Dirigente da FIFA quer mudar as regras do futebol. Precisa?

Fim do impedimento, exclusão temporária e novo limite de substituições são apenas algumas das mudanças propostas por Marco van Basten

Depois de quase 18 anos de gestão do presidente Joseph Blatter com quase nenhuma mudança significativa nos rumos do futebol, quem acompanha o esporte sabe que algumas coisas precisam ser atualizadas. Chip na bola, árbitro de vídeo, desafio eletrônico, seja lá qual for a sua corrente é provável que você admita que: o futebol ficou pra trás do resto dos esportes.

Talvez por isso você se surpreenda se eu te contar que no ano passado a FIFA aprovou 95 alterações nas regras do futebol. A maioria delas não passava de uma alteração na redação do texto e mesmo as mais notáveis durante uma partida podem ser consideradas pequenas. Mas parece que a entidade – ou pelo menos parte dela – está disposta a fazer novas mudanças e, dessa vez, mais significativas.

O grande responsável pelas propostas que já estão causando polêmica no meio do futebol é o novo diretor de desenvolvimento técnico da FIFA, Marco van Basten. Eleito três vezes melhor jogador do mundo (88, 89 e 92), o holandês assumiu o cargo em setembro do ano passado e agora começa a apresentar suas ideias para tornar o futebol mais atrativo, entre elas:

1. Substituição da prorrogação e dos pênaltis por confrontos 'mano a mano' com o goleiro

A exemplo do que já acontece no hóquei, a ideia de Van Basten é que o desempate não ocorra mais em cobranças de bola parada, ao invés disso, o jogador teria 8 segundos e uma distância de 25 metros a percorrer para tentar superar o goleiro adversário. Segundo o dirigente isso daria mais emoção ao duelo do que cobranças de pênalti e economizaria o tempo e a energia gastos numa prorrogação de 30 minutos como as que temos hoje.

2. Aumentar o número de substituições

Aumentar o número de substituições é a mudança, digamos, com mais lastro no futebol. Algumas tentativas já estão sendo feitas em jogos não-oficiais como: não contabilizar eventuais substituições do goleiro, ganhar uma troca extra caso a partida vá para a prorrogação e substituições ilimitadas desde que o jogo não seja paralisado mais do que 3 vezes por equipe.

3. Substituição do cartão amarelo por exclusões temporárias

A substituição do cartão amarelo prevê que o jogador que cometa uma falta passível de punição seja excluído por 5 ou 10 minutos. Assim, a expectativas é inibir ainda mais as faltas, dando uma vantagem mais significativa ao time adversário abrindo precedente para que as partidas tenham mais gols.

4. Fim da regra do impedimento

A mais polêmica e radical sugestão de van Basten tem como base o mesmo argumento: tornar o futebol mais ofensivo. Para o ex-jogador, a mudança implementada em 1866 e alterada uma única vez em 1925 tem deixado o esporte mais chato e previsível assemelhando-se ao handebol onde equipes montam verdadeiras muralhas na frente da área. Para ele, "sem a regra do impedimento, haveria mais possibilidades para os atacantes e mais gols. No hóquei sobre grama, o impedimento foi abolido e não causou problemas."

"O senhor está impedido de fazer isso!"

Tudo isso, porém, ainda não passa de sugestões. Para isso realmente virar regra, as mudanças terão que passar pela aprovação da International Board. Neste outro artigo, o Fred Fagundes explica como funciona a organização, mas vale ressaltar que a associação inclui um representante de cada país fundador (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) e mais quatro representantes da FIFA, dos quais pelo menos seis tem que concordar com as mudanças sugeridas. Mas é só isso, o futuro do esporte na mão desses 8 caras.

A reunião anual na qual deliberações desse tipo são feitas acontece sempre entre fevereiro e março e devem ter as pautas estabelecidas com pelo menos um mês de antecedência. É por isso que Marco van Basten deve estar em vias de enviar a notificação avisando os representantes sobre suas ideias que, se aprovadas, passam a valer a partir de 1º de julho ou do começo da nova temporada, se os campeonatos ainda estiverem rolando no país em questão.

Fazendo as devidas ressalvas, as sugestões dialogam com as mudanças aprovadas pelo Conselho da FIFA na semana passada sobre o formato da Copa do Mundo e servem para corroborar uma intenção clara da entidade de fazer alterações significativas no futebol. A gestão de Gianni Infantino foi eleita com essa bandeira e parece estar colocando mesmo isso em prática.

Acontece que para muita gente as mudanças propostas até agora não são exatamente aquelas que se esperava. Há muita desconfiança de que tudo isso seja na verdade um passo pra trás, ao invés de um avanço.

Particularmente, dá pra enxergar boas intenções no que van Basten está propondo. Acabar com as prorrogações extremamente desgastantes me parece uma boa, aumentar o limite de substituições é algo quase urgente com o nível de exigência física do futebol atual e mesmo a exclusão temporária pode ser interessante se tivermos a chance de fazer uns testes por aí antes de oficializar. Mas sobre acabar com o impedimento...

Gente muito mais experiente do que eu, gente que viveu o futebol de outras décadas têm defendido a mudança que tende a deixar o jogo mais dinâmico. Outros tantos defendem que o fato das regras de futebol terem se mantido praticamente as mesmas desde sua criação é fator determinante para a popularização do esporte. No meio disso tudo, a gente fica naquela dúvida: mudar talvez seja interessante, mas... Precisa?

Comenta aí e seguimos o papo.


publicado em 18 de Janeiro de 2017, 19:14
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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