Eles transavam juntos, mas não saíam juntos | Do Amor 96

Das relações despretensiosamente deliciosas das nossas vidas

A primeira vez que se viram foi na academia. Ela chegando, atrasada como sempre, e ele já fazendo os alongamentos finais. Não trocaram "oi"e nem nada. Ninguém se conhecia, né? Mais umas semanas e um amigo em comum foi falar com os dois, cada um correndo em uma esteira, e fez a conexão. Ali, sim, trocaram "olás", mas ficou só nisso. Precisaria de ainda mais uns dias para que caíssem na coincidência de sairem juntos, ao mesmo tempo, e iniciarem um papinho até o carro dela.

Disso em diante, feito passe de mágica, passaram a se esbarrar com certa frequência pelo bairro. Moravam próximos, de certa forma, e acabavam se vendo, vez ou outra, no supermercado e no farol da avenida, ela parada no trânsito e ele atravessando quando verde se abria para os pedestres. Na academia, em passeios com o cachorro, no fim de noite na padaria. Numa dessas, sem pestanejar, ele pediu para ela subir. E transaram um sexo interessantemente despretensioso, sem pirotecnias, mas também sem preguiça. Riram da situação, da leveza que aquele recorte deu aos dois. Se conheciam de vista, mas não eram efetivamente amigos, mas não se viam como estranhos, só que não se tinham como próximos. Deu pra entender?

Ela deixou o cara dormindo e foi para casa. Deu sete minutos para chegar e mais uns doze dias para se verem de novo, por acaso, com ela saindo do caixa eletrônico, ele da academia. Ela estava sumida dos treinos por conta de um projeto especial no trabalho. Ele acabou aliviando o stress dela no carro, parados na esquina. Na semana seguinte, ela o viu na rua e buzinou para dar uma carona. Ele entrou no carro e dentro dela também. Novamente subiram juntos e ela foi embora quando ele já estava dormindo.

Daí deu um mês e pouquinho. Sem nada. Chegaram a se ver, mas não combinaram nada, não trocaram convites. Nunca deram o telefone um para o outro, ele não sabia onde era a casa dela exatamente. Passaram a, ocasionalmente, se esbarrar e, em algumas dessas trombadas, se pegavam.

E passou um ano, dois. Dezenas de fodas, centenas de encontros em finais de dia. Trepavam, davam carinho um para o outro, dosavam bem os desabafos do cotidiano de cada um. Se ajudavam. E ela partia com ele dormindo ou ele saía do carro quando chegavam na porta do prédio dele. Nunca passaram um final de semana juntos, nem viajaram, e tampouco conversavam por mensagens, combinavam algo. Era sempre no "olha só, você por aqui".

Certa noite, ela sentou no bar com uma amiga depois da sexta corrida que tiveram e umas mesas adiante estava ele com alguns amigos. Se cumprimentaram e a amiga ficou curiosa. Cavou pouco e ela contou. Tudo. As fodas, os papos, a maneira peculiar com que tinham silenciosamente se arranjado para ter sempre afago e sexo assim, do nada. 

"Mas vocês nunca namoraram?", a amiga questionou boquiaberta. Ela disse que não. "Vocês estão ficando todo esse tempo e nunca falaram sobre isso?", seguiu a amiga e ela disse enfaticamente que os dois não estavam ficando, explicando novamente que nunca marcaram um encontro, que sequer tinham o número um do outro. "Vocês são amantes, então". Ela disse que não. "Amigos coloridos", "ele é teu pinto amigo", "consolo", "festinha". Ela seguiu negando, já que não eram nada daquilo. "Mas, então, que diabos é isso que vocês têm há tanto tempo?", a amiga soltou como cartada final. E, antes de sentenciar, ela deu um belo gole na cerveja em seu copo:

"O que a gente tem não tem nome".

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publicado em 14 de Dezembro de 2018, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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