Vá em frente. Admita. Viver hoje em dia. Parece uma batalha infindável e cansativa, não? E por quê?

Deixar comentários indignados na internet. Tentar avançar no trabalho. Protestar na mesa de bar. Dar notas no Tinder. Fofocar no Face.

Só que você não é “competitivo”, filho. Seus próprios colegas disseram que você não é tudo isso! Você não tem “instinto de matador”. Seu cérebro, corpo, rosto, carreira, vida… não está no topo da lista.

É tudo a mesma coisa. Temos nos enganado pensando que cagar em todo mundo e em todos o tempo todo é a melhor coisa que podemos fazer.

Passamos muito tempo competindo uns com os outros. A competição é o grande projeto da modernidade racionalizada, movida pelos dados, em sua busca pela perfeição. E talvez nós tenhamos começado a acreditar que a competição em si é o prêmio. Vou chamar isso de “hiper-antagonismo”. Somos extremistas no antagonismo, acreditamos nesse princípio fundamental de que quanto mais combativos formos, em qualquer aspecto da vida, melhor estamos.

Somos guerreiros… lutando com… tudo… o tempo todo. Ei! A vida é uma guerra… não é? Será que é? O que estamos fazendo mesmo? Normalizando a malevolência. Recompensando uns aos outros por punirmos todos. Vivendo vidas de zumbi. Jogando cocô uns nos outros, repetidamente, automaticamente, permanentemente, sem reflexão. E quem mais age assim? Prisioneiros há tanto tempo na solitária que ficaram loucos.

Toda vida é uma batalha. Da menor criatura até a mais poderosa. A questão é: Pelo que exatamente batalhamos?

Passar o dia inteiro contentes em cagar nos outros não é viver uma vida digna. Se todos cagarem em todos, o que acontece? Não vamos até a lua. Não inventamos novos antibióticos. Não fazemos bons filmes, não escrevemos bons livros, não compomos boas músicas. Não rimos com alegria verdadeira – grasnamos cheios de raiva. Não ardemos de amor – queimamos de vergonha. Nos afogamos na merda. Sufocamos na mediocridade, no tédio, na banalidade, na crueldade… na falta de sentido. Não usufruímos a melhor vida que se pode viver porque simplesmente estamos a perdendo toda vez que jogamos merda nos outros.


O que é necessário para viver uma boa vida? Exatamente o oposto do que nos foi ensinado a fazer… apreciar … competir por… colocar esforço em… aprender… dominar. Desdém não é determinação. Desprezo não é confiança. Escárnio não é aceitação. Menosprezo não é nobreza. Robôs assassinos programados com algorítimos de raiva, fúria e autodestruição, para servir a sistemas de destruição até podem ser úteis. Mas não estão… vivos. De fato não estão. O que significa estar vivo? Realmente vivo? Arder de paixão, ser estimulado com o sofrimento, ser caloroso com amor, iluminado pela verdade, devastado pela beleza – renascido na possibilidade.

Leia também  O que conseguimos apreciar? A experiência estética como caminho para lucidez

E é isso que muitos de nós estamos abandonando. Quando jogamos cocô nos outros, rindo como seres desesperados e loucos – porque viemos a aceitar isso como o melhor que podemos fazer, tudo que podemos ser ou fazer, tudo que existe… o que exatamente abandonamos com isso?

A nós mesmos. E é quando conseguimos cultivar nosso melhor que nos sentimos vivendo de fato. E então nunca sentimos como se não estejamos realmente presentes. Porque é aí que estamos. Somos nossos próprios jardins. Quando eles murcham, nós não morremos, na verdade nunca chegamos a viver.

Sentimos como se estivéssemos batalhando. Mas estamos mesmo? Essa batalha não seria apenas agressão nua e sem freios? O grande desafio em cada vida não é só arrastar todos os outros para a escuridão. É levá-los à luz. A grande batalha em cada uma das vidas não é derrotar outras vidas. A grande batalha para cada vida é conseguir abarcar toda vida. Essa é a maior batalha de todas. Aquela que decide se vamos nos arrepender – ou regozijar. Amar.

Seus adversários, seus inimigos. Seus oponentes. Seus antagonistas. Eles não são essas coisas, de fato. São apenas como você. Alguém a quem foi incorretamente ensinado que odiar é amar, e que amar é odiar. E é por isso que você se ocupa tanto de competir… agarrar… brigar. Jogar cocô, a todos os momentos, todos os dias. Uns nos outros. Cada vez mais forte, mais rápido, mais sujo, mais grosseiro. Sem nunca reconhecer.

Os dois estão sob o mesmo céu perfeito. Não é o último de pé que vence, mas o primeiro que se ajoelha. E começa seu jardim.

* * *

Nota: esse texto foi traduzido a partir do Medium do autor.

Umair Haque

Umair Haque é diretor do Havas Media Labs e autor de <em><a>Betterness: Economics for Humans</a></em> e <em><a href="http://hbr.org/product/the-new-capitalist-manifesto-building-a-disruptive/an/12794-HBK-ENG?N=4294841678&Ntt=umair">The New Capitalist Manifesto: Building a Disruptively Better Business</a></em>. Considerado um dos mais influentes pensadores sobre gerenciamento pela <a href="http://hbr.org/web/slideshows/the-50-most-influential-management-gurus/1-christensen">Thinkers50</a>. Twitter: <a href="http:"