“Todo calouro é burro” é uma das primeiras frases que a gente aprende na faculdade. A burrice do calouro lembra um zumbi andando sem destino.

Para onde você está conduzindo sua vida? Que tipo de zumbi você é? Faça o teste.

TESTE (escolha apenas A ou B e veja o resultado abaixo)

A. “Adoro games, seja X-Box, PS3, computador ou a velharia que ainda tenho em casa… Posso ficar o dia inteiro jogando de boa, só fazendo pausa pra pedir a pizza.”

B. “Quando eu era mais novo eu passava horas jogando, mas hoje em dia não tenho tempo.”

A. “No fim de semana é foda quando meus amigos ficam todos enrolando. E no final a gente acaba fazendo quase nada…”

B. “Trouxe trabalho pra casa nesse fim de semana e cancelei o churras com a galera. Fica pra outra hora.”

A. “Tou matando tempo aqui… curioso pra ver no que esse teste do zumbi vai dar, ahaha… zumbi é da hora…”

B. “Não devia estar lendo esse artigo agora no meio de tanta correria, mas o PdH sempre tem coisa legal. Ok, vou ler rapidinho e na sequência responder os duzentos emails acumulados que tenho aqui.”

Já deu pra sacar a diferença né? Se você tem mais respostas A, seu tipo de zumbi é o clássico, daquele que anda com paletó apodrecido e braços esticados para frente, caminhando devagar e sem destino certo. Quem se identificou mais com as respostas do tipo B é o novo zumbi, do filme Extermínio, que corre loucamente. É o zumbi de resultados.

A explicação dos dois tipos de zumbi fica para o final do texto que segue.

A época do calouro burro

Recebi um email bacana de um leitor curioso sobre o meu estilo de vida, minha carreira, e sobre como eu acumulei experiências internacionais. Decidi então contar um pouco da minha história e algumas passagens que me ajudaram a ter um lifestyle PdH.

Quando tinha meus 18 anos, estava na faculdade de Direito e ainda naquela fase de não pensar com seriedade o que se quer da vida. Com certeza deve haver um termo técnico ou psiquiátrico para essa fase, que eu chamarei aqui de infância universitária, ou “calouro burro”, como queiram.

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Infante universitário em seu rito de passagem

Numa noite de verão, vendo filme na república de três grandes brothers, que ficava estrategicamente localizada nas imediações da Rua Augusta, em meio a criativos devaneios sobre a vida, o assunto aleatoriamente chegou em carreira profissional.

Nós, como bons calouros burros (ou melhor, infantes universitários), começamos a compartilhar o nosso ideal de carreira. Um sujeito queria ser diplomata. Outros três queriam ser advogados. Quando chegou minha vez, disse que queria ser juiz, o que gerou comoção geral.

“Juiz??”, me perguntou uma nobre amiga de Ribeirão Preto, sem acreditar no que tinha ouvido. Quando respondi que sim, descobri que eu não tinha grande convicção muito menos sabia justificar a resposta. Acho que a minha mãe devia ter um dia comentado que era uma carreira boa, com estabilidade, algo assim.

A grande verdade é que eu não sabia patavina do que queria.

Na época de colégio, minha principal ocupação era ler gibi da Marvel, aprender a calcular o Log (conceito que até hoje não assimilei) e assistir um cineminha na quarta feira (50% de redução acumulada com a carteirinha, pelo preço final de 25%). Era um projetinho de gente, curtindo meus últimos momentos de mimo.

Só um esclarecimento: sou muito grato pelo suporte de minha família, de modo que não precisei trabalhar enquanto adolescente, o que é a realidade da maior parte das famílias brasileiras. A vantagem de não precisar trabalhar é que podia me concentrar totalmente nos estudos. O outro lado da moeda é que isso postergou o meu contato com a realidade da vida, contribuindo para minha inocente infância universitária.

Voltando à minha história. Para aliviar o desconforto de toda a atenção da sala de colegas me julgando, eu devolvi a pergunta aos amigos que com tanto entusiasmo desejavam ser advogados. Qual era o motivo da escolha?

Eles deram suas respostas e me convenceram. Em poucos meses comecei meu estágio num prestigioso e tradicional escritório carioca. Foi divertido e aprendi muita coisa importante, que ajudou a definir os próximos passos. Mas falar dos detalhes dessa carreira não é o objetivo aqui.

O que eu quero compartilhar com vocês é o que percebo quando lembro dessa história:

1. Muitas vezes nós temos objetivos ou sonhos que não são claros

No meu caso, era a ilusão de que seguiria a carreira de juiz. Como nunca tinha pensado seriamente no assunto, era uma meta mal formulada e cedo ou tarde eu notaria que não era a minha praia.

Além disso, como era um objetivo obscuro, eu dificilmente encontraria a motivação e disciplina para estudar e me preparar para o difícil exame adiante. O fracasso era garantido. Eu dificilmente conseguiria. E, se conseguisse, não era isso o que queria!

2. Amigos de qualidade ajudam a questionar esses objetivos incertos

A turma da facu era nota dez. E esse círculo social de qualidade ajudou como um catalisador para que eu encontrasse o caminho mais alinhado com minha personalidade e propósito. Eu me identificava muito com essa turma, e admirava a paixão que eles tinham pelos seus projetos de carreira. Eles me inspiraram e me criticaram quando viam que eu estava deixando de usar meu potencial máximo.

Mas eu sempre fui muito eclético e tive amigos de círculos bastante diferentes. Alguns dos caras mais engraçados que eu conheço eram (e ainda são) boêmios que não querem de modo algum se render ao capitalismo e estampar sua foto em um crachá corporativo.

Se essa galera rebelde fosse a minha única turma, o que aconteceria?

Certamente não seria impulsionado a buscar o meu melhor potencial. E, se em momento de ousadia, eu tentasse compartilhar meus projetos maiores, seria tomado como louco sonhador ou simplesmente ignorado. E isso não aconteceria por maldade intencional de nenhum desses amigos mais zoeiros.

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Porém, quando existe um grupinho de gente com poucas ambições e um dos membros começa a buscar agitar as coisas, todos os demais ficam em desconforto. É normal, uma forma de proteção do ego, geralmente sem malícia.

E, enfim, chego aos zumbis!

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Novos tempos: rock agora é música de emo, McDonald’s vende salada e zumbis correm mais que o Ben Johnson chupando balinha

3. Essa incerteza nos faz levar a vida como zumbis

Se “todo calouro é burro”, eu diria que ser calouro não é privilégio de quem está no primeiro ano da faculdade. Eu mesmo me encontro, incontáveis vezes na minha vida adulta, realizando atividades ligadas a objetivos nada a ver. Comprando coisas que não preciso, com dinheiro que não tenho, para agradar pessoas que não gosto, sem chegar a lugar algum. Manja?

Uma hora parei e dei uma filtrada, eliminando tudo o que não tinha serventia para minha vida e parei de tocar as rotinas inúteis que me atrasavam. Ver televisão é um exemplo.

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Família zumbi em habitat natural

Essa é a vida reativa, de ir tocando com a barriga durante anos e anos, sem sair do lugar ou caminhando na direção errada. De viver como um zumbi.

Os meio-mortos do clássico Night of Living Dead inspiraram todos os remixes, mashups e cópias descaradas que se seguiram. Uma coisa era comum: zumbi sempre foi lerdo.

Lerdo como quando eu respondi para a turma que queria ser juiz, em minha inocente e vagarosa época de calouro burro.

Eu achava que só nessa época da infância universitária é que tinha gente como eu, zumbis lerdos murmurando objetivos incertos, sem saber o que querer da vida. É fácil entender a referência aos comedores de miolos no caso de gente lerda que não sabe o que quer e não faz nada de útil. Nada de novo aqui.

Mas o que me surpreende é ver tanta gente hoje entre 25 a 35 anos, em seu pleno potencial profissional, correndo como louca e super ocupada… fazendo coisas que não querem! São os novos zumbis, o Tipo B do teste acima.

Depois de tantos filmes de zumbis molengas gritando “miolos” e tropeçando no caminho, o filme Extermínio (28 Days Later) inovou e trouxe zumbis que correm. Igual os apressados corporativos que não têm horário de almoço, respondendo emails pelo “crackberry” durante o fim de semana, correndo de um lugar a outro como galinha sem cabeça.

Você convida um desses para algo que realmente vale a pena. Tipo um reencontro de amigos. Um show de graça no parque. Uma festinha, ou até um almoço ou um café. Curtir alguns momentos de qualidade de vida. E a resposta é “Putz, queria muito ir, mas to numa correria aqui!”.

Correria pra que, meus queridos? Pra inutilmente tentar terminar algo que nunca devia ter começado? Na era da Internet, tweets de 140 letras, produtividade máxima e multitarefa, zumbi tem é de correr mesmo.

“Não gostei de ser chamado de zumbi. Quero ter direcionamento na vida.”

Assumir responsabilidade sobre seu destino não é moleza. Se você falhar e tiver uma vida miserável, a culpa é toda sua. Não adianta querer colocar a culpa no presidente, na falta de castidade da Juliana Paes, no Windows que deu pau, na sua mãe controladora ou no seu pai ausente.

Se resolver tomar a pílula vermelha e acordar para a vida, a recompensa é grande ao escolher o futuro que traz mais alegria. Quem é que não quer montar o próprio estilo de vida, ao invés de ter que engolir o que os outros oferecem?

Vou compartilhar algo que funcionou para mim e que talvez tenha serventia para quem não conhece o conceito de inevitabilidade.

Inevitabilidade: modo de uso

Se eu almoçar todos os dias no McDonald’s, o resultado inevitável será distúrbios de humor, disfunção sexual, problemas de fígado e aumento significativo de peso.

O que a inevitabilidade ensina é que, sabendo alterar as condições ambientais e comportamentais de modo ideal, o resultado desejado é inevitável.

Pense no que você fez durante o dia de ontem, desde o momento que acordou até a hora de dormir. Repita a visualização para analisar sua semana anterior e, se possível, o mês. Isso dá uma noção das rotinas que se repetem na sua vida. Qual é o resultado inevitável de continuar nesse caminho? Seria parecido com o estilo de vida do seu chefe? Você gostaria de ter um futuro assim?

Outra história minha. Eu trabalhei durante um mês como escrevente concursado. Não precisei de duas semanas para perceber que o resultado inevitável de continuar naquele ambiente era ficar acomodado e parar de crescer. Pedi exoneração rapidinho – se tivesse mais maturidade eu nem mesmo teria prestado o concurso para começo de conversa!

Se você identificou situações semelhantes na sua rotina que têm como resultado inevitável algo que está fora dos objetivos maiores de vida, crie imediatamente uma data limite para se libertar dessa condição.

No lugar, desenvolva uma rotina que inevitavelmente o leve para onde deseja chegar.

P.S. Uma explicação necessária. Tenho inúmeros amigos magistrados e admiro e respeito muito sua escolha profissional. E o motivo é que essas são pessoas generosas que dedicam seu talento em benefício da nossa nação. A incredulidade dos colegas de faculdade, na época, foi que eles sempre achavam que eu tinha um perfil mais voltado ao empreendedorismo, e não à carreira pública. Respect.

P.S.2. O Augusto Campos já tinha escrito um post sobre zumbis corporativos, que eu só tive o prazer de ler após finalizar o preparo deste texto. Leia no Efetividade.net que tem foco em carreira.

Victor Lee

É o embaixador europeu da PapodeHomem e está sempre de malas prontas para ir onde tem mulher bonita. É autor do <a>"From Victor With Love - Diário"</a>."