Caras pessoas velhas que comandam o mundo,

A minha geração quer se separar de vocês.

Diariamente, eu vejo um abismo cada vez maior entre as formas como nós entendemos o mundo — e o que queremos dele. Acho que temos diferenças irreconciliáveis.

Vocês queriam “negócios” grandes, gordos, lentos. Nós queremos comércio ágil, pequeno, em micro-escala.

Vocês transformaram política em um palavrão. Nós queremos democracia profunda e autêntica ­— em todo lugar.

Vocês queriam fundamentalismo financeiro. Nós queremos uma economia que faça sentido para as pessoas — não só para os bancos.

Vocês queriam valores para os acionistas — gerado por CEOs valentões. Nós queremos valor real, gerado por pessoas de caráter, dignidade e coragem.

Vocês queriam uma mão invisível — ela se tornou uma mão digital. Os mercados de hoje são aqueles onde a maioria das transações são feitas de maneira literalmente robótica. Nós queremos um aperto de mão genuíno, com confiança de ambos os lados.

Vocês queriam crescimento — e rápido. Nós queremos desacelerar — para nos tornarmos melhores.

Vocês não se importaram com quais comunidades teriam seus crescimentos impedidos, ou com quais vidas afundariam. Nós queremos uma maré alta que levante todos os barcos.

Vocês queriam a vida em tamanho extra grande: McMansões, McCarrões, McComida. Nós queremos humanizar a vida.

Vocês queriam condomínios fechados e anti-comunidades cheias de muros. Nós queremos uma sociedade sedimentada em comunidades autênticas.

Vocês queriam mais dinheiro, crédito e influência — para consumir sem parar. Nós queremos fazer bem feitas as coisas que realmente importam.

Vocês sacrificaram aquilo que tem significado pelo que é material: vocês venderam as coisas que nos tornaram o que somos, em troca de bugigangas, cacarecos e aparelhos triviais. Nós não estamos à venda: estamos aprendendo a novamente fazer aquilo que tem significado.

Há um abalo tectônico chacoalhando o cenário social, político e econômico. Os últimos dois pontos acima são os que expressam isso de forma mais concisa. Eu odeio rótulos, mas vou aplicar um falho e imperfeito: Geração “M”.

O que significa esse “M”? Primeiramente, significa movimento. Tem um pouco a ver com idade, mas principalmente tem a ver com um número cada vez maior de pessoas que estão agindo de maneira muito diferente. Elas estão fazendo algo que em inglês eu chamo de meaningful stuff that matters the most — as coisas significativas que mais importam. Estes são o segundo, terceiro e quarto “M”s.

A Geração M é paixão, rensposabilidade, autenticidade e desafio às modas antigas. Em todo lugar que eu olho, vejo uma explosão de negócios, ONGs, comunidades open-source, iniciativas locais e governos seguindo estes preceitos. Quem pertence à Geração M? Obama, um pouco. Larry e Sergey, do Google. Os caras do Threadless, do Etsy, do Flickr. Ev, Biz e a turma do Twitter. Tehran 2.0. O pessoal do Kiva, do Talking Points Memo e do FindtheFarmer. Shigeru Miyamoto, Steve Jobs, Muhammad Yunus e Jeff Sachs são como os avôs da Geração M. E há muito mais de onde estes inovadores vieram.

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A Geração M não é apenas algo bacana, é vitalmente necessária. Se você acha que os Ms soam idealistas, pense de novo.

A grande crise não vai embora, mudar ou “morfar”. Ela é a boa e velha crise antiga, e está crescendo.

Vocês falharam em reconhecê-la pelo que ela realmente é. Ela está, como eu apontei repetidamente, nas nossas instituições: as regras pelas quais nossa economia é organizada.

Mas elas são as suas instituições, não as nossas. Vocês as fizeram. E elas estão quebradas. É isso que eu quero dizer:

“…Por exemplo, a indústria automobilística cortou tanto a sua produção que os inventários estão começando a encolher — mesmo frente a uma demanda historicamente baixa por veículos automotores. À medida que a economia se estabiliza, apenas diminuir o ritmo desse encolhimento de inventário vai aumentar o produto interno bruto, ou PIB, que é a produção total de produtos e serviços da nação.”

Se livrar do estoque de SUVs construídas com tecnologia de 30 anos de idade vai aumentar o PIB? E daí? Não poderia haver um exemplo mais claro para ilustrar como o conceito de PIB é completamente falho, uma instituição obsoleta. Nós não precisamos de mais iates terrestres abarrotando as ruas: nós precisamos de uma indústria automobilística do século 21.

Eu estava brincando (parcialmente) sobre a separação lá no início do texto. É assim que eu vejo a coisa: cada geração tem um desafio, e este, penso eu, é o da nossa: pagar o pato da geração anterior, e criar, no lugar, uma prosperidade compartilhada de maneira autêntica e sustentável.

Qualquer um, jovem ou velho, pode responder a esse chamado. A Geração M tem mais a ver com quem você é o que você faz do que com quando você nasceu. Então a questão é essa: você ainda pertence ao século 20, ou está no 21?

Com amor,

Umair e a Edge Economy Community

PS.: Comente com pensamentos, perguntas ou mais exemplos de pessoas ou empresas da Geração M, porque eu deixei muita coisa de fora.

Original: The Generation M Manifesto
Tradução: Fabio Bracht 

Umair Haque

Umair Haque é diretor do Havas Media Labs e autor de <em><a>Betterness: Economics for Humans</a></em> e <em><a href="http://hbr.org/product/the-new-capitalist-manifesto-building-a-disruptive/an/12794-HBK-ENG?N=4294841678&Ntt=umair">The New Capitalist Manifesto: Building a Disruptively Better Business</a></em>. Considerado um dos mais influentes pensadores sobre gerenciamento pela <a href="http://hbr.org/web/slideshows/the-50-most-influential-management-gurus/1-christensen">Thinkers50</a>. Twitter: <a href="http:"