Dia Internacional da Mulher: conheça projetos feitos por mulheres para você apoiar 365 dias ao ano

Para ir além dos parabéns e das flores, conheça alguns projetos feitos por mulheres para seguir e apoiar todos os dias

O Dia Internacional da Mulher costumava ser aquele dia de dar parabéns para as mulheres ao seu redor, mandar flores, um bombom e exaltar a poder da feminilidade. Na última década, a hashtag #nãoqueremosflores e tantos outros questionamentos sociais evidenciaram a necessidade retomar a importância política do dia 8 de março.

Como bem disse a Marcela Campos “O nascimento da data marca não uma comemoração a se parabenizar, mas uma luta a se lembrar, entender, consolidar.”

Se o primeiro dia nacional da mulher foi celebrado nos EUA em 1908, em meio a uma marcha de 1500 mulheres pedindo por direitos civis igualitários, só em 1977 as nações unidas reconheceram o 8 de março como o dia Internacional da mulher.

De lá pra cá, muitas batalhas foram travadas na luta por igualdade e os desdobramentos do movimento feminista continuam se modificando e se desenvolvendo. Falar em direitos da “mulher”, em “dia da Mulher”, foi uma forma de conquistar alguns avanços, mas ideia de que a categoria “mulher”, como um grupo de pessoas com necessidades e demandas semelhantes, já não era mais suficiente.

As demandas das mulheres pobres não eram as mesmas das mulheres ricas e a questão de classe se somava a outros fatores, como a questão racial: a realidade para mulheres negras diante de mercado de trabalho, violência doméstica e direitos civis era muito diferente da realidade de mulheres brancas da mesma classe. Em 1989, a professora americana Kimberlé Crenshaw criou o termo “interseccionalidade” para definir como os cruzamentos de gênero, classe, raça e outros fatores criam realidades diferentes para os indivíduos. A partir da noção de interseccionalidade, entendemos que para promover a equidade é preciso lutar em diferentes frentes, criando medidas que atendam à diversidade de  necessidades.

Pensando nisso, para celebrar Dia Internacional das Mulheres, nesse 8 de março, nós do PdH criamos uma lista que une diversas iniciativas feitas por mulheres e que tem como objetivo promover direitos e equidade para outras mulheres.

Feminismo nas religiões

Católicas pelo Direito de Decidir

Se na última década as questões religiosas têm sido pontos de conflito com movimentos sociais que reivindicam igualdades, também há grupos religiosos lutando nestas frentes. A iniciativa Católica pelo Direito de Decidir reune um grupo de mulheres cristãs que tem como objetivo contribuir para a “construção do discurso ético-teológico feminista pelo direito de decidir que defenda a autonomia das mulheres, a diversidade sexual, a justiça social e o direito a uma vida sem violência.”

Estas mulheres buscam conciliar as crenças religiosas com a defesa do estado laico, da autonomia e dos direitos sexuais e direitos reprodutivos.

Frente evangélica pela Legalização do Aborto

Dentro da igreja evangélica, cristãs feministas também tem se reunido para combater conceitos fundamentalistas e para mostrar que há, dentro das comunidades, enfrentamento em relação aos direitos reprodutivos das mulheres.

Mais mulheres nas artes

Mulheres que escrevem

Taís Bravo, Natasha R. Silva, em 2015, criaram a Newsletter Mulheres que escrevem para valorizar e disseminar o trabalho de escritoras e poetisas mulheres. 4 anos depois, a iniciativa se expandiu nas redes e fora dela. Além das páginas no Medium, Instagram, Facebook e Twitter, as Mulheres que Escrevem fazem ciclos de encontros e eventos abertos que fomentam a conexão, especialização e o empoderamento entre mulheres escritoras. Segundo a página, são os eventos que “nos ajudam a estar mais perto de pessoas que desejamos alcançar e conhecer outras mulheres que escrevem.”

De|Generadas

De|Generadas é um projeto que teve início em 2015 e propõe levar os diálogos dos diversos feminismos a um público mais amplo através de de palestras, bate-papos, debates, encontros festivos, exibições de filmes, intervenções, exposições de arte, performances e outras apresentações artísticas.

Em parceria com a Cia do Núcleo, o De| Generadas está em cartaz no Sesc Santana com a atividade Pequenas notáveis, que propões contar para crianças a história de 5 grandes artistas: Frida Kahlo, Carolina de Jesus, Virginia Woolf, Malala Yousafzai e Marina Colasanti.

Viva Vulva Livre

Viva la Vulva Livre é uma festa que tem agitado Fortaleza. “É uma celebração toda feminina, muito feminista!”. A festa reúne musicistas, cantoras, instrumentistas, performers, ilustradoras, designers, poetas, DJs e produtoras, abrindo espaço e dando visibilidades para as artistas mulheres que estão despontando no Ceará.

Preta rara

Preta Rara é uma historiadora, Rapper, Arte Educadora, modelo e influenciadora digital. Preta trabalhou como empregada doméstica enquanto cursava a faculdade e também foi a responsável pela #EuEmpregadaDoméstica, que reuniu depoimentos de diversas mulheres que sofreram preconceito, discriminação e injustiça fazendo limpeza em casa de família.

Ela também fez parte da produção da série Nossa Voz Ecoa, disponível no Youtube e atualmente trabalha na sua carreira musical e dá participa de eventos que fomentem a igualdade de gênero, raça e classe e que tragam voz para as periferias.

Saúde

Loka de Efavirenz

A Loka é um coletivo formado por homens, mulheres e não binários que lutam pelos direitos e pela saúde das pessoas que vivem com HIV/AIDS.

A página ajuda a dar visibilidade positiva para mulheres que vivem com HIV e, consequentemente, mostra que essa também é uma questão feminina.

Não estamos bem

O projeto da Naira Évine é uma rede de desabafos para ajudar mulheres e homens negros a lidar com questões de saúde mental em consequência do racismo estrutural da sociedade.

“Aqui o intuito é informar, discutir, debater acerca do tema e, principalmente, ouvir e entender uns aos outros. Tente desabafar um pouco, tira de dentro de si essas dores, lágrimas, tristezas e vamos conversar.”

Vem cá, vamos conversar sobre saúde sexual de lésbicas e bissexuais

O livro escrito pela jornalista Larissa Darc, vai ser lançado em 19 de março e aborda questões de saúde sexual para mulheres lésbicas e bissexuais. Larissa investigou as dificuldades de mulheres que transam com mulheres em conseguir um atendimento ginecológico adequado. Em seu livro, ela apresenta pacientes que foram tratadas com descaso, dados sobre a saúde sexual da mulher lésbica e bissexual, e também traz entrevistas com médicas especialistas no tema.

Em entrevista a Ponte.org, Darc Declarou “Uma das médicas me falou que em algum momento da faculdade deram uma cartilha para ela sobre sexo gay e ponto. Quando elas vão fazer a residência médica em ginecologia, as boas residências são em obstetrícia”, focando novamente na saúde reprodutiva da mulher, sem abordar também a saúde da vida sexual que não tem finalidade reprodutiva.

Lançamento do livro “Vem cá, vamos conversar sobre saúde sexual de lésbicas e bissexuais”

Local: Livraria Tapera Taperá – Av. São Luís, 187 – República, 2º andar, loja 29 – SP. Horário: 19h30

Igualdade nos vlogs

Gabi De Pretas

A Gabi Oliveira é formada em Comunicação Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e faz vlogs falando de questões de negritude, saúde mental, vida cotidiana, valorização da beleza negra e de quebra ainda dá umas dicas moda e maquiagem. Ela também foi vencedora do concurso Youtube Nextup e está na lista de mulheres inspiradoras do site Think Olga.

Isabela Trad

A Isabela Trad também conhecida como Todebells bombou na internet quando postou um vídeo de barriga de fora dançando muito e fazendo um quadradinho como ninguém. Isabela virou uma referência de sensualidade e valorização da beleza fora do padrão de magreza. Ah, ela continua postando danças arrasadoras no seu Instagram.

Empreendedorismo Feminino

{Reprograma}

O {Reprograma} é uma iniciativa voltada para diminuir a diferença de gênero no mercado de programação. O projeto tem cursos presenciais e a distância voltados para formar desenvolvedoras mulheres e também ajuda a criar pontes na contratação.

ADA - Mulheres programadoras

Ada é uma plataforma que reúne mulheres programadoras e que foi nomeada em homenagem a Ada Lovelace, a primeira mulher programadora do mundo. O site traz conteúdo que ajuda a conectar iniciativas de mulheres na área da programação e também tem uma área para envio de currículo e portfólio, ajudando a inserir mulheres no mercado de programação.

Segundo o site do projeto a missão é levar informação para as mulheres e mostrar que o mundo digital também nos pertence.

TransMissão

O TransMissão é uma agência de eventos e produções especializada em trabalhar com profissionais trans. O projeto criado por duas mulheres trans: Rubi de la Fuente e Aline Ewbank com a intenção de abrir novas oportunidades para pessoas trans no mercado de trabalho.

O Brechó Original Favela

O Brechó Original Favela é um empreendimento criado pelas amigas Anne Oliveira e Iris Ingrid Alves Oliveira. As duas selecionam peças pelos brechós da periferia da zona leste de são Paulo, fazem os reparos necessários, produzem combinações e looks que viram febre do Instagram e, sem loja fixa, fazem as entregas cobrando uma pequena taxa.

Os looks são inspirados nos anos 70, 80 e 90 e valorizam os cenários e as belezas da zona Leste de São Paulo. Em entrevista à Agência Mural, Anne resume  “Muita mina de quebrada não se acha bonita, muito mano não se acha bonito. Certa vez, depois de algumas fotos, um modelo falou pra gente que ele, com 23 anos, nunca tinha se sentido tão bonito e valorizado, e aquilo ajudou ele a se valorizar, e se amar. Isso vai ficar marcado pra sempre e é a nossa missão”.

Direitos

Mundo Invisível - PutaFeminista

Monique Prada, é ativista pelos direitos das prostitutas, autora do livro Putafeminista, co-editora do projeto MundoInvisivel.ORG, uma das fundadoras da Central Única de Trabalhadoras e Trabalhadores Sexuais (CUTS).

No site Mundo Invisível, Monique dá visibilidades às questões de direitos das trabalhadoras sexuais e no seu livro PutaFeminista, ela defende a possibilidade de militância dentro da prostituição, indo contra vertentes do feminismo que são contra este posicionamento.

Nós, Mulheres da Periferia

É um coletivo jornalístico independente, transparente e apartidário formado por jornalistas moradoras de diferentes regiões periféricas da cidade de São Paulo. O principal objetivo do site é disseminar “conteúdos autorais produzidos por mulheres e a partir da perspectiva de mulheres, tendo  como fio condutor editorial a intersecção de gênero, raça, classe e território”.

Mapa do acolhimento

O mapa do acolhimento é uma plataforma que une mulheres que sofreram violência a uma rede de terapeutas e advogadas voluntárias. Além de suprir parte da falta de serviços públicos, o mapa do acolhimento também cumpre a função de informar milhares de mulheres sobre seus direitos e sobre a rede de serviços públicos que estão a disposição e que foram criados especialmente para atuar na prevenção e no combate à violência contra mulheres. Todo o mapeamento é feito de forma colaborativa e depende da contribuição de voluntários.

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Amulherar-se: o repertório Passado de Mãe para Filha na Construção da Sexualidade

Se me permitem um pequeno jabá honesto, em 2017 e 2018 eu também desenvolvi meu próprio projeto: O livro Amulherar-se: o repertório Passado de Mãe para Filha na Construção da Sexualidade.

Ao acompanhar as histórias reais de quatro famílias (avó, mães e filhas) o livro retrata como a sexualidade de cada uma dessas mulheres foi se construindo em cada contexto. O objetivo do livro é tirar levar o papo da sexualidade para vida real, pras pequenas coisas do cotidiano e mostrar como essa construção acontece em todas as épocas - das avós, das mães, das filhas - mas também, como ela vai se transformando com o tempo.

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E vocês, quais projetos sugerem pra engordarmos essa lista? Vamos continuar a conversa nos comentários?


publicado em 08 de Março de 2019, 15:57
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Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro "Amulherar-se" . Atualmente também sou mestranda da ECA USP, pesquisando a comunicação da sexualidade nas redes e curso segunda graduação, em psicologia.


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