Numa animação típica de ano novo, inspirados e felizes, montamos um planejamento. Imprevistos acontecerão, inevitavelmente. Vem o primeiro e, com ele, um pouco da animação vai embora. Mas seguimos. Na semana seguinte, mais dois escorregões, dois fatos não previstos, que não precisavam estar ali. Chega o mau humor e a frustração. Dias depois, o imprevisto derradeiro. Desencanamos do planejamento, quando mais precisávamos dele.

Todos temos um limiar interno. Um balde responsável por armazenar imprevistos e fatos que acontecem contra nossa vontade. Quando esse repositório fica cheio, nosso potencial de foco e atenção míngua, nós "largamos mão" do projeto, seja ele qual for. Basta a quantidade certa de eventos não desejados e pronto, estamos à deriva novamente.

Quão cansado precisamos estar para desencanarmos de uma corrida? Quantos chocolates precisamos comer para descartar o regime que começamos na última segunda-feira? Quantos deslizes nosso parceiro pode cometer, antes que o acordo em prol de um relacionamento melhor firmado na última discussão seja deixado para lá?

Não suportamos o fato de persistir sem resultados e, ao invés de encarar esse fardo, nos apegamos desesperadoramente a essa justificativa salvadora: não deu certo porque optei por deixar para lá. Mentira.

Se vamos mal em uma prova e não estudamos, tudo bem. Era só ter estudado. Mas e se tivéssemos estudado e, mesmo assim, o resultado final fosse ruim? É um mecanismo bem rebuscado de auto-sabotagem, que opera em níveis bem sutis, em planos de qualquer tipo.

Depois da desistência vem o período de ressaca. Por umas boas semanas, seguimos ao léu. Por fim, brota novamente uma chama de disposição. Sentamos e montamos uma nova estratégia, um novo planejamento, e assim o ciclo segue.

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Já que os imprevistos e adversidades continuarão ocorrendo, se quisermos realmente tirar proveito do planejamento, é melhor que a gente se conforme com isso. Não adianta gastar horas e horas tentando prever como as situações vão se desdobrar. Cedo ou tarde vamos errar.

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Além disso, não é grande coisa começar um planejamento financeiro na segunda e não resistir ao shopping na quarta-feira seguinte. O problema é esse deslize ser tão dolorido, mas tão dolorido, ao ponto de fazer com que a vontade de avançar desapareça.

Precisamos de um misto de resiliência e paciência, com as situações e com nós mesmos.

São dois pontos a serem atacados. O primeiro vem na hora de construir o planejamento. Ele precisa ter margens, espaços para vacilos e metas alcançáveis e realistas. Caso contrário, cada pequeno erro vai trazer consigo um grande sentimento de frustração. O segundo se relaciona diretamente com a quantidade de imprevistos que conseguimos lidar sem sentir uma vontade incontrolável de jogar tudo para o alto.

Mais resistentes, com esse balde maior, permanecemos estáveis. A tarde de compras vai ocorrer, num dia de cansaço emocional, mas ela não vai nos tirar do prumo em definitivo. Relaxamos, respiramos e seguimos.

Parece filosofia barata de filme americano, mas acho que o Rocky Balboa estava certo. Ao contrário do que parece, não é quem bate mais forte que vai mais longe. É quem consegue apanhar sem cair.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças