O colégio onde eu estudei, a meu ver, era um colégio classe média. A turma aqui do PapodeHomem, pra mim, era uma turma de classe média.

Quando criança, ninguém passou fome. A gente não podia comprar bolacha Amandita e Calipso porque era caro, mas, sejamos justos, a gente comia Trackinas recheada. Recheada. Na minha casa não tinha bolacha de água e sal. Eu alugava fitas para meu Super Nintendo, mas só uma por semana. Meus pais economizaram por mais de ano para comprar um computador.

Todo mundo comprava roupa parcelada e se vestia bonitinho. As famílias se endividavam no final do ano, mas era normal. Poucos tiveram um flerte casual com o Serasa, a maioria do pessoal tinha o nome limpo. Alguns visitaram o Mickey, pagando o pacotão da CVC em 18x sem juros no cartão.

A gente não ia pra Salvador no carnaval. Mas a gente ia pro interior de São Paulo, passar 5 dias comendo miojo e salsicha, se apertando numa casa com 29 pessoas. Atrasava um boletinho ou dois, ouvíamos nossos pais dizendo “Jesus, a situação tá difícil! É a crise!”, mas a gente acostumou. Quando criança, eu ia na Playland do shopping e gastava 10 reais: 5 brincando na maquininha de dar soco e 5 na maquininha de basquete.

Se isso não é ser classe média, meu Deus, é ser o quê?

Em época de eleição, com todos os candidatos soltando estatísticas sem parar, fui dar uma olhada nos parâmetros que o governo utiliza para considerar quem é classe média e quem não é. Acabei chegando no relatório do SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos):

 

Para ver maior, basta clicar na imagem
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Classe média não é quem tem uma vidinha média. A classe média ganha de R$ 291 a R$ 1091 por mês, por pessoa. A classe média não vai na Playland. A classe média, como o próprio nome diz, é a classe na qual se enquadra a maior parte da população brasileira.

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Óbvio que o custo de vida entra aqui. Existem lugares em que se vive, de maneira bem confortável, com muito menos do que o mínimo necessário para se sobreviver em uma das nossas grandes capitais, mas isso não torna tudo menos assustador. A maior parte da classe média ganha menos de um salário mínimo; 80% da população vive com menos de R$ 1000,00 por mês.

A verdade é que a bolha de privilégios na qual eu vivo não me deixa enxergar a realidade.

 

E você?

Onde você se enquadraria se lhe perguntassem a qual classe você pertence?

Porém, de acordo com a pesquisa do governo, onde você está?

O papo segue nos comentários.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças