Entrevista com Alexandre de Souza, do Diário de um PM - Parte II

Continuação da entrevista com o Alexandre, do Diário de um PM. Nessa segunda parte conversamos sobre corrupção, maconha, mulheres e até pegamos dicas de sites bacanas. Leia a primeira parte antes de continuar aqui.

Policial 24h, sempre em prontidão
em-prontidao
Papo de Homem: Como enxerga a liberação do uso da maconha?

Não vi ainda, nenhum estudo conclusivo sobre a extensão dos danos à saúde que a maconha faz. O certo é traz danos à saúde. Certo também é que a liberação traria um incremento do número de usuários.

Além disso, a liberação não acabaria com o narcoterrorismo nas favelas, pois a cocaína continuaria sendo vendida, e a perda poderia ser compensada com as drogas sintéticas que cada vez estão se popularizando mais, o crack e as próprias variações da maconha.

Enfim, não tenho motivos para ser favorável à liberação da maconha.
No Brasil o uso da maconha já é despenalizada (ninguém fica preso por usar maconha) e a tendência é que no futuro seja descriminalizada (deixaria de ser um ílicito penal, mas continuaria proibida, com sanções civis ou administrativas), mas daí para que seja legalizada (liberação total) é um passo muito grande que creio estar muito longe. Ainda bem.

Papo de Homem: Você já foi pressionado para se participar de algum esquema de corrupção?

Desde antes de entrar para a PM ouço falar em esquemas de corrupção, que se eu não entrasse eu correria sério risco de vida, e que era algo inevitável. Ou entrava, ou se calava, ou morria. Tudo balela. Existe? Claro que sim, vemos nos jornais todos os dias. Me convidaram? Ainda não. E não acho que vão me convidar.

Papo de Homem: Enveredando pela área de esportes, o que sugere para ampliar a segurança nos estádios?

 A segurança não depende somente de policiais com cassetetes na mão pronto para intervir em casos de desordem. Segurança nos estádios passam pela própria infra-estrutura do estádio, que deveriam atender melhores condições nos momentos mais críticos que são a entrada, saída e circulação dos torcedores.

Se o futebol no Brasil fosse profissional como na Europa e tívessemos rigoroso calendário, os clubes poderiam vender os ingressos com antecedência, eliminando os cambistas e guardando a identificação dos torcedores, e com assentos numerados e circuito interno de TV, seria mais fácil encontrá-los em caso de tumultos. Esse monitoramento é especialmente importante porque dentro das torcidas organizadas existem inúmeros bandidos infiltrados.

Papo de Homem: Nos jornais vemos cada vez mais matérias sobre abuso de força por parte de alguns policiais. Autoridade e truculência podem andar separadas?

 Sim, não podemos confundir nunca autoridade e truculência. O uso da força deve ser e suficiente, ou seja, somente o necessário. Como na música do filme Mogli, o menino lobo:
"Eu uso o necessário/Somente o necessário/O extraordinário é demais/Eu digo necessário/
Somente o necessário/Por isso é que essa vida eu vivo em paz"

Desculpe-me por cantarolar no meio da entrevista, mas esse trecho da música é aplicável em qualquer área da vida. Mas não é tão fácil, é preciso muito autocontrole.

Papo de Homem: No seu dia-a-dia, é possível deixar de ser policial quando se tira a farda ou você está sempre "ligado"?

Como os escoteiros, sempre alerta! Desde 1 de fevereiro deste ano eu estou contando os policiais que morrem no Rio de Janeiro. Os números - até agora são 64 mortos somente no Rio - mostram que a maioria morre quando está de folga, geralmente por latrocínio (roubo seguido de morte). O policial é policial 24 h por dia, não pode se dar ao luxo de "desligar".

Papo de Homem: Você sente que amigos e familiares esperam mais de você, por ser um modelo de comportamento?

Não sinto que esperam mais, somente esperam aquilo que já conhecem de mim. Eu não iria querer decepcioná-los.

Papo de Homem: Qual a reação das mulheres quando descobrem que você é o policial? O interesse aumenta ou diminui?
Alexandre em momento casual no vestiário, as mulheres não resistem ao distintivo
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A farda tem imã para o olhar feminino. Muitas olham mesmo, encaram, mesmo quando estão acompanhadas, sem cerimônia. Mesmo à paisana a situação também pode ser favorável, porque existem àquelas que são fãs de policiais.

Mas não são todas, então não é aconselhável usar desse expediente para conquistar uma mulher, a não ser que já conheça a caça o suficiente e saiba que isso é ponto a favor. Eu não saio por aí dizendo que sou policial, isso é potencialmente perigoso, mas geralmente isso desperta curiosidade e pode resultar em um bom papo.

Papo de Homem: Qual o caso mais engraçado que você já passou como policial?

Até agora a pergunta mais difícil de responder. Deixe-me pensar... Que triste, não tenho nada que vá fazer o leitor mijar de tanto rir. Será que até o final da entrevista eu lembro de alguma coisa?

Papo de Homem: Com todas as dificuldades da profissão, ainda lhe causa orgulho ser PM ?

Ser Oficial da Polícia Militar está sendo uma grande realização na minha vida. Não aconteceu nada nesse início de carreira que me faça mudar de idéia, mesmo com todas as dificuldades. Sinto grande orgulho de vestir essa farda.

Papo de Homem: Indique 3 sites que você recomendaria para nossos leitores. =D

Caso de Polícia - porque é um outro ótimo blog com a temática polícia / segurança pública, do Eduardo, policial civil.

Dinherama - porque é o blog que está me ajudando a dar destino aos lucros do Adsense.

Arquitetura e Tal - porque vai ser a referência em arquitetura sustentável no Brasil. E porque o amor é lindo :)

Obrigado ao Papo de Homem pelo convite e parabéns por esse projeto magnífico!

Papo de Homem: O prazer foi nosso, Alexandre. É um privilégio conversar com pessoas que realmente conhecem e amam sua profissão.

publicado em 28 de Junho de 2007, 09:25
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Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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