos viver em um estado de não-saber, não de saber. e isso é muito, muito difícil.")
durante o retiro de testemunho em auschwitz, entretanto, em uma situação-limite, de emoção extremada e experiência transcendental, descobri que o meu corpo naturalmente, imediatamente assumia as posturas rituais que venho realizando no templo pelos últimos anos.
na prática do caminho (ou seja, no budismo), temos três refúgios: no buda, no darma (ou seja, no ensinamento do buda), na sanga (ou seja, na comunidade de pessoas que pratica esses ensinamentos).
percebi, para minha surpresa, logo eu, uma pessoa tão livre (!) e descolada (!!) e desapegada (!!!), u-lá-lá, que a postura, ou seja, o ritual corporificado, havia também se transformado em um refúgio para mim.
na verdade, um quarto refúgio que simbola os três: ao reverter à postura ritual em uma situação de estresse, meu corpo não estava mais que buscando refúgio no buda, no darma, na sanga.
além disso, é impossível performar todos os rituais no templo enquanto estamos remoendo o insulto que recebemos ontem ou planejando o que falar na reunião de amanhã.
a complexidade dos rituais nos mantém sempre firmemente ancoradas no momento presente.
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(o retiro de testemunho em auschwitz foi criado por mestre bernie e é organizado pela ordem dos pacificadores zen, da qual faço parte. conto mais sobre o retiro em dois textos, um escrito antes e o outro, depois. a citação de bernie está em seu livro "bearing witness: a zen master's lessons in making peace".)
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Imersão "As Prisões"
As próximas imersões "As prisões" vão acontecer em Areias, SP (a meio caminho entre Rio e São Paulo) e em Viamão (a 20km de Porto Alegre), nos meses de junho, outubro e novembro de 2017.
Para saber mais e se inscrever, assista o vídeo abaixo ou clique aqui:
Link Youtube | imersão "as prisões", de alex castro.
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