O governo federal anunciou um plano para facilitar o acesso da população a empréstimos bancários. A ideia é que, com mais crédito, as pessoas voltem a consumir e a economia comece a se recuperar da dura recessão que atinge o país desde 2014.

O barateamento do crédito passa inevitavelmente pela diminuição do spread bancário – que é a diferença entre o que o banco paga para captar empréstimos e o que ele cobra para emprestar ao consumidor. Quanto mais alto o spread, mais altos os juros que o cliente do banco paga. O tema é, há décadas, motivo de debates no Brasil.

Em outubro, o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, Isaac Sidney, fez um apelo pela redução do spread. Meses depois, o governo anunciou planos de alterar o quadro de altos spreads no país. Ministério da Fazenda e Banco Central pretendem adotar medidas para desburocratizar o setor, diminuir custos e o risco de inadimplência.

Em debate recente na sede do BC em Brasília, o presidente e três ex-presidentes da instituição deram diagnósticos sobre as causas do problema. Em comum entre eles, a noção de que a insegurança gerada pela inadimplência era um fator que pesava no spread.

O Banco Central tem uma série de estudos sobre o tema, alguns deles assinados pelo economista Marcio Nakane, ex-pesquisador da instituição e atual professor da Universidade de São Paulo. Nakane é especialista em “spread bancário, bancos brasileiros, concorrência bancária e política monetária”. O Nexo conversou com Nakane sobre o assunto.

O que é o spread?

Spread bancário é a diferença entre a taxa de juros que o banco cobra sobre suas operações de crédito (empréstimos e financiamentos) e o que ele paga para captar recursos no mercado (sob a forma de depósitos a prazo e outros mecanismos).

Por que ele é tão alto no Brasil?

Porque o próprio nível das taxas de juros é muito elevado no Brasil, por conta das regulamentações que atingem o setor bancário sob a forma de reservas compulsórias e direcionamento de crédito, porque a inadimplência é alta no Brasil, porque os custos operacionais do negócio bancário são elevados e porque a natureza da relação bancária entre o cliente e o banco gera uma dependência daquele com este.

Qual o peso de uma taxa básica de juros muito alta, da concentração do mercado bancário e da inadimplência no spread?

Selic muito alta tem peso significativo. Concentração do setor bancário tem peso baixo. Outros economistas discordam dessa afirmação. Inadimplência tem peso alto.

Leia também  Finanças pessoais para quem não quer economizar no cafezinho

Como o spread alto impacta a economia?

O spread bancário é uma medida do grau de eficiência da intermediação bancária. Ou seja, os bancos funcionam como intermediários entre aqueles que desejam aplicar seus recursos em instrumentos financeiros e aqueles que desejam obter um empréstimo ou financiamento bancário. O spread bancário mede quão eficiente é o sistema bancário para realizar esta atividade de intermediação de recursos.

Quais as condições de atuação dos bancos em comparação com outros países? Quais as peculiaridades do mercado brasileiro?

Os bancos brasileiros são mais intensivamente utilizados para transações de pagamento. A capilaridade da rede de atendimento para um país de dimensão geográfica como o Brasil é um fator de destaque. Os elevados níveis de compulsório e os mecanismos de direcionamento de crédito são peculiares ao mercado brasileiro. O ambiente institucional do Brasil é pior que o dos países mais desenvolvidos. Os bancos brasileiros são mais avessos ao risco que os estrangeiros. Preferem operar com liquidez elevada, com elevada capitalização e com baixa alavancagem.

Qual a efetividade das medidas do governo para a redução do spread?

As medidas são estruturalmente importantes. Contribuem para um ambiente microeconômico melhor e, portanto, contribuem para a redução do spread no longo prazo. As medidas têm pouco impacto de curto prazo.

Qual seria uma maneira efetiva de enfrentar o problema?

Atuar no sentido de reduzir, sem artificialismos, a taxa de juros da própria economia. Medidas que estimulem as pessoas a poupar mais (isto é, a gastar menos) e que controlem os gastos do setor público são importantes nesse sentido.

***

Esse texto faz parte da série de republicações que nós fazemos do jornal digital Nexo publicada semanalmente às segundas-feiras.

Você pode apreciar a versão original de José Roberto Castro e muitos outros artigos na página do jornal que publica diariamente notícias com narrativas contextualizadas e não tem anúncios nem patrocinadores. Sua única fonte de renda é a assinatura mensal dos leitores que você pode fazer acessando aqui.

Nós já fizemos a nossa por acreditar na premissa do jornal e incentivamos você a fazer o mesmo.

Nexo Jornal

<a>Nexo</a> é um jornal digital para quem busca explicações precisas e interpretações equilibradas sobre os principais fatos do Brasil e do mundo. Nosso compromisso é oferecer aos leitores informações contextualizadas