Se corporações fossem pessoas, seriam psicopatas. Não sou eu o dono dessa afirmação, ela foi brilhantemente estruturada no documentário The Corporation, um dos mais essenciais de nosso tempo.
Ex-CEO da Nextel e da Sodexho, Sergio Chaia nada contra a corrente. Melhor, aprendeu a nadar.
Executivo com passagens por Johnson & Johnson, Makro, Pzifer, Pepsi, Pizza Hut, KFC, Sodexo e Nextel; hoje mentor de empresários, Chaia nos ofereceu uma conversa além dos números e mantras de sucesso.
Com postura aberta, abordou temas delicados: ambições, ego, família, frustrações, aprendizados, legado e concessões feitas ao longo da carreira. Não conversamos com um “super-homem”, era uma pessoa. Como eu e você.
Quando jovem com 20 e poucos, meteu na cabeça se tornar um presidente de multinacional antes dos 40 e conquistou o que queria. Mas foi obrigado a lidar com outros dissabores ao longo do caminho. Senhor de uma trajetória meteórica rumo à C-suite, amargou situações que só pode conhecer quem tenha muitos anos de paletó.
Aos interessados em se aprofundar, recomendo seu livro Será que é possível?, no qual conta em mais detalhes histórias e resultados na busca por harmonia entre vida pessoal, profissional e espiritual.
Agradecemos ao Sergio pela ótima prosa e ficamos na torcida para encontrar mais executivos e CEOs corajosos, dispostos a pisar fora da zona de conforto em papos como esse.
Algumas boas falas da conversa:
É muito importante resiliência, capacidade de superar frustrações, vencer os medos, aprender com os erros. Eu acredito que essas são competências cultiváveis, você precisa praticá-las.
Chega uma hora em que sua vida pessoal se desequilibra totalmente. Quando você sai do trabalho, fica aquela sensação de culpa, de que você não realizou tudo aquilo que gostaria de ter realizado. E quando você está em casa fica aquela sensação de que está dedicando mais tempo do que deveria em prol das coisas do trabalho. Então a sensação de culpa é dupla.
Num determinado momento da minha vida, vi que meu modelo de liderança, que sempre procurava tirar das pessoas em prol dos meus resultados e dos da empresa, era um modelo que me afastava do reconhecimento. Então, em determinada fase, as pessoas não queriam almoçar comigo. Quem quer almoçar com um cara que só fala de trabalho?
As pessoas falam que elas raramente viram um profissional tão exigente como eu. O meu papel é fazer com que elas superem seus próprios limites: provocando, empurrando, motivando, chacoalhando. Se entrego meu melhor pra você, eu só posso requisitar de você o seu melhor.
Quando eu olho a minha trajetória, vejo que sempre coloquei planos, metas e fui atingindo e superando elas. Isso me deu uma falsa impressão de que de alguma forma, eu poderia controlar o meu mundo profissional. Então isso [afastamento da Nextel] me provou que eu estava muito errado. É impossível você controlar o mundo. E, junto com essa surpresa, vem a frustração.
Assumir uma postura de vítima não me leva a lugar nenhum, muito pelo contrário. O que eu tenho é que masterizar, mais do que aprender, essa lição que o mundo deu pra mim.
Minha esposa, também presidente de empresa, foi minha principal “coacher” nos meus momentos difíceis e vice-versa.
Gostaria de ser lembrado como alguém que transformou e foi transformado pelas pessoas com quem conviveu nessa vida.
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