Nota editorial: esse é o terceiro texto do percurso Admirável Xaveco Novo. Veja os dois primeiros aqui. A ideia surgiu da seguinte pergunta que nos fazíamos: como xavecar em tempos de igualdade de gênero? Convidamos cinco mulheres nas quais confiamos pra produzirem 4 textos e um bate-papo em vídeo – com uma outra lógica, que aspira cultivar pontes entre homens e mulheres. 😉
* * *
Ainda hoje, a criação de homens e mulheres é muito diferente. Em alguns temas em especial mais que em outros. Um deles sempre me deixou muito curiosa: o xaveco.
Quando a menina chega na adolescência escuta milhares de indicações do que deve e não deve fazer.
Já o menino é apenas incentivado a começar sua vida amorosa sem pensar direito nela ou com conselhos do tio que mais fala besteira na família. É como se largassem o moleque na floresta e dissessem: se vira.
Eu sempre via os meninos tentando se virar, observando quem estava por perto, cada um com sua referência de masculinidade e de sucesso com as mulheres.
Um seguia o amigo mais popular, o outro tentava o time de futebol e tinha o que saia com o primo mais velho e malandrão. Mas parece que ninguém nunca disse pra esses meninos que ouvir as garotas seria uma boa ideia, além da maneira mais simples de se sair bem na paquera – muito pelo contrário, normalmente ensinam aos garotos que a gente não sabe de muita coisa.
E aí, o grande desencontro: homens ensinados a caçar e mulheres ensinadas a não se deixar atingir, cada um de um lado, num jogo sem fim.
É quase óbvio que não daria certo.
Pensando nisso, em apagar o meio de campo e misturar todos os jogadores no mesmo time, resolvemos fazer o seguinte: juntamos os melhores e piores xavecos que nós e nossas amigas já ouviram por aí e analisamos eles aqui, pra tentar contar pros meninos porque algumas abordagens funcionam tão bem com as garotas e outras nem tanto. Hora das meninas dizerem pros meninos um pouco do que funciona ou não funciona, com respeito e carinho.
Bandeira verde: 10 jeitos bacanas de flertar
Antes de começar, duas notas importantíssimas pra ter sempre em mente:
1. Muitos homens se sentem inconformados com mulheres que, apesar de dizerem que gostam disso e daquilo na hora do xaveco, acabam indo embora mesmo é com o cara mais atraente, bem vestido e seguro de si. A verdade é que todos nós, homens e mulheres, queremos encontrar pessoas que nos atraiam. Isso realmente conta. E tanto um quanto outro podem sim escolher se interessar mais por isso.
Mas a conexão física é responsável apenas por parte dessa atração, que brota também por vários outros detalhes: o jeito de falar, o sorriso, o olhar, o papo, a linguagem corporal, a confiança, enfim, a presença como um todo. E – a gente jura – uma boa conversa muitas vezes fala bem mais alto que uma aparência física arrebatadora.
Em especial quando procuramos algo além de uma só noite.
2. É claro que uma abordagem inicial bacana ajuda um monte a desenrolar o papo e fazer a conexão. Mas não precisa de ansiedade e desespero. Se o tiro saiu pela culatra e a primeira aproximação não rolou como esperado, tudo bem.
O importante é ter presença de espírito e confiança pra fazer piada do que saiu torto, rir, se desculpar se for o caso, começar de novo e costurar um bom papo.
Somos pessoas e estamos todos tentando, certo?
De um jeito divertido
1.
“Ele é de Teresina e me abordou dizendo: “Somos vizinhos no mapa do Brasil! Já é alguma coisa em comum, né?”.
(Eu sou de São Luís e nós nos conhecemos no Tinder, minha descrição era: “de São Luís, vivendo em SP”).”
Por que deu certo? O cara encontrou um sentimento fortíssimo e comum aos dois: saudade de casa. Começar um papo com algo que vai direto no nosso coração é já iniciar o jogo com uns bons pontos extras.
2.
“O cara chegou perto de mim e falou: olha só como eu danço bem. E começou a dançar mega esquisito, de propósito mesmo. Rachei o bico e começamos a conversar. Ele era mega engraçado e eu peguei.”
Dançar esquisito. Todo mundo adora.
Por que deu certo? Tem gente que gosta de fazer o outro rir. E a maior parte das pessoas gosta de rir. Ele encontrou uma maneira de começar um assunto sem precisar falar do tempo ou ser invasivo.
Um papo que leva a algo mais
3.
“Teve um cara que chegou perguntando se eu não ia cantar (era um karaokê) e dali emendamos uma conversa que durou até o dia seguinte. Não entendo a dificuldade das pessoas em compreender que não precisa de cantada pra chegar em alguém. É só puxar assunto, se rolar, ótimo. Se não, vida que segue.”
Por que deu certo? Todos os envolvidos entenderam a mesma coisa: não tem nenhum problema em não rolar nada além do papo. A gente também fica frustrada quando acha que vai rolar pelo menos um beijinho e ficamos só na conversa, mas insistir, desrespeitar o espaço do outro e ficar com raiva só nos torna chatas e inconvenientes. Com os meninos, é igual.
O desafio para todos nós é o mesmo: aprender a lidar com a quebra de expectativas, com tranquilidade e leveza.
4.
“Ao fim de uma conversa casual num tour aqui na minha cidade: “Você tem algo planejado agora, tá livre? Se quiser continuar passeando posso te levar nos lugares que eu acho legais aqui perto e a gente se conhece mais.”
Por que deu certo? Uma pergunta sincera e respeitosa. Deu espaço pra menina dizer sim, ou não, obrigada. Também, a oferta tinha tudo a ver com o contexto do passeio. Mais simples impossível!
5.
“Eu estava num bar, tranquila, com amigos. O cara chegou falando sobre a minha camisa xadrez: “Meu, faz tempo que quero encontrar uma camisa assim, xadrez, sem ser escandalosa nem coxinha nem hipster. A sua é de brechó?.” A gente seguiu conversando e trocando ideia sobre lugares em SP pra comprar roupas e acessórios usados ou de comércio justo. Achamos um super interesse em comum e ficamos juntos a noite toda.
Por que deu certo? Primeiro de tudo, ele fez um elogio sutil e interessado. Se mostrou observador sem escancarar um elogio sobre a aparência dela, que provavelmente não ia levar a lugar algum. Trouxe um assunto que era de real interesse dele e abriu espaço pra um papo bem mais longo. Também, não se preocupou com estereótipos e aparências: todo mundo pode gostar de se vestir bem e de moda, né? Não existe gênero pra isso.
Com o espaço que ela precisa
6.
“Eu tava sentada na praia, caiu uma bola do meu lado e eu joguei de volta. O moço me agradeceu. Quando acabou o jogo, ele veio me agradecer de novo, falou que gostou muito do meu sorriso e perguntou se eu topava tomar um sorvete. Fiquei com ele o verão inteiro.”
Por que deu certo? Porque ele foi gentil. E a gente ama gentileza – e sorvete. O cara chegou numa boa, sendo educado e tratando a menina como uma pessoa, não como um corpo de biquini.
Também, é sempre melhor ser sutil e falar do sorriso, por exemplo, do que elogiar a aparência de um modo mais grosseiro mandando na lata um: “você é linda” – principalmente em situações onde corpos estão expostos, como na praia, e muitas pessoas se sentem um bocado constrangidas com a quantidade de pele à mostra.
7.
“Eu estava numa balada, um pouco cansada, mas me divertindo com amigas. Um cara, depois de alguns olhares, se aproximou de mim e disse: tô te olhando faz tempo, mas não consegui te entender muito bem, te decifrar. Te achei com uma cara de brava, cansada. É isso mesmo?” Sorri e seguimos conversando. Achei honesto e atencioso.”
Por que deu certo? Ele mostrou que estava observando ela realmente. Também, não conseguiu bem decifrar se ela estava aberta ou fechada, e mesmo decidindo se aproximar, fez com honestidade, sendo verdadeiro sobre a confusão de sinais.
Desse jeito, se conectou com a moça e também deu a oportunidade de ela não se engajar na conversa caso não estivesse à vontade. Simples e direto.
Encontrar momentos e brechas
8.
“Eu flertava com um moço no ônibus, ele trabalhava na mesma rua na qual eu trabalhava. Todo dia pegávamos o ônibus juntos no mesmo lugar e descíamos no mesmo lugar. Sempre sem trocar uma palavra, no mais aquele “oi” balançando a cabeça, sabe? Um dia estava chovendo e eu não tinha guarda chuva. E quando desci do ônibus – ele sempre descia primeiro – ele estava me esperando na frente da porta, com o guarda chuva para dividir comigo. Achei fofo.”
Por que deu certo? Bobeou, a gente te dá um sinal. Fazemos isso o tempo todo. A gente sorri de um jeito diferente, quer estar perto, se faz ser notada. O moço soube receber os sinais e agiu com cuidado e respeito, na hora certa.
9.
“Eu trabalhava em um escritório e estava em uma operação longa com outros advogados. Um deles, mais sênior que eu. Parecíamos os dois estar interessados um no outro, mas a situação era delicada por ser ambiente de trabalho e pela posição dele com relação a minha.
Depois de algum tempo, ele perguntou se eu precisava de uma carona. No caminho, fez perguntas sobre a minha vida, se mostrou interessado, perguntou se eu namorava, como estava me sentindo no trabalho. Logo depois marcamos um encontro. Namoramos por 3 anos.”
Por que deu certo? Precisa fala mais? Trabalho é um local delicado pras meninas, principalmente. Rola muito julgamento e falação. O moço recebeu os sinais sutis e mesmo assim teve muito cuidado.
Esperou um momento propício e foi devagar, tentando entender o que estava se passando com ela. Cuidado, respeito e atenção. O combo perfeito.
Quando já tem intimidade
10.
“Eu gosto de todas as suas características que os outros não gostam.”
Por que deu certo? Tem coisa mais fofa do que alguém que gosta da gente como a gente é? Elogios sobre personalidade e características da moça tendem a ser bem vistas, porque passam a impressão de que você já andou observando, pensando sobre o assunto, e que ela já povo a sua mente há algum tempo.
Bandeira vermelha: 10 abordagens pra não tentar em casa (nem na rua, balada, bar, etc.)
11.
“Estava no hospital, tensa, aguardando o resultado de um exame e um cara tentou acertar o meu nome pela lista de nomes que apareceram no Bluetooth dele e puxar conversa.”
Por que deu errado? Faltou sensibilidade. Ela não estava demonstrando interesse, sua postura era de alguém nervosa e fechada. E pra piorar rolou um bingo dos nomes – tem como alguém se sentir menos especial do que com esse combo de falta de cuidado?
12.
“Um cara que tinha conhecido pela net e estava trocando mensagens, perguntou se no dia que iríamos nos ver, se eu estaria “com o corpo em forma”, e que ele iria adorar ver eu mudar pra ele.”
Por que deu errado? Faltou toda a sensibilidade do mundo, né? Não adianta a gente querer transformar as pessoas. Elas são como são e a gente se aproxima porque quer. Nem toda mulher gorda quer emagrecer. E mais: dizer pra ela fazer isso pra você não faz o menor sentido.
13.
“O pior foi, com certeza, um cara dizer que tinha que ficar com ele porque éramos “irmãos de cor”.
Por que deu errado? Apelou. Mulheres negras não ficam apenas com caras negros. E mesmo que se só ficassem, ela não teria obrigação de ficar com todos os caras negros que quisessem ficar com ela por uma questão de irmandade racial, né?
Ele tentou jogar com uma questão delicada em comum, de um jeito bem errado.
14.
“Eu estava sozinha em um bar (coisa que gosto muito de fazer) e o cara veio com aquele papinho de “nossa, tão bonita e sozinha”. Deixei claro que estava sozinha porque queria estar sozinha e tomar minha cerveja tranquila e ele soltou a pérola “Você deve ser muito chata mesmo pra não ter nenhum amigo pra tomar uma”.
Por que deu errado? Existe um entendimento bem errado de que mulheres sozinhas ou estão tristes, não tem ninguém, ou estão esperando o namorado.
O mesmo julgamento não acontece quando vemos rapazes sozinhos em diversas situações corriqueiras. Então, chegar com perguntas relacionadas à menina estar sem companhia tem a ver com não entender a nossa liberdade e autonomia.
Depois da menina ser sincera dizendo que apenas queria ficar sozinha, ele ficou irritado, não respeitou o espaço dela e resolveu ser grosseiro de novo. Aqui, um ponto importante: não levar todas as negativas de um jeito pessoal.
15.
“Fui pagar a conta do bar com o cara que estava saindo e escutei “ihhh, você é dessas feministas que querem dividir conta?”. Nunca mais vi na vida.”
Por que deu errado? O mundo mudou! Dividam a conta numa boa, amigos! E não usem feminista como uma ofensa: as pessoas mais legais por aí buscam igualdade entre homens e mulheres, e isso é uma coisa boa.
16.
“Um gringo me disse: “Oi, você é muito linda. Eu sei que você gostaria de ter um passaporte europeu.”
Por que deu errado? Não! Nem toda brasileira quer um passaporte europeu.
Nem toda mulher é interesseira.
Nem toda garota só fica com homens que têm carro.
Existem algumas que fazem tudo isso? Claro! Mas não é uma regra e é bem ofensivo, pra homens e mulheres. Nos coloca em espaços ruins de estereótipos e dificulta bastante construirmos boas relações.
17.
“O pior foi um cara que disse que eu era a menina mais bonita do rolê, então ele estava cruzando os dedos pra eu ser inteligente, mas não tinha muita esperança (oi?). E que eu deveria “provar” pra ele que era interessante (oi?).”
Por que deu errado? Mulheres podem ser lindas, inteligentes, bem-sucedidas e ainda ótimas de cama. Quando o cara diz algo assim indica que acredita em esterótipos (bonita e burra / inteligente e feia).
Pra piorar, ele pediu que ela provasse pra ele que era interessante, como se ele fosse o foco, o mais importante, superior na dinâmica. Diminuiu a menina de cara. Não dá, né?
18.
“O cara, de pelo menos 25 anos, mandou o amigo, dizer que ele tinha me achado interessante.
Aos 15 anos isso até funciona, mas depois dos 20 me parece muita falta de coragem mandar o amigo falar por você.”
Por que deu errado? Porque não estamos mais na escola. Se você não tem coragem de se aproximar da garota, como vai ter coragem de beijá-la e depois olhar na cara dela? Receber uma negativa faz parte da vida, e aliás, acontece com as meninas o tempo todo.
É melhor lidar com uma, com tranquilidade, do que pedir pra alguém levar o recado. Corre o grave risco de ser entendido como imaturo.
19.
“Teve uma vez que um gringo veio me abordar com aquela técnica de pick up artist, onde eles elogiam mas criticam ao mesmo tempo, sabe? Acho que chama negging.
Estávamos os dois no balcão de um bar pra pedir uma cerveja, tava meio cheio. Ele sorriu, pegou o cartão da minha mão, perguntou o que eu queria, pediu pro bartender e me entregou a cerveja e o cartão de volta, e falou “até que vc é bonita pra uma mulher tão baixinha” (detalhe que ele não era super alto, era bem normal). Eu peguei a cerveja, agradeci e disse “bonita não, querido, eu sou LINDA mesmo”, mandei um beijinho por cima do ombro e fui embora.”
Por que deu errado? Porque ninguém, mulher ou homem, quer ser colocado para baixo. Se que elogiar, elogie e mantenha o elogio. Todo mundo gosta disso.
E esqueça as técnicas esquizofrênicas de manuais que tratam as meninas como bichos malucos. Somos muito parecidas com vocês. Um bom exercício é: antes de abordar, pense se gostaria de ser abordado daquele modo.
20.
“O cara me pegou pelo braço, disse que ia me registrar no cartório como dele e tentou me agarrar.”
Por que deu errado? Porque isso é abuso, né? Imagina que desesperador uma pessoa tentar te arrastar por aí dizendo algo tão besta? Gostamos de atitude, não de homens das cavernas.
Hora da prática compartilhada!
E você? Que abordagem já fez e que funcionou muito bem? Conta pra gente nos comentários, em detalhes.
E que xaveco vocês já receberam que não foi legal, e por que?
Vamos, homens e mulheres, conversar sobre isso. Com certeza, se deixarmos de lado o que nos dizem que é certo e nos encararmos de frente, com abertura e sinceridade, vai ser bem mais fácil conseguirmos o que queremos: ficar juntos.
* * *
Para seguir a leitura, veja os dois artigos anteriores – “Esqueça tudo que você aprendeu sobre xaveco”, “Como podemos nos comunicar (e paquerar) melhor” – do percurso aqui.
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