Pra variar, tivemos um debate interessante na reunião de pauta do PdH ontem (já até cogitamos realizar alguns desses ao vivo com vocês, por Zoom ou Skype, que acham da ideia?).
Eu e Luciano Ribeiro conversamos sobre a importância da responsabilidade da vida dos homens, após assistirmos esse interessante vídeo do psicólogo canadense Jordan Peterson. Peterson é uma dos intelectuais mais polêmicos do momento e temos procurado conhecer seu trabalho em mais profundidade por aqui, com especial incentivo do Paulo Ribeiro, autor da casa.
E na bem da verdade, o gancho de nosso papo foi uma palestra do Justin Baldoni no TED (Porque me cansei de ser "homem o suficiente"?), na qual clama aos homens que se coloquem mais vulneráveis. Mas Justin é um homem forte, bonito, com família maravilhosa e bem-sucedido no que faz.
Nem sempre se colocar vulnerável é o melhor a fazer — por mais que vocês já tenham lido dezenas de artigos aqui mesmo tratando disso. Quando um homem, em especial mais jovem, está com sua auto-estima na sarjeta, confuso, entregue a vícios e impulsos desnecessários, agindo como uma criança mimada, talvez ele precise de eixo para se colocar no lugar antes de iniciar desconstruções profundas.
Nos conectarmos a um senso de responsabilidade claro pode ser uma poderosa ferramenta de crescimento pessoal. Assumirmos um trabalho e darmos o melhor de nós nele, por exemplo, costuma ser uma boa decisão a se tomar.
Soa óbvio. Entretanto, tenho certeza que muitos de vocês — eu com certeza — já tiveram empregos nos quais atuaram com o mais puro desleixo e preguiça.
Pensando nisso, separei três documentários sobre a relação com o trabalho. Dois deles positivos e estimulantes. E um terceiro assustador, como exemplo do quanto podemos nos anestesiar e desumanizar nossos comportamentos, afinal, "estávamos apenas fazendo o que nos mandaram".
Jiro Dreams of Sushi (2011)
A dedicação ao ofício em mais sua pura forma. Jiro é um mestre do sushi e sua arte vai muito além da gastronomia. Suas perspectivas filosóficas, ética de trabalho, rituais e relação familiar são apresentadas nesse fascinante registro.
Fãs da culinária japonesa, apenas dêem play.
Senna (2012)
Adorava acordar domingo de manhã pra ver com meu pai o Senna disputando a F1.
Me recordo até hoje do dia de sua morte. Estava com meus amigos no pátio do prédio, brincando de patinete. Quando me convenceram que ele tinha acontecido mesmo, pois parecia mentira pra nos fazer de bobo, chorei.
Seu carisma, combinado a uma monstruosa habilidade e dedicação, deixaram uma marca profunda.
Sim, não é necessário sermos obsessivos com a vitória e nos crucificarmos caso não haja pódio pra nós — falamos extensivamente dos danos para a saúde mental e fisiológica dos homens que tais comportamentos podem gerar.
Mas se entrarmos numa disputa, que seja de coração. E isso transbordava em Ayrton.
Act of Killing (2013)
Um carrasco indonésio é o personagem central. Sua tarefa era executar pessoas da maneira mais ágil, limpa e eficiente possível, com as próprias mãos.
É possível nos engajar cegamente nas mais brutais, insensíveis e danosas tarefas, sob o manto da obediência. Esse ousado documentário nos coloca de frente com profundezas desconfortáveis e limites que jamais devem ser cruzados.
8 das melhores sugestões feitas pelos leitores(as) nos comentários
Com os 39 comentários, tornamos o artigo ainda melhor. A curadoria foi atualizada com a participação imprescindível da comunidade.
"Chef's table", série no Netflix, recomendada por Jonathan Gonçalves
"Se todos os chefs entrevistados caminham sob a linha tênue entre a vida pessoal e profissional, os episódios da primeira temporada trazem personalidades que transparecem obsessão e encontro do sentido da vida por meio da cozinha.
Os dramas pessoais – uma doença avassaladora, uma ruptura familiar, a perda de um ente querido, a desorientação na carreira, as dificuldades financeiras – e o aprendizado inexorável que trazem os erros parecem ser o subtema de vários momentos da série." (Gazeta do Povo)
"Abstract: the art of design", série no Netflix, recomendada por Jonathan Gonçalves
"De onde vem a criatividade? Os oito episódios da série Abstract – The Art of Design, disponíveis na Netflix, contam histórias que jogam por terra a tese romântica das inspirações que nascem dos atos simples do dia a dia. Todos os personagens – profissionais renomados internacionalmente em áreas como ilustração, fotografia e arquitetura – trabalham duro.
Inclui-se aí o desespero por prazos enxutos ou até mesmo projetos que não vingam, resultando em meses de trabalho “em vão”.O mais interessante nos episódios, com pouco mais de 40 minutos de duração cada, é que não é preciso ser de áreas que envolvem arte ou design para embarcar nas histórias." (Click RBS)
A vida secreta de Walter Mitty (2013), filme recomendado por Rhuan Moreira
"Não é só sobre a relação com o trabalho, mas também do que é que estamos sacrificando por isso, como nossa vida passa a ser conduzida quando ficamos no automático. Toda uma jornada para uma descoberta pessoal no final.
Tem muitas partes memoráveis no filme, apesar de parecer "clichê". Mas afinal, o clichê é o que nos falta hoje, uma vez que estamos desesperado por coisas que sequer conseguimos alcançar.Fica ai a sugestão!"
"The cutting edge: the magic of movie editing", recomendado por Ormando (vídeo abaixo está na íntegra, com 55min)
"Este documentário, chamado "The Cutting Edge - The Magic of Movie Editing", fala sobre a função de montador/editor de filmes/vídeos, sobre o maravilhoso processo de edição de imagens em movimento."
"Da horta à floresta", mini-documentário sobre agroflorestas sugerido por Ormando
"Esse curta está no ótimo canal da Agenda Gotsch, no Youtube, e fala sobre agricultura orgânica, agroflorestas e a agricultura sintrópica de Ernst Gotsch."
"A todo volume" ("It might get loud"), documentário sugerido por Ormando
Imperdível pra qualquer músico ou fã de rock que se preze.
"Sobre música e guitarra com entrevistas de Jack White (The White Stripes, The Racounters, Dead Weather), Jimmy Page (Led Zeppelin) e The Edge (U2)."
Nostalgia da luz (2015), documentário recomendado por Bruno Pinho
"Produzido por Patrício Guzman. Um dos maiores documentaristas do mundo parte de dois trabalhos diferentes para formar divagações mais profundas.
Num primeiro momento, os astrônomos que trabalham nos grandes telescópios do Atacama olhando as estrelas. Depois, as mulheres que vasculham o mesmo deserto em busca de prisioneiros políticos assassinados pelo regime de Pinochet."
Peões, de Eduardo Coutinho, documentário recomendado por Bruno Pinho (vídeo abaixo está na íntegra, com 1h24m)
"O documentário mergulha na busca pelos metalúrgicos do ABC paulista que participaram das maiores greves do século 20.
O movimento mudou a face do sindicalismo brasileiro, forneceu as bases para a criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e fez emergir a figura do líder Luiz Inácio Lula da Silva."
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Peraí, o título atualizado do artigo fala em 11 sugestões, mas contei 11. Cadê as outras duas?
Leia o ps2, especialmente pra vocês.
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Quais outros filmes e documentários para refletirmos sobre nossa relação com o trabalho vocês recomendam?
Hoje, vocês possuem um senso de responsabilidade e dignidade conectado ao que fazem? Estão dando seu melhor?
Essa não é uma reflexão trivial. Seguimos nos comentários.
ps.: lembrando que vídeos não transformam ninguém, ainda que possam ser fagulhas de processos bastante favoráveis.
ps2.: não deixem de assistir também a "Whiplash" e "Locke", já fiz review de ambos por aqui.
publicado em 28 de Março de 2018, 03:15
