o que chamo de “as prisões” são sempre prisões cognitivas: armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos, escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas.
portanto, poucas prisões podem ser mais unânimes (especialmente no ocidente) do que a ilusão de que, dentro de cada uma de nós, existiria uma essência maior do que a soma de nossas partes: o Eu.
* * *
não existe essência
eu, se perder um braço, continuaria sendo eu, só que sem um braço.
mas, e se tivesse estudado engenharia ou ido morar na austrália, eu teria sido eu, apenas com uma vida diferente?
se meus pais tivessem feito sexo cinco minutos depois, eu teria sido eu?
se tivesse nascido na década seguinte, em manaus, loiro e geminiano, ou na década anterior, em porto alegre, ruivo e leonino, eu teria sido eu?
em que momento haveria tantas e mais tantas condições fortuitas e circunstâncias contingentes que eu deixaria de ser eu?
* * *
uma caneta bic, se você tira a tampa, é uma caneta sem tampa, de um lado, e uma tampa, do outro.
mas, se abro o corpo da caneta e tiro a carga, a caneta ainda é uma caneta?
agora, tenho três objetos: (1) uma tampa (2) uma carga, com ponta, e (3) um tubo transparente e oco.
qual desses três objetos é a caneta? nenhum deles? todos eles?
em que momento passaram a ser uma caneta? em que momento deixaram de ser?
onde está a essência da caneta?
* * *
se digo que uma mesa existe concretamente, mas é vazia de essência intrínseca, o que quero dizer é que sua existência enquanto objeto não depende de si mesma.
se não tivéssemos desenvolvido o conceito de “móvel” e, dentro dele, de “mesa”, o que nos parece um único objeto poderia igualmente e corretamente ser descrito como quatro pedaços de pau espetados numa tábua de madeira.
sem a ideia prévia de “mesa”, nem faria sentido descrever esse ajuntamento temporário de pedaços de madeira como um “objeto” uno, ao invés de apenas um breve instantâneo na história de algumas árvores, antes arrumadas assim, depois organizadas assado.
para a mesa existir enquanto “mesa”, ela depende das partes que a compõe (pés, tábua, etc), de suas causas imediatas e distantes (alguém decidiu fazê-la, alguém a fez, etc), de seu material físico (madeira, metal, etc), de sua idealização enquanto conceito (a ideia de mesa), etc.
sem essas condições contingentes, não poderia existir o objeto “mesa”.
ou seja, a mesa não é uma entidade dotada de existência própria e intrínseca, mas apenas uma fatia arbitrária do espaço-tempo que escolhemos chamar por um termo convencionado (“mesa”).
o que vale para objetos manufaturados, como a mesa, vale igualmente para seres vivos, tanto a árvore de onde veio sua madeira, quanto eu e você.
* * *
não existe o Eu
não é que eu, aqui, pessoa concreta, de carne e osso, escrevendo essas linhas nesse exato minuto, e você aí, lendo essas linhas nesse exato minuto, não tenhamos existência física, concreta, real.
(afinal, eu sinto, eu sei que estou aqui e você sente, você sabe que está aí.)
mas essa entidade que chamo de Eu — que me parece tão maior e mais transcendental do que apenas a mera soma de “meus” membros, “meu” corpo, “minha” consciência, “meu” nome — é apenas um conceito que não possui existência permanente e autônoma, uma coleção de características contingentes e fortuitas sem nenhum tipo de essência intrínseca. assim como a mesa, assim como a caneta.
tudo é contingente (ou seja, tudo é fortuito e depende de outras coisas):
sou uma pessoa única não porque tenho uma pretensa essência metafísica (o Eu!) qualitativamente diferente da essência metafísica das outras entidades que não são Eu, mas sim porque surgi a partir de condições únicas e de circunstâncias irrepetíveis.
se o meu Eu tivesse uma essência, minha natureza nunca poderia mudar: o fato de o meu Eu ser vazio de existência intrínseca é justamente o que me permite a liberdade de me reconstruir, recriar, reinventar.
* * *
só existe o universo
acreditamos que, do lado de lá dessa camada de pele, existe o universo, o abacate e a calça boca-de-sino, dom casmurro e o fusca, o planeta júpiter e o gregório duvivier; e do lado de cá dessa camada de pele, existe o Eu, minha identidade e minha reputação, coisas que preciso evitar que sejam rejeitadas e agredidas, coisas que preciso proteger e preservar.
mas é tudo ilusão, uma ilusão insustentável, uma ilusão que nos causa imensa dor sempre que se desfaz, desaba, despenca, desaparece.
não existe o Eu aqui e o universo ali.
só existe o universo, e tudo aquilo que o compõe: as galáxias e as baleias, o hidrogênio e o samba do avião, a eliane brum e uma torta de maçã, a fossa das marianas e Eu.
* * *
não existe gosto pessoal
um dia, em uma conversa sobre racismo, um menino branco me perguntou:
“alex, eu nunca consegui sentir tesão ou achar bonitas mulheres negras. isso significa que sou racista?”
significa, pensei. mas só porque somos todas outrofóbicas nessa sociedade que nos infecta com sua outrofobia desde o berço.
(como me confessou uma amiga feminista militante: “sei que a obrigatoriedade de depilar é uma imposição da sociedade machista patriarcal falocêntrica, etc etc, mas eu simplesmente não consigo me sentir bonita, desejável, atraente — não consigo me amar! — se estou com pelo nas axilas!”)
então, para não entrar em questões existenciais sobre aquilo que o moço era ou deixava de ser na sua essência, contei a seguinte história:
em 2015, passei dois meses dirigindo pelo cone sul, uma viagem particularmente tensa e triste. durante esse período, pela primeira vez na vida, mesmo depois de ter morado no exterior por sete anos, eu senti muita, muita falta de feijão com arroz.
aquilo para mim foi incrível porque eu nunca gostei tanto assim de feijão com arroz, e nem acho que é uma comida melhor do que a maioria das outras. então, por que senti tanta falta?
me lembro de pensar: será então que esse é o meu gosto pessoal? será que, na minha essência mais profunda, esse é o meu Eu: uma pessoa que não consegue passar dois meses sem feijão com arroz? será que tenho, em algum lugar do meu dna, um gene para gostar de feijão com arroz?
ou será que simplesmente sou uma pessoa brasileira, como duzentas milhões de outras, que passou a infância inteira comendo uma mesma comida e que, portanto, foi condicionada a apegar-se a ela, ainda mais em momentos de crise?
que não é um gosto pessoal, vindo das profundezas desse meu ó-tão-concreto Eu, mas sim um gosto cultural, contingente e construído, colocado em mim pelas circunstâncias da minha biografia, condizente com os hábitos alimentares da sociedade onde cresci?
voltei então à questão do moço:
“você nasceu branco em uma cultura onde, durante trezentos anos, as pessoas brancas escravizaram as negras; onde tudo de pior, mais bestial, mais baixo, é sempre associado ao negro, e tudo de melhor, de mais puro, ao branco; onde as mulheres negras consideradas as mais bonitas são sempre as mais claras e com traços mais caucasianos; onde até a playboy brasileira, em quarenta anos de publicação em um país onde metade das pessoas são negras, teve somente nove mulheres negras na capa.”
continuei:
“você me perguntou se era racista. mas e daí se você for? vai sair daqui e se martirizar? e daí se você não for? vai sair daqui se dando tapinhas nas costas? sinceramente, essa pergunta não leva a nada.”
sugeri:
“eu te proponho outras perguntas: de onde vem esse seu ‘gosto pessoal’? aliás, existe isso de gosto pessoal? algum gosto poderia ser realmente pessoal?”
por fim, talvez a pergunta mais importante:
“será que existe esse Eu, tão único e tão separado do mundo, capaz de cultivar esses gostos tão pessoais em total independência das circunstâncias contingentes à sua volta?”
esse meu Eu, ó tão uno e concreto, que morre de saudade de feijão com arroz, se meu pai tivesse conseguido aquela bolsa para estudar em londres, não estaria hoje morrendo de saudade de fish & chips?
* * *
não existe liberdade
a liberdade é muitas vezes entendida como liberdade para realizar nossos desejos, ou seja, para fazermos o que quisermos.
mas de onde vêm esses desejos? que desejos são esses? eles nos pertencem? pertencemos a eles? somos nossos desejos? existe esse Eu que deseja?
talvez essa liberdade que tanto desejamos seja apenas a “liberdade” da biruta, “livre” para soprar em direção sudoeste ou noroeste, dependendo desse ou daquele vento, mas sem nunca sair do lugar.
talvez precisemos nos libertar de nossas velhas definições de liberdade.
talvez a verdadeira liberdade seja não uma liberdade para nossos desejos, mas uma liberdade dos nossos desejos.
talvez a verdadeira liberdade seja não a liberdade de descobrir e nos entregar aos desejos que estão dentro de nós (quais são? de onde vieram?), mas sim a liberdade de construir novos desejos e criar quem queremos ser.
* * *
como a existência autônoma do Eu é uma ilusão, esse Eu ilusório não tem como jamais experimentar, aproveitar, gozar, o suficiente de si mesmo para estar satisfeito.
então, angustiado por essa eterna suspeita de que algo importante está faltando, esse Eu ilusório embarca em uma busca sem fim (que é basicamente a história ocidental) por uma inalcançável e inconcebível “liberdade verdadeira”.
há catorze anos, escrevo uma série de textos chamada as prisões. (esse aqui é um deles.) atraídas por esse tema, quase todas as pessoas que me leem, que me procuram, que vêm aos meus encontros, estão em busca de se libertar de suas prisões e de realizar a tal “liberdade verdadeira”.
mas como pode haver liberdade verdadeira se não existe nem mesmo um Eu verdadeiro para desfrutar dela?
minha liberdade é tão contingente e tão construída, tão desprovida de essência intrínseca e de existência autônoma, quanto o Eu a quem ela pertence.
(esse será um dos temas principais da futura prisão liberdade, que ainda estou escrevendo.)
* * *
quando adolescente, agostinho de hipona (depois, santo agostinho) pedia a deus por “castidade e continência, mas não agora”.
sua autobiografia é justamente a história da transformação do adolescente, sob controle de seus próprios desejos lascivos, que ele quer “saciados e não extintos”, em homem maduro, finalmente no controle de seu próprio corpo e de seus próprios desejos.
* * *
não existe autoconhecimento
não faz sentido falar em “autoconhecimento” ou “autodescobrimento”.
ao contrário da américa, que já estava ali, concreta e existente mesmo antes de cristovão colombo, o meu verdadeiro Eu não está aqui, dentro de mim, deitado em berço esplêndido, só esperando para ser descoberto.
e assim como colombo não descobriu a américa, pois ela já tinha sido descoberta e ocupada milhares de anos antes, eu não tenho como “embarcar em uma viagem de autodescobrimento pessoal” porque não existe nada para descobrir.
ou melhor, existe sim.
dentro de mim, esperando para ser descoberto, existe o lixo dos séculos, acumulando e fedendo: gostos culturais, regras arbitrárias, fatos errados; o racismo e o machismo, os mais odiosos preconceitos, as mais imbecis superstições.
(a prisão verdade é sobre como limpar esse lixo dos séculos de nossas mentes.)
em outras palavras, se eu olhar dentro de mim e “autodescobrir” ou “autoconhecer” que sou um homem branco hétero que não sente atração por mulheres negras, ou uma pessoa brasileira que adora arroz e feijão, ou uma mulher que não consegue se achar bonita com pelos nas axilas…
… o que isso diz sobre mim enquanto pessoa?
rigorosamente nada.
por outro lado, diz muito sobre a sociedade onde cresci e sobre as forças culturais às quais fui exposta.
* * *
se não existe nada de essencial ou pré-existente dentro de nós a conhecer ou a descobrir, existe um infinito potencial a se construir.
minha viagem não é nem de autoconhecimento, nem de autodescoberta, mas de autoconstrução.
nesse universo vasto e ilimitado, povoado por incontáveis seres sencientes, quanta importância eu escolho dar ao meu Eu?
nesse mundo canalha e egoísta, quem eu quero me construir para ser?
* * *
eu não sou melhor que o meu mundo
já houve época em que eu queria ser rico: elaborei plano de negócios, busquei investidores capitalistas, frequentei seminários de empreendedorismo, constituí duas empresas, contratei funcionários.
em minha imensa arrogância, mesmo enquanto lutava com todas as minhas forças para obter as recompensas do mundo empresarial, eu me sentia superior não só a ele, mas a todas as pessoas que estavam nele comigo: pessoas (ao meu ver) vazias e sem substância que só se preocupavam com riqueza, status, aparência.
e eu me dava tapinhas nas costas, dizendo que não queria só aquilo não! eu tinha conteúdo! à noite, eu lia tolstoi! eu estava ali mas eu não era isso!
o dinheiro pelo qual essas pessoas tanto lutavam para mim não tinha a menor importância (apesar de eu estar igualmente lutando por ele, ops!) e era apenas parte de um plano maior, mais ambicioso, mais substancial.
em breve, eu teria acumulado riqueza o suficiente para abandonar tanta pequenez e mesquinharia e, finalmente, poder ler tolstoi pelo resto da vida em meu iate, vocês vão ver!
* * *
vivemos em uma das sociedades mais injustas e desiguais do planeta, onde a maioria das pessoas nunca desfrutou do privilégio de escolher a vida que queria levar.
as pessoas leitoras de um texto como esse, entretanto, assim como eu, provavelmente fazem parte da minoria privilegiada que teve sim um grau maior de liberdade de escolha.
e o que estamos fazendo com essa liberdade?
* * *
ninguém é melhor do que o mundo onde escolheu viver.
nós somos aquilo que escolhemos passar o dia fazendo.
* * *
a pedagogia do fracasso
ser bem-sucedida em um mundo canalha quase sempre é indicativo de nossa própria canalhice.
se a regra do jogo é pisar no pescoço das coleguinhas e eu estou ganhando, então isso quer dizer que sou muito bom em pisar pescoços.
infelizmente, enquanto o mundo está nos premiando com riqueza e status por nossa competência em pisar pescoços, é muito difícil de sairmos do jogo por vontade própria.
talvez até existam pessoas que conseguem chutar o próprio balde enquanto estão ganhando.
eu, com certeza, não sou uma delas.
* * *
o antropólogo darcy ribeiro dizia ter fracassado em tudo o que tentara, desde alfabetizar crianças até salvar índios, mas que seu fracasso era sua vitória: detestaria estar no lugar de quem tinha lhe vencido.
já eric hobsbawm afirmava ter dedicado toda sua vida a um projeto que considerava fracassado, o comunismo, mas que nada aguçava tanto a mente do historiador quanto a derrota: afinal, quem consegue ser reflexivo enquanto está ganhando?
quem consegue aprender com suas vitórias?
* * *
se minha família tivesse continuado rica, se minha start-up de internet tivesse bombado, se minha consultoria tivesse tido um fluxo maior de clientes, eu não estaria escrevendo essas linhas.
mas a família faliu, a empresa fechou, a consultoria minguou.
sem conseguir me sustentar na minha própria terra, fui morar no exterior, onde me ofereceram bolsa de estudos.
mas, logo na primeira semana, levei com um furacão nas fuças, quase perdi meu cachorro, estive no meio da maior catástrofe natural dos estados unidos, virei refugiado por seis meses, morei de favor, usei roupas do exército da salvação e fiz parte de uma dos maiores deslocamentos humanos da história.
e, mesmo assim, a muito custo, devagarzinho, ainda demorei anos para começar a aprender.
* * *
quero ser a pessoa que quer mudar
por um lado, largar um mundo canalha e ganancioso (mas que paga super bem!) é sempre muito difícil.
por outro, também não quero ser como minhas colegas, que parecem chafurdar felizes e satisfeitas na ganância que tanto reprovo.
então, escolho um instável, insustentável meio-termo: eu me torno aquela pessoa que vive e trabalha no mundo ganancioso e canalha, operando de acordo com as prioridades desse mundo e recebendo as recompensas que esse mundo oferece, ao mesmo tempo em que sonho com um outro mundo, esse sim o meu mundo verdadeiro, esse sim o mundo onde estaria vivendo agora, sabe?, se eu tivesse escolha!
“um dia, eu vou, hein! vocês vão ver! largo essa podreira aqui e entro pra um mosteiro! enquanto isso, deixa eu calcular de quanto será o meu próximo bônus anual…”
não quero trabalhar de voluntária no sopão ou escalar o himalaia ou escrever distribuir poesia na praça. (essas coisas dão trabalho, exigem sacrifício, são desconfortáveis!)
quero ser a executiva que quer trabalhar no sopão, a médica que quer escalar o himalaia, a jornalista que quer distribuir poesia na praça.
quero é estar satisfeita com meu Eu e, ao mesmo tempo, evitar qualquer mudança efetiva de vida.
quero é construir uma auto-identidade que seja confortável e não me dê trabalho.
* * *
não existe dualidade
depois da segunda guerra, em julgamento por sua participação no holocausto, um nazista afirmou que somente sua “alma oficial” cometia aqueles crimes hediondos: sua “alma privada”, por outro lado, sempre tinha sido contra.
infelizmente, diante da impossibilidade de separar as duas “almas”, uma claramente culpada e a outra ó tão inocente, ambas acabaram sendo enforcadas juntas.
* * *
é um de tantos paradoxos da vida narcisista: julgamos os outros por suas ações, mas queremos sempre ser julgadas por nossas intenções.
quando dirigimos perigosamente e alguém nos xinga, ainda nos damos ao direito de nos chatear:
“porra, será que ele não vê que estou com pressa? respeito as leis do trânsito todo dia, mas hoje tenho aquela reunião importantíssima!”
não interessa o que seja: ou agimos certo (e o mundo tem que reconhecer e nos premiar, senão é muita injustiça) ou agimos errado, mas por um motivo totalmente válido (e o mundo tem que reconhecer e nos entender, senão é muita injustiça).
a tendência de compartimentalizar é irresistível: somos todas maquininhas de autojustifição.
* * *
naturalmente, não estou afirmando que nenhuma linha de trabalho atual é equivalente ao nazismo, nem tenho nenhuma opinião sobre o que outras pessoas devem fazer de suas vidas profissionais.
se minha amiga está satisfeita em sua agência de publicidade, dedicando sua energia vital a encontrar novas maneiras de fazer mulheres terem vergonha de seus corpos para lhes vender mais branqueadores de axilas (“a publicidade tem a função social de informar as pessoas sobre os produtos disponíveis para compra”), eu respeito.
se minha outra amiga está satisfeita vendendo bijuteria e acampando na praia em porto seguro, eu também respeito.
mas nada, nada, nada pode ser mais fácil do que eu trabalhar em uma ocupação que desprezo (qualquer ocupação que seja), me sentindo superior às colegas que fazem a mesma coisa que eu, e nunca abdicando das imensas vantagens materiais que recebo por estar ali.
* * *
nas palavras de um oficial do campo de concentração de treblinka:
“não sou um criminoso. tenho a consciência limpa. por dentro, eu sabia que aquilo era um crime. … na verdade, sou um homem bom, civilizado. nunca abri mão da gentileza e da polidez, nem nos piores momentos. sempre abria a porta para as senhoras entrarem e até dava o braço para as mais idosas e frágeis. … [meus colegas] se divertiam, eram uns monstros, mas eu não! meu coração sangrava quando eu fechava a porta e ligava o forno.”
* * *
não existe o que comparar
uma amiga, desabafando sua maior angústia existencial:
estava prestes a fazer vinte e cinco anos e ainda não tinha construído nada. dizia ela, inconsolável:
“nada, alex, nada!”
“suas outras amigas de vinte e cinco anos já construíram muita coisa?”, perguntei.
“não, quase nada também.”
“que bando de fracassada, né?”
“ué, alex, nada disso. estamos todas começando na vida; a maioria nem casada; nenhuma com filhos; quase todas na universidade; quem trabalha, ainda no primeiro emprego, etc.”
“mas por que você se acha tão superior a elas?”
“eu hein, alex! quem disse que eu me acho superior às minhas amigas?”
“bem, se não é problema elas terem vinte e cinco anos e não terem construído nada, mas, para você, isso é sua maior angústia existencial, então suas expectativas para si mesma são muito maiores do que para elas, não?”
e concluí:
“afinal, elas são só pessoas normais de vinte e cinco anos, é compreensível que não tenham construído nada (ninguém espera muito delas mesmo!), mas uma pessoa tão especial como você!, logo você que é tão única e tão talentosa!, chegar nessa mesma idade e igualmente não ter construído nada? deus me livre! alerta vermelho! rufem os tambores! emergência existencial máxima!”
* * *
mas, se não fosse a ilusão de que existe a essência de um Eu, esse Eu transcendental que é mais do que a soma das suas partes, um Eu que precisa ser protegido e cuidado, não haveria porque compará-lo às outras pessoas ou se preocupar com o que ele construiu ou deixou de construir.
* * *
o fascismo de mim mesmo
todas nós, mesmo as mais tranquilas e bem-resolvidas, estamos sempre travando batalhas internas, carregando problemas pesados, buscando conexões significativas.
quando estou com outras pessoas e ouço suas histórias com atenção plena, é como se minhas próprias preocupações mesquinhas não existissem.
de repente, percebo que se passaram várias horas, horas em que não mastiguei rejeições, não remoí desfeitas, não remendei vaidades; horas em que estive livre da ditadura do meu Eu.
* * *
a teia de indra: tudo está conectado
no longínquo palácio celestial do deus indra, está pendurada no teto uma teia que se estende até o infinito, em todas as direções.
em cada nó da teia, existe uma joia reluzente.
como a teia é infinita, também são infinitas as joias, brilhando como estrelas.
na superfície reluzente de qualquer uma dessas joias estão refletidas todas as outras infinitas joias da teia infinita, em um processo infinito de reflexão mútua.
cada joia contém em si o reflexo de todas as outras.
cada joia condiciona e é condicionada por todas as outras.
cada joia é todas as outras.
* * *
não existe o que perder
nascemos pequenas criaturas indefesas e passamos as décadas seguintes buscando por qualquer coisa que nos dê segurança, concretude, sentido.
será dinheiro ou sexo? será amor romântico ou fama televisiva? será escrever textos ou influenciar pessoas? não sabemos. mas estamos dispostas a tentar de tudo para aliviar nossa angústia existencial e nosso medo da morte, a percepção de nossa pouca importância e a sensação de que nos falta algo.
por isso, desapegar do Eu pode parecer tão apavorante, como um salto no abismo ou um passo no escuro.
afinal, estou “abdicando” até mesmo daquele frágil e trêmulo pedacinho de chão que consegui criar para mim, pelo menos um lugarzinho nesse universo tão hostil onde eu podia me enganar que estava seguro.
mas, quando consigo desapegar de mim mesmo, percebo que eu já estava, o tempo todo, sobre um chão mais firme e mais amplo.
percebo que não perdi nada, pois não havia nada a ser perdido.
já estava tudo lá.
* * *
não existe pertencimento
se acredito que existe esse meu Eu, dotado de uma essência permanente e autônoma, e que ele está sozinho em um universo hostil, minha vida acaba se tornando uma busca desesperada por pertencimento em qualquer coisa que possa me oferecer segurança.
assim, mesmo se tiver uma família abusiva, vou me anular e aceitar novas e reiteradas agressões, porque, “afinal, são minha família, não?”
para aliviar a solidão que me sufoca, vou tirar mais e mais selfies, ou escrever mais e mais livros, ou implorar mais e mais curtidas, porque “é uma maneira de estar vivo, não?”
* * *
o meu Eu somente busca tão desesperadamente pertencer porque ele mesmo se posicionou (eu aqui, o universo ali) como uma entidade apartada da totalidade à qual pertence.
por definição, para um Eu apartado, não existe pertencimento possível: sua carência será insaciável.
jamais haverá segurança ou liberdade, fama ou felicidade o suficiente; nunca serei lida ou desejada, curtida ou lembrada o suficiente, para aliviar a angústia existencial desse meu estado de separação.
porém, quanto mais o meu Eu, ilusório e contingente, tenta pertencer a outras entidades, também ilusórias e contingentes, mais ele se afasta da totalidade de fenômenos interdependentes e interpermeáveis a qual ele já pertence e sempre pertenceu, como não poderia deixar de pertencer.
cada joia na infinita teia de indra condiciona e é condicionada por todas as outras.
* * *
a boneca de sal: pertencer ao todo
era uma vez uma boneca de sal.
após peregrinar por terras áridas, descobriu o mar e não conseguiu compreendê-lo.
perguntou ao mar: “quem é você?”
e o mar respondeu: “sou o mar.”
“mas o que é o mar?”
e o mar respondeu: “o mar sou eu.”
“não entendo”, disse a boneca de sal, “mas gostaria muito de entender. como faço?”
o mar respondeu: “encoste em mim.”
então, a boneca de sal timidamente encostou no mar com as pontas dos dedos do pé.
sentiu que começava a entender mas também sentiu que acabara de perder o pé, dissolvido na água.
“mar, o que você fez?!”
e o mar respondeu:
“eu te dei um pouco de entendimento e você me deu um pouco de você. para entender tudo, é necessário dar tudo.”
ansiosa pelo conhecimento, mas também com medo, a boneca de sal começou a entrar no mar.
quanto mais entrava, e quanto mais se dissolvia, mais compreendia a enormidade do mar e da natureza, mas ainda faltava alguma coisa:
“afinal, o que é o mar?”
então, foi coberta por uma onda.
em seu último momento de consciência individual, antes de diluir-se completamente na água, a boneca ainda conseguiu dizer:
“o mar… o mar sou eu!”
* * *
síndrome da pessoa alheia
se temos uma ferida sangrando na perna ou se nosso estômago está roncando, nossa mão não se comporta como se esses problemas lhe fossem alheios: ela estanca o sangue e coloca alimentos na boca.
as diferentes partes do todo que é o meu corpo simplesmente, naturalmente se comportam como se fossem um só.
as mãos de algumas pessoas, porém, agem à revelia de sua vontade: pegam coisas que não deveriam pegar, fazem gestos que não deveriam fazer e, em casos extremos, até mesmo atacam outros membros do corpo.
só uma parte doente se comporta como se fosse uma entidade separada da totalidade à qual pertence.
por isso, a síndrome da mão alheia é uma desordem neurológica devastadora.
* * *
minha mão não é alheia à fome do meu estômago, porque ambos reconhecem fazer parte do mesmo todo, mas eu sou alheio à fome da pessoa que está ali na calçada, porque não me reconheço como parte do mesmo todo que ela.
a desordem existencial devastadora de nossa civilização é ver na fome da outra pessoa um problema alheio a nós.
todas sofremos de síndrome da pessoa alheia.
* * *
quando finalmente enxergo a miragem do nosso Eu, cuidar das outras pessoas se torna tão natural quanto a mão que automaticamente estanca o sangue da perna que pertence ao mesmo corpo que ela.
* * *
não existe verdade
uma objeção a esse texto:
“você me vem com esse seu dogmatismo místico, mas como pode ter tanta certeza de que não existe? além disso, você entrou em contradição várias vezes: como posso me autoconstruir, ou escolher o meu mundo… se não existo?”
quando passo debaixo da lâmpada, vejo minha sombra no chão; quando entro na banheira, o nível da água sobe na exata proporção do volume do meu corpo; quando assino um contrato, tenho que reconhecer firma. (uma das poucas vantagens comprovadas de não-existir é nunca precisar reconhecer firma no cartório.)
então, se desloco água e abro firma, também posso autoconstruir minha identidade e escolher meu trabalho.
a questão não é se eu existo (é claro que eu existo), mas sim que o meu Eu não existe dessa maneira essencial e transcendental como sinto que ele existe, no centro de um universo que gira ao seu redor, observando tudo sempre a partir de sua própria perspectiva.
* * *
no século xvii, quando galileu galilei ousou sugerir que era a terra que girava em torno do sol (e não vice-versa), um cardeal retrucou:
“eu não sou uma coisa qualquer, numa estrelazinha qualquer, girando por aí, ninguém sabe até quando. eu sinto a terra firme debaixo dos meus pés, em repouso, no centro do universo. eu estou no centro do universo, e o olho do criador repousa em mim, somente em mim. os astros e o sol majestoso giram em torno de mim, fixados em oito esferas de cristal; foram criados para iluminar a minha cercania, e também para me iluminar a mim, para que deus me veja.”
mas o pobre do galileu não estava dizendo que a terra e o sol não existiam, assim como não estou dizendo que o Eu não existe.
galileu dizia apenas que a terra e o sol não eram o centro do universo, que eram somente mais um planeta e mais uma estrela, como infinitos outros, sem nada de intrinsecamente especial — a não ser o especialíssimo fato, para nós, de ser o planeta onde nós vivemos, e a estrela que nós orbitamos.
* * *
tirando o fato de, para mim, eu ser eu (que é mais uma questão de perspectiva do que de essência), o que há de tão importante, transcendental nesse meu Eu?
nada.
quando digo que encaro o meu Eu como se ele não tivesse essência intrínseca, o que estou compartilhando é uma perspectiva, não uma verdade: um método, não uma doutrina; uma prática, não um dogma.
a afirmação de uma fé nos convida a acreditar ou des-acreditar: a proposta de um método, se acharmos que faz sentido e que pode nos trazer benefícios, nos convida a investigá-lo e vivenciá-lo, testá-lo e corporificá-lo.
em minha experiência pessoal, tem valido a pena viver como se o meu Eu fosse desprovido de essência intrínseca.
outras pessoas também decidiram viver assim. outras, não.
no fim das contas, independentemente de como escolhemos pensar sobre nós mesmas, todas deslocamos água quando entramos na banheira.
* * *
desapegar do Eu é engajar-se no mundo
o vazio que sinto dentro de mim (que tento desesperadamente preencher com dinheiro ou fama, sexo ou família, ou qualquer outra coisa que me pareça factível) só é um problema enquanto tento preenchê-lo.
se consigo desapegar do meu Eu, entretanto, o mesmo vazio que antes me angustiava passa a me fortalecer:
livre da obrigação absorvente de cuidar e proteger essa frágil entidade dentro de mim (será que construí o suficiente em vinte e cinco anos de vida? será que as pessoas gostam mesmo dos meus textos?), posso finalmente levantar os olhos, perceber as pessoas à minha volta e me dar conta de que elas também estão sofrendo.
* * *
desapegar do meu Eu não me impede de militar em causas sociais ou de lutar para transformar a realidade.
pelo contrário, ao eliminar a importância excessiva que dou a mim mesmo em relação às outras pessoas, o meu potencial de engajamento político é finalmente desbloqueado, realizado, magnificado.
* * *
eu não estou dentro do meu corpo olhando para fora: eu sou o universo olhando para si mesmo.
eu não estou aqui e o universo ali: eu sou o que o universo está fazendo agora.
* * *
assine a newsletter do alex castro
* * *
notas de leitura
um pós-papo sobre livros, só para as pessoas muito, muito interessadas.
a prisão eu é basicamente uma tentativa, apesar de minha enorme ignorância e por causa dela, de articular para mim mesmo (com vocês como espectadoras) o difícil conceito budista de sunyata, algumas vezes traduzido como “vazio”, preferencialmente como “vacuidade”. um desafio adicional foi escrever sobre isso sem nunca nem mesmo falar a palavra “budismo” ou qualquer termo técnico relacionado a ele.
esse texto normalmente se chamaria prisão ego. entretanto, em sua nova edição das obras completas de sigmund freud (1856-1939), lançadas pela companhia das letras a partir de 2010, o tradutor paulo cesar de souza verteu os tradicionais “ego”, “id” e “superego” como “eu”, “id” e “super-eu”. em seu livro as palavras de freud (1998), capítulo “ich/ego/moi, es/id/ça”, ele explica as razões da mudança e eu, plenamente convencido, adotei. para facilitar a transição, nas ocasiões onde em outros tempos eu teria utilizado “ego”, grifei “Eu” em maiúsculas.
a metáfora da caneta, na subseção “não existe essência”, é de stephen batchelor, em budismo sem crenças (1997), capítulo 11. mais adiante, a subseção “não existe verdade” é basicamente um resumo da mensagem agnóstica do livro.
a metáfora da mesa, na subseção “não existe essência”, é de jay l. garfield e está no comentário de sua tradução de the fundamental wisdom of the middle way (1995), de nagarjuna.
a subseção “não existe o Eu” parafraseia três estrofes dos versos fundamentais do caminho do meio, de nagarjuna, sábio budista indiano do séc.ii (adaptadas por mim a partir das traduções de batchelor, garfield e giuseppe ferraro):
“se eu tivesse uma essência, eu nunca deixaria de ser eu. se não tivesse nenhuma essência, quem deixaria de ser eu? … você não é igual, e nem diferente, das condições das quais depende [para existir]; você não está nem separado delas, nem eternamente identificado com elas. … quando a vacuidade é possível, tudo é possível. se vacuidade fosse impossível, nada seria possível.” (capítulo 15, estrofe 9; 18.10; 24.14)
a frase “sou uma pessoa única não porque tenho uma pretensa essência metafísica etc” é de batchelor, em intuitions of the sublime (2000), seu comentário aos versos fundamentais do caminho do meio, de nagarjuna, traduzidos por ele sob o título verses from the center.
as subseções “não existe o Eu”, “não existe liberdade” e “desapegar do meu Eu é engajar-se no mundo” contém paráfrases de altruism (2013), do monge budista francês matthieu ricard, capítulos 23, 24 e 25. esse meu texto inteiro é largamente dependente e inspirado por esse sensacional e enciclopédico trabalho do monge ricard.
as subseções “não existe liberdade”, “não existe o que perder” e “não existe pertencimento” contém paráfrases de buddhist history of the west (2002), de david r. loy, capítulos 1 e pós-escrito.
a famosa prece de agostinho de hipona (354-430), “me dê castidade mas não agora”, está no livro 7 de sua autobiografia as confissões, um dos livros mais importantes da história do pensamento ocidental. agostinho é como se fosse um velho amigo, daqueles que já carreguei depois da bebedeira mas que hoje não bebe mais, uma pessoa sempre interessante e fascinante, não apenas pela nova vida que conscientemente abraçou, e sobre a qual fala com intensidade única, mas também pela antiga vida devassa que podemos perceber aqui e ali, por entre as frestas da nova, através de seus comentários sempre mordazes. as confissões é um dos livros mais chacoalhadores da minha vida. sua leitura me deixa mexido, emocionado, consternado e, mais do que tudo, muito, muito irmanado, muito próximo ao autor. recomendo as confissões de agostinho para qualquer pessoa que esteja à beira de uma grande decisão que simplesmente não consegue tomar.
a fala do antropólogo brasileiro darcy ribeiro (1922-1997) está em seu discurso ao aceitar o título de doutor honoris causa da sorbonne, em 1978, depois publicado como “de fracasso em fracasso” em seu livro testemunhos, de 1991.
a reflexão do historiador britânico eric hobsbawm (1917-2012) está na palestra “o presente como história: escrever a história de seu próprio tempo“, proferida em são paulo em 1993 e disponível no livro sobre história, de 1998.
o “nazista das duas almas” era arthur greiser, enforcado na polônia em 1946. a história está no capítulo 7 de eichmann em jerusalém (1963), de hannah arendt (1906-1975). segundo um estranho sem credibilidade, foi a última execução pública da história da europa.
já a história de alfred hölck, o “nazista gentil” de treblinka, está em reluctant nazis: remorse and regret in the gestapo (1982), capítulo 20, do historiador austríaco günther von trass.
a metáfora da teia de indra faz parte das tradições do hinduísmo e do budismo. a versão que usei veio do sutra da guirlanda de flores (circa séc. iii, na índia).
a história da boneca de sal, uma das mais ecumênicas parábolas que conheço, é facilmente encontrável em livros e artigos das mais diversas religiões.
a metáfora do corpo, na subseção “síndrome da pessoa alheia”, aparece no capítulo 9 de bearing witness (1998), do mestre zen bernie glassman, fundador da ordem dos pacificadores zen. a fonte original é provavelmente o capítulo 8 do guia de estilo de vida do bodhisattva, de shantideva, poeta budista indiano do séc. viii (adaptação baseada nas traduções de batchelor, kate crosby e andrew skilton e tharpa brasil):
“já que o sofrimento do pé não é o da mão, por que a mão deveria aliviá-lo? … embora o corpo tenha diferentes partes, como os braços e as pernas, protegemos todas tanto quanto protegemos o próprio corpo. … assim como considero as mãos e os pés como membros do meu corpo, devo considerar todos os seres sencientes como membros de um totalidade viva.” (estrofes 91, 99, 114)
a citação do cardeal é fictícia e foi retirada da peça vida de galileu (1938), cena 5, de bertolt brecht, na tradução brasileira de roberto schwarz, levemente adaptada.
as duas frases que fecham o meu texto (“sou o universo olhando para si mesmo” e “sou o que o universo está fazendo agora.”) são paráfrases de loy, ambas do pós-escrito citado.
tudo o que tenho lido, escrito, pensado nos últimos anos tem sido largamente pautado, influenciado, iluminado pelas palavras, reflexões, exemplos de stephen batchelor, david r. loy e bernie glassman. depois de um certo nível de influência, já fica difícil de saber onde terminam suas palavras e começam as minhas. caso eu tenha cometido mais plágios involuntários, além dos já citados, por favor, avisem.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.