Pra algumas pessoas, é quando você se sente atraído por alguém. Pra outras, ver pornô ou foto de celebridade que desperte tesão ja é traição. Há quem não se importe se o parceiro ou parceira beije outra pessoa. Há quem não se importe se houver sexo, desde que não haja afeto. Enfim, a linha que define a traição não é muito clara. Vai variar conforme a pessoa, a época, o país…
Mas uma coisa podemos considerar fato. Existe um sentimento de traição, com o qual é bastante difícil de se lidar.
Quando você percebe que a pessoa com quem construiu uma relação cruza essa barreira, o peito aperta, a boca seca, as pupilas dilatam, falta o ar, mil memórias vêm à cabeça, você sente que perdeu tempo, que foi enganado. A dor costuma ser grande.
Cuidado com a primeira reação
Em situações de grande intensidade, é comum que homens apelem para uma emoção: a raiva.
Sem querer soar óbvio, mas já soando, a raiva, em momentos críticos como esse é o pior inimigo possível. É difícil não sentir isso, afinal, aconteceu algo que você considera uma grande violação da sua confiança. Porém, agir a partir dessa revolução interna inicial pode ser uma péssima decisão.
Muita gente cai nos padrões usuais de ressentimento, histeria e vingança, que só pioram o que já não é simples.
Muito cuidado, em especial, com a ideia de se vingar. Expor a infidelidade aos amigos, colocar vídeos íntimos na internet (revenge porn), partir pra violência física, retribuir na mesma moeda. Nenhuma dessas atitudes é louvável e algumas são crime, passível de processo. Você pode virar caso de polícia se descontrolar-se ao ponto de cometer algum desses atos.
Além disso, é comum que a pessoa traída posteriormente se arrependa de ter explodido, machucando ainda mais a relação.
Quando a raiva chega ao nível do incontrolável, se sobrar apenas um resquício de lucidez, pode ser melhor o distanciamento. Pedir um dia ou dois antes de retomar uma eventual conversa para entender o acontecido.
Não é culpa sua
Passado o baque inicial, é comum cair num padrão de investigação, de tentar entender os por quês. O passo seguinte talvez seja olhar pra si mesmo, sentir-se mal, inadequado, incapaz e, em seguida, culpado pelo que ocorreu.
Não é como se houvesse algo que pudesse ser feito pra impedir. Duas pessoas se atraíram e quiseram flertar, beijar, transar, etc.
Nem com a maior vigilância, com câmeras, com o melhor relacionamento do mundo, nem que fosse mesmo possível suprir todas as necessidades de alguém, nada poderia impedir.
Não há como controlar o curso do desejo de uma outra pessoa.
Isso não significa que a pessoa não te ame
Como pode uma pessoa amar a outra e trair? Sim, é possível.
Você pode ter uma relação exemplar e, ainda assim, sentir desejo e afeto por outras pessoas. Há inúmeros modelos possíveis de relacionamento que envolvem ou não terceiros, nos quais as partes se sentem bem assim. Pode ser particularmente difícil de entender quando tudo o que você aprendeu na vida foi o modelo monogâmico padrão, mas fidelidade não é indicativo nem prova de amor.
A traição é um evento muito mais comum do que se pensa. Uma pesquisa informal (ou seja, sem rigor científico, feita pela internet) realizada pelo instituto Tendencias Digitales e divulgada pelo O Globo, mostra que 70,6% dos homens brasileiros afirmam já ter traído em algum momento da vida. Entre as mulheres, o número é de 56,4%.
Ou seja, muitas pessoas traem e voltam para os seus casamentos, beijam seus filhos e esposa ou marido no final da noite e dormem. Será que dá pra afirmar que essa quantidade enorme de gente deixou de amar seus parceiros no momento em que traíram?
No que diz respeito aos motivos, mil outras necessidades (que não são obrigação do parceiro em suprir) acabam aparecendo na frente da relação. Não, não estou falando de falhas de caráter (que, se for olhar por essa ótica, todos temos, já que ninguém passa a vida incólume de tomar atitudes das quais se arrependa depois), mas de crises de autoestima, inseguranças, tédio e até vontades justas, completamente normais, como a de sentir conexão humana.
Duvida? Segundo o livro “The Truth About Cheating” (a verdade sobre a traição), citado nessa matéria da revista Exame, 92% dos homens entrevistados que traem, não o fazem por que querem sexo, mas por que se sentem distantes das suas esposas e desvalorizados em casa.
O amor não é linear e vem misturado com toda a bagunça interna das pessoas. No que diz respeito às relações, lógica, razão e lucidez são moedas raras.
Pode ser que a relação não acabe
Por mais que você peça um tempo pra colocar as ideias no lugar, vai chegar o momento de conversar e entender o que houve.
Pode ser que a emoção fale muito alto e a conversa se transforme em uma briga, com trocas de ofensas e barraco. Portanto, é útil respirar fundo, evitar agressões desnecessárias e criar um clima favorável ao mínimo de diálogo.
Quando chega essa ocasião, é importante colocar todas as cartas na mesa, abrir os problemas da relação, tentar entender a dinâmica do casal, se há questões não ditas relevantes.
Ainda que haja um imperativo, um discurso popular que diz que homem não deve levar desaforo pra casa e “jamais tem que aceitar ser corno”, um pouco de lucidez cai bem aqui. Como já falamos, as coisas não são preto no branco.
É perfeitamente possível, inclusive, que a relação saia melhor de uma situação assim. Principalmente se essa experiência for usada como escada para o crescimento mútuo e não como motivo para ampliar ainda mais o controle e o medo de se machucar.
Pode ser que, sim, acabe
Às vezes, a traição é mesmo um sinal de que já não é interessante continuar a relação.
Certas questões são muito difíceis de serem corrigidas. Nós não somos máquinas cujas aflições podem ser deletadas com o apertar de um botão. Não é sempre, mas de fato algumas vezes a traição é um sintoma de distanciamento, de que a conexão já não flui, que não há alegria.
E também não há nada de errado com isso.
Há marcas que são fortes demais pra algumas pessoas. Cada um lida com suas dores da sua forma e no seu tempo.
Dói, mas passa
Um estudo liderado por Jaime Confer, da Universidade do Texas em Austin, aponta que a chance de um homem perdoar uma traição da namorada é de 22% se for com outro homem. Porém, esse percentual aumenta para 50% se a traição for com uma mulher.
Ou seja, para um homem, a traição sobe em termos de “humilhação” se envolver um outro homem, tornando mais difícil o perdão.
Isso se justifica facilmente se olharmos para a nossa cultura, que incute nos homens a competitividade e a posse sobre a mulher. Quando envolve um outro cara, não é apenas uma traição, mas uma derrota.
Como se já não fosse ruim o bastante, há ainda uma sensação de humilhação pública, um receio de se ver exposto em uma falha em seu (suposto) papel de homem, de satisfazer e dominar plenamente uma mulher.
Uma grande parte da dor envolve esses sentimentos de vergonha, culpa e posse. Às vezes, mais do que a traição em si.
Agora, esse sofrimento pode parecer terrível. Mas milhares de pessoas já passaram por isso e sobreviveram. Suas vidas seguiram, seja dentro da mesma relação, com todas as dificuldades que isso pode implicar, seja separando (o que também não é fácil).
É verdade que a gente vê exemplos todos os dias de pessoas encarando a traição como um evento devastador, insuperável. A internet, as novelas, filmes e livros, se alimentam de situações de histeria ao redor disso, mas esse drama todo não funciona bem quando estamos falando da vida real. Afinal, aqui, você tem que limpar a sujeira que você faz depois que as brigas acabam.
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