Depois de falar do lado negro do porn é hora de contar como o entretenimento adulto cria e implementa ideias inovadoras. A tecnologia digital revolucionou o negócio a ponto de colocar o império da Playboy em xeque-mate.
Hugh Hefner não aguentou a crise: fechou portas e está mandando as loiras siliconadas para o olho da rua. No lugar, entram Marge Simpson e Fernanda Young para salvar a revista.
Novos tempos
No artigo anterior desta série especial PapodeHomem, fizemos uma abordagem do lado negro da pornografia: exploradores, concorrentes desleais e AIDS. Hoje é dia de falar do outro lado da moeda, afinal a indústria da pornografia gera mais dinheiro que a Microsoft, Google, Amazon, eBay, Yahoo! e Apple… juntas!
Muitos têm enriquecido nessa indústria, enquanto outros estão amargurando a queda de vendas. A Playboyfechou o escritório de Nova Iorque faz cinco meses e percebeu que tem de reformular sua estratégia para conseguir continuar vendendo nas bancas.
A solução brilhante?
O novo diretor presidente da Playboy, Scott Flanders, resolveu ser inovador e colocar um personagem de desenho animado na mesma capa para a qual já posaram Marilyn Monroe, Cindy Crawford e Pamela Anderson. A estratégia, além de chocar a atenção do público, é cativar leitores na faixa de vinte anos de idade, visto que a média dos leitores é de 35 anos.
Faz sentido, não? É uma manutenção de rotina da marca Playboy, um tributo à cultura pop americana festejando vinte anos de Simpsons, um sinal de ousadia e uma inesperada atitude para renovar a base de leitores.
Pode ser uma louca viagem minha, mas a cor roxa na capa da Playboy da desnuda Marge Simpson me lembrou de um outro negócio roxo… a “purple cow” do genial Seth Godin.
Purple Cow: a memorável vaca roxa
Como é um crime querer resumir um livro tão brilhante, já estou fazendo malas para fugir das autoridades inquisidoras. Seth Godin diz que se você vê vacas normais, elas não chamam sua atenção. Porém, se passar diante de uma vaca roxa, com certeza ela lhe será memorável.
Num mundo de informação abundante, a competição pela audiência indica que o modelo de difusão usando horário nobre está cada vez menos eficiente.
Para ser distribuída a uma grande audiência, a mensagem deve ser calibrada sob um denominador comum aceito por todos. E essa estratégia necessariamente usa o meio mais seguro possível para se comunicar com a massa.
O resultado é geralmente colocar no mesmo saco diferentes ingredientes que todo mundo ama: bebês rechonchudos dando risadinha, um sol brilhando e uma família feliz. Ah, e um cachorro e uma piadinha inteligente no final. Pois se você sacou e deu risada, é que tanto você como a marca compartilham de algo em comum. Lindo, né? Além de politicamente correto, parece bastante seguro.
A vaca roxa porém é para sair do lugar comum. Em um ambiente midiático abundante e agressivo, adotar uma “estratégia segura” é a coisa mais arriscada a ser feita. Ninguém consegue mais se lembrar de quantos comerciais com bebês e cachorros passaram na última semana. Não é memorável.
Safe is risky. A única forma de se manter vivo é fazer algo inesperado e inteligente que conquiste os formadores de opinião. Esses serão os mensageiros que transmitirão sua mensagem para a grande massa.
Com a Internet, loiras de corpo escultural e peitos siliconados viraram commodity.
Foi-se o tempo em que pré adolescentes na década de 80 folheavam sorrateiramente as gavetas de algum adulto que tinha revistas Playboy. Naquela época, a criançada tinha que se contentar com os catálogos de lingerie das Casas Pernambucanas, que eram a única fonte impressa mostrando um pouco de pele ao alcance de um impúbere.
Para mim, a última loira purple cow que mereceu ter o poster central colado dentro do armário foi a Lisa Matthews, pois na década de 90 a quantidade de imagens de mulheres nuas começou a crescer de forma exponencial. Hoje, elas pululam por todo lado. São spam indesejado através de janelas pop-up que desesperadamente imploram por um clique.
Ao invés de mais uma loira genérica, a Marge Simpson na capa roxa veio cumprir o papel de ser um ícone memorável.
Curtiu a idéia da purple cow e quer ouvir uma palestra do homem? Seth Godin conta para a platéia do TED como hoje em dia “safe is risky”.
Fernanda Young na Playboy
E no Brasil, que é um importantíssimo mercado para a Playboy, vem a Fernanda Young para a capa da Playboy de novembro.
Se passou batido por Vergonha dos Pés e Tudo que você não soube, talvez conheça a genialidade e precisão de seu trabalho em outras mídias: a divertida série Os Normais, o programa Irritando Fernanda Young e muito mais no papel e nas telas. Uma pena que o website ainda não decolou, pois promete.
Para Fernanda, existem dez bons motivos para fazer o ensaio (listados em seu Twitter):
1) Salvar o erotismo das mãos da breguice.
2) Não devo nada a ninguém.
3) Em alguns lugares do mundo, mulheres ainda são obrigadas a tampar seus corpos.
4) Vingança pura e simples.
5) Nos meus livros, eu me exponho mil vezes mais
6) Vou fazer 40 anos ano que vem.
7) Irritar a minha mãe.
8) Estou me lixando para o que os idiotas vão achar.
9) É a primeira vez na história que a coelhinha da Playboy tem 8 romances publicados.
10) Não existem ex-BBBs suficientes (aleluia).
Na coletiva que aconteceu na manhã de sexta-feira, no mezanino da Playboy, rolou material de sobra para circular a Twittosfera. É só fazer uma busca olhando o que está sendo dito sobre “Fernanda Young”. (Dependendo da data que você resolver clicar no link, o resultado será totalmente diferente. Na data da escrita deste texto, o que mais se vê são opiniões bastante controversas: alguns elogiam e apoiam, e muitos criticam pegando pesado!)
Bom, gosto não se discute. Voltando à teoria do Seth Godin, daria para imaginar que a estratégia aqui também é … purple cow. Ser memorável.
Não sei quantos aqui concordarão comigo. Mas como eu gosto das suas obras, acho que com essa escolha a Playboy brasileira foi uniu maturidade à ousadia, dando um passo positivo na celebração do feminino. Explico.
Pois para quem não está interessado em apreciar de diferentes formas uma mulher como a Fernanda Young, a mensagem tácita da revista é a mesma que foi transmitida aos leitores americanos que reclamaram da Marge Simpson: quem só quer fotos de bibelôs está convidado a procurar por fotos e vídeos em outras praias.
Afinal, na Internet, tem de tudo, para todos os gostos, e muitas vezes de graça. Para competir, não adianta a revista soltar alguma girl next door esperando causar repercussão.
Mas funcionou?
Na teoria tudo é lindo. Mas os empresários e investidores de plantão não se comovem com estímulo intelectual e querem ver os números crescendo. Será que essa história de vaca roxa trouxe algum resultado?
Infelizmente não tenho acesso aos computadores da Playboy para saber dos resultados de vendas, e o próximo relatório para a Securities Exchange Commission só vai sair em alguns meses. Por enquanto, a gente se contenta com o Oráculo.
Bastante gente aqui deve conhecer uma ferramenta chamada Google Trends. É um experimento da Google que dá uma amostra grátis do poder detido por quem tem acesso à informação. Esse serviço mostra quantas vezes um determinado termo apareceu nos computadores do mecanismo de busca.
Claro que ele não mostra a quantidade de pesquisas que foram feitas com o Yahoo! ou Bing, mas não é por isso que deixa de ser interessante ou distante da realidade. Ao contrário, é bastante útil para entender melhor certas tendências e eu uso quando convém.
Na hora de fechar esse artigo, dei uma olhada para ver que resultados o Google Trends me aponta para a quantidade de buscas realizadas usando o termo “Playboy”:
Google Trends. No gráfico superior, a evolução de volume de buscas do termo “Playboy” e no gráfico inferior, a quantidade de notícias publicadas que fazem referência ao nome da revista.
Achou interessante? Em vez de olhar a imagem acima, analise o resultado atualizado.
O serviço ainda está em fase de testes e pode ser que os números ainda não tenham sido devidamente computados no sistema. Mas pelo que tudo indica, apesar de 9 de outubro ser a data onde o evento “E” (“Marge Simpson Playboy”) apareceu, o pico de buscas não foi grande coisa.
A segunda linha do gráfico mede a quantidade de notícias publicadas usando o termo escolhido no Google Trends. O engraçado é que o crescimento no mês de julho de 2009 foi múltiplas vezes superior na época na qual os eventos “C” (“Kim Kadashian Hits Playboy Party, Gets Pulled Over”) e “D” (“Hef divorces wife, keeps Playboy pets”) aconteceram.
Ou seja, as fofocas sobre Kim Kadashian na festa da Playboy e o divórcio de Hugh Hefner geraram mais buzz na mídia do que a pobre Marge Simpson.
Será que a combinação de Marge e Fernanda Young e uma linha editorial apostando em um novo rumo salvarão a Playboy? Só o futuro dirá. Mas podemos ir bisbilhotando com o Google Trends e ouvindo as incessantes conversações no Twitter.
Essa foi a continuação da série [PdH Porn], que continua observando a pornografia de um modo diferente. Para sugerir ideias de futuros textos, deixe um comentário ou entre em contato com a equipe PdH.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.