Um leitor perguntou como ganhar dinheiro dirigindo filmes pornôs hoje. Para responder, o texto anterior da série [PdH Porn] fez uma viagem no tempo para a época anterior à explosão da pornografia digital para entender que as coisas eram muito diferentes duas décadas atrás.

Hoje vamos ver quais foram as grandes sacadas de empreendedores do entretenimento adulto no mundo digital, e como eles ganharam (muita) grana.

Como disse um leitor, “a internet está aí com tudo de bom que tem na pornografia, mas ela só forma punheteiros que se sentem bem acolhidos nas asas da mamãe e protegidos nos muros de casa”.

Infelizmente existe muita verdade nesse comentário. Vamos analisar os efeitos psicológicos em um texto futuro dessa série. Mas o outro lado da moeda é que a pornografia hoje forma mais do que meros punheteiros: ela ensina modelos de negócio que funcionam.

A pornografia, aliás, é frequentemente apontada como o motor de propulsão do comércio eletrônico e de novas tecnologias. É o sexo movendo o mundo. Vamos novamente ao túnel do tempo.

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Estudando a história da pornografia digital para encontrar as oportunidades de hoje

A era primitiva

Na década de 80 os monitores CGA eram de baixa resolução e gama de cores limitada. Apesar de já existir quem usasse o computador para descabelar o palhaço, não era algo popular: as imagens eram de baixa qualidade, difíceis de serem encontradas e compartilhadas.

Algumas fotos pessimamente digitalizadas eram gravadas em disquetes e passavam de mão em mão entre os amigos, o que dava brecha para a transmissão de vírus de computador. No caso dos discos flexíveis, era comum o uso da “camisinha”, que consistia em uma fita que se colava ao lado do disquete impedindo gravação de dados indesejados. Parece coisa de Flintstones… mas levante a mão quem já colocou a camisinha no disquete!

Na década de 90, todo mundo conectava usando modems e linhas discadas – alguns viciados até contratavam uma segunda linha telefônica para ficar mais tempo conectado e evitar aquela sinfonia da conexão estabelecida.

Gostosa Home Page – RCM

No Brasil, o precoce lorde da pornografia digital Rodrigo Coutinho Marques (conhecido como RCM) comandava o site Gostosa Home Page desde seus 19 anos. Esse cara foi pioneiro e merece um case study.

A Gostosa Home Page foi inicialmente hospedada no domínio www.gostosa.com, que depois de algumas desavenças e desventuras se mudou para www.gostosa-rcm.com . O endereço não importa, mas sim o fato de que esse era o site número um em termos de quantidade e qualidade de material de graça para os internautas. Era uma esbórnia.

Um dos vários fatores que fez o Gostosa ficar popular foi o consistente e zeloso uso de watermarks sempre indicando “Gostosa Home Page www.gostosa-rcm.com”. Assim, não interessava se o sujeito estava recebendo as fotos por email ou via eMule – havia sempre o convite para visitar o site. Essa é uma das milhares de técnicas de aumento de tráfego criadas pela turma da pornografia.

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Watermarks: Gostou? Passa lá em casa que tem mais.

Onde está o dinheiro? Em troca do serviço público e com o tráfego gerado, RCM recebia patrocínio de anunciantes. Houve altos e baixos, sendo que um dos momentos de complicação foi no caso das montagens das fotos da Sandy nua. As complicações e a popularização do negócio fizeram com que diversos clones concorrentes do Gostosa pipocassem por toda a web.

Os Warez

Também nessa época, os cafetões digitais lucravam com a pornografia usando a pirataria de software como isca para conseguir tráfego de visitas. Era a época dos warez. Um website tosco oferecia download de programas pirateados de graça, para atrair visitas. O dinheiro vinha de diversos anúncios para vender fotos pornôs e eventualmente algum vídeo curto de baixa resolução, consideradas as limitações de largura de banda.

Como naquela época ainda havia relativa escassez de putaria grátis na web e baixo controle regulatório, muita gente fez bom dinheiro nessa época vendendo pornografia. Nem era necessário ter modelos ou fotógrafos, bastava um acervo razoável de revistas antigas e um scanner.

1995 a 1999: Chega a pornografia em massa

Mas pouco a pouco o lucro foi diminuindo: a cada dia, mais material erótico era jogado na rede e as redes peer-to-peer fizeram com que o modelo warez deixasse de ser lucrativo. Depois de baixar os softwares de graça, os visitantes saíam da página warez e procuravam por pornografia também gratuita.

Além de perder esses clientes, continuava a ser cada vez mais arriscado fazer parte do mundo warez, com as associações de proteção de propriedade intelectual fazendo parcerias com investigação policial e detonando esquemas de pirataria.

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Para se adaptar, os cafetões digitais tiveram que usar seu próprio material como isca: TGPs (thumbnail gallery posts) foram a forma de liberar um pouquinho de putaria pra galera na esperança de vender uma babilônia de pernas abertas, tetas e bundas que estariam guardadas na área para membros.

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TGPs: é dando uma fatia de salame que se vende o salsichão inteiro

Como essa estratégia apenas aumentou a quantidade de material grátis disponível, alguns usuários ficavam pipocando entre a área grátis de um site para outro, visto que havia bastante competição. Por isso, a taxa de conversão caiu um pouco, mas o mercado continuava lucrativo, pois cada vez mais a Internet ganhava mais usuários.

Aliás, não apenas mais gente se conectava usando dial-up mas também com banda larga. A tecnologia melhorava e era democratizada, custos caíam, veio o Rapidshare e outros sites de armazenamento de conteúdo, usados para armazenar conteúdo não licenciado (fotos e filmes pornôs piratas).

Como é praticamente impossível ficar monitorando o que os usuários jogam nos sites de armazenamento, esse é um método excelente para distribuir putaria. Mas, novamente, a pergunta é: onde está o dinheiro?

Me parece muito curioso que alguns sujeitos anônimos dediquem seu tempo para fazer o tedioso upload de filmes e fotos nesses sites e comandar grupos dedicados a compartilhamento de putaria.

Tais grupos, facilmente localizados no Google Groups, têm como principal ferramenta o Rapidshare e serviços semelhantes. Quem já baixou qualquer coisa nesses serviços sabe que o visitante tem duas escolhas: download premium ou download free.

O download free é devagar e tem um certo limite de arquivos diários que podem ser baixados. Se o sujeito está determinado a fazer download de um filme que foi dividido em quatro arquivos diferentes, é necessário muita paciência e tempo livre – muitos acabam optando por pagar um pequeno valor anual para ter acesso à conta premium. E aí o site ganha dinheiro… hospedando a pornografia pirateada.

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Usuário de Google Groups compartilhando arquivos pesados e em múltiplos pedaços. Quem quiser baixar sem ter que aguardar infinitos minutos tem que comprar uma conta premium. Quem é que lucra?

Não bastassem esses canais de compartilhamento de arquivo, vieram os torrents. Aí ferrou de vez, já que o resultado de um monte de macho junto na Internet é mais joguinhos e mais putaria compartilhada.

Para resistir a essa competição juguernáutica, as amostras grátis tinham que ser em quantidades maiores e em melhor qualidade (nada de partes censuradas ou excesso de marcas d’água e carimbos brochantes).

Nessa época, as grandes produtoras que detinham material original e verdadeiros empreendedores com conteúdo próprio apareceram. Danni Ashe, criadora e presidente da danniharddrive.com, teve suas imagens baixadas mais de um bilhão de vezes e entrou para o Guiness Book of Records. No fim das contas vendeu o site para o grupo Penthouse e ficou milionária.

Ao mesmo tempo que esses novos artistas e empreendedores prosperavam, os amadores que só repassavam fotos roubadas de outros artistas caíram fora, junto com os tradicionais que não entenderam como a Internet funcionava. Larry Flynt, o fundador da Hustler, disse que sua circulação caiu de 3 milhões para 500 mil, tudo por culpa da Internet.

O lado bom da coisa era que o mercado potencial aumentava em proporções gigantescas com a inclusão digital. E os custos continuavam caindo. A largura de banda ficava mais barata, custos de hospedagem despencaram, equipamento e câmeras ficaram melhores e mais baratos. Até mesmo o talento de modelos, programadores e designers ficou mais barato pois todo mundo queria uma lasquinha do mercado.

A pergunta que ficava dentro da indústria da pornografia digital era como manter o modelo lucrativo? As assinaturas de sites exclusivos variam entre dez a trinta dólares mensais.

Com a popularização dos netbooks a baxíssimo custo, banda larga em todos os lugares, streaming rápidos, explosão de “tubes” e facilidade de encontrar pornografia apenas digitando “Silvia Saint” no Google ou Bing , o resultado é que hoje o sexo na Internet é mainstream e grátis.

Qual é a saída? Na continuação deste texto veremos como existe a possibilidade de lucrar muito na pornografia usando um conceito de marketing interessantíssimo que pode (e deve) ser aplicado a qualquer indústria que pretenda prosperar em tempos de alta competição, sobrecarga de informação e conteúdo grátis a um clique de distância.

P.S.: Leitura obrigatória para quem está interessado no que vem no próximo post: Free: Grátis – O Futuro dos Preços, no qual Chris Anderson detalha como os líderes de hoje estão nadando em dinheiro ao oferecer produtos e serviços… de graça!

Victor Lee

É o embaixador europeu da PapodeHomem e está sempre de malas prontas para ir onde tem mulher bonita. É autor do <a>"From Victor With Love - Diário"</a>."