Engaje sua energia em coisas foda – 15 práticas para abrir 2016 com o pé direito

Porque gastar tempo e indignação com notícias ruins e o absurdo do mundo não muda nada e só causa frustração

No cansaço de fim de ano tem sempre um bocado de clima de renovação. A vontade de ser uma pessoa melhor no próximo ciclo vem junto da listinha de mudanças. Aqui no PapodeHomem, decidimos convidar diferentes autores pra escrever uma lista de 15 práticas pra começar 2016 com o pé direito - um texto por dia com uma sugestão de mudança pra uma vida mais plena no próximo ano.

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Dia desses um amigo pediu que a gente resumisse 2015 em uma palavra. A minha foi treta.

Em especial no segundo semestre, vi o mundo caminhando para conflitos sem solução. Me senti impotente em meio a um bocado de tragédias, crises e injustiças. Passei muito tempo no "modo denúncia": me engajando com notícias ruins, bradando aos quatro ventos quão absurdo era o machismo, o fascismo da direita, a miopia da esquerda, o modelo voraz de desenvolvimento econômico, o modelo ultrapassado de política.

A cada post que eu fazia, centenas de likes, dezenas de compartilhamentos e muitos comentários em indignada concordância. E eu só me sentia pior. Cada vez mais angustiada e sem energia.

Bicho, pare

O que fazer para sair dessa? Me isolar e ignorar tudo que acontece ao meu redor não me parecia uma boa solução. Foi partindo dessa inquietação que, como brincadeira, escrevi um auto-manifesto do "otimismo baseado em evidências":

"A partir de hoje (até o fim do ano) só me engajo naquilo que acho foda, só escrevo e posto sobre coisas boas, dou corpo para as ações com as quais corroboro. Sinto que preciso, cada vez mais, olhar o mundo com os óculos da transformação, ao invés dos da denúncia. Com tanta coisa ruindo, em que brechas já está sendo construído o novo?

É nas brechas que eu quero estar."

O manifesto foi um jeito de me comprometer a praticar um novo olhar. Só podemos caminhar na direção daquilo que vemos. E o que eu quero ver são as potências, o novo, o justo, o belo. Porque isso tudo já existe. Não importa se em maior ou menor escala, mas está aí.

Mas não é tão fácil mudar de olhar. Por isso, resolvi compilar sugestões de ações muito simples que podem nos ajudar.

Engaje-se em notícias boas

A Internet é libertadora na mesma medida em que é cruel. Ela tem sido o principal ambiente para o nascimento de iniciativas transformadoras, espaços de empoderamento e conteúdo inspirador, mas também um grande despejo de opiniões, julgamentos e intolerância.

Repare na sua própria prática nas mídias sociais. O quanto do que você consome e produz na Internet ajuda a reinforçar o mundo em que você NÃO quer viver?

O que fazer?

Um jeito controverso de se desintoxicar é dar um tempo no uso das mídias sociais. Eu uso o app kill my newsfeed para bloquear o meu feed de notícias do facebook. É um paliativo, mas um jeito interessante de ter uma postura mais ativa na rede: buscando a linha do tempo das pessoas e projetos que me interessam. Tambem tenho apostado mais no Medium como site principal de navegação. Outra possibilidade interessante é se engajar em sites de notícias positivas como o As Boas Novas.

Repare nas miudezas

Muitas vezes a beleza e a inspiração passam desapercebidas porque estão nas coisas pequenas, nos detalhes. Já pensou se tivessemos uma manchete para registrar as miudezas bonitas que estão espalhadas por aí, às nossas vistas?

O jornal das miudezas é um projeto-inspiração do querido amigo André Gravatá

O que fazer?

Pelo menos uma vez na semana use um dos seus trajetos usuais para praticar um olhar atento e reparar nas pequenas coisas. Se tiver um celuras à mão, tire uma foto e crie uma legenda.

Não tenha metas de ano novo

Em geral metas servem para nos mostrar onde falhamos ou, pelo menos, o que ainda não fomos capazes de fazer. Elas são grandes geradoras de ansiedade e auto-cobrança. Alimentam uma lógica mecanicista e gerencial dentro das nossas próprias vidas.

Não me entenda mal, as metas podem ser muito úteis. Mas elas estão dentro de uma lógica de controle. Partem do pressuposto que você sabe exatamente onde quer chegar e pode controlar todas as variáveis do caminho. Pense nas coisas que você fez com mais alegria em 2015. Nas pessoas que foram mais importantes para você. Elas foram resultado de algum plano pré-concebido ou de metas estabelecidas?

O que fazer?

Pegue um pote de vidro vazio. No fim de cada dia, tente se lembrar de em alguma coisa que te tocou positivamente. Pode ser a descoberta de um projeto interessante, a história de alguém próximo, ou mesmo um gesto simpático da sua vizinha. Escreva em um papel, dobre e coloque dentro do pote. Abra no fim do ano seguinte. Você vai perceber que, ainda que nenhuma meta tenha sido alcançada, muitas coisas boas aconteceram com você.


publicado em 07 de Janeiro de 2016, 06:00
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Camila Haddad

Administradora, mestre em desenvolvimento sustentável e, precisou de duas graduações e uma pós para entender que a gente aprende mesmo é com os outros, as experiências, a ação. Atualmente, se diz em processo de desescolarização. Apaixonada por educação e entusiasta de movimentos colaborativos, juntou os dois no Cinese.


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