Em 2012, quando estava na faculdade de jornalismo (e não faz tanto tempo) eu não tinha celular com whatsapp. Alguns tinham, mas muitos outros também não tinha. Recém emigrados do Orkut, o Facebook só era acessado quando estava diante de um computador e raramente, pelo celular com Wi-Fi.
Dados eram caros.
Em um curto período de tempo o modo das pessoas de se relacionar com as redes mudou e muito.
O documentário O Dilema das Redes (2020, Netflix), dirigido por Jeff Orlowski, mostra precisamente o impacto destas mudanças no comportamento individual. Mais que isso, o documentário mostra o impacto das redes na sociedade e também alerta que buscar soluções para lidar com estes problemas é preciso e urgente.
[Se você não assistiu o documentário, pode se sentir um pouco perdido neste texto. É um filme que vale a pena assistir pela discussão: redes sociais, saúde mental, manipulação por interesses comerciais, prejuízos coletivos, responsabilidade das empresas, entre outros. Vamos tentar aprofundar em algumas destas questões sem deixar ninguém de fora.]
1. Analise a questão como individual e coletiva
Ao longo de todo este texto (e nas reflexões que você terá posteriormente, quero propor que pensemos o dilema das redes usando duas lentes, que dois óculos que se complementam:
1) um aproxima a imagem, assim a gente pode ver e cuidar das instâncias individuais do dilema: como isso me afeta? Como isso afeta meus filhos? O que eu posso fazer?
2) outro afasta a imagem, assim podemos ver e pensar nas instâncias coletivas: como isso muda a sociedade? Como isso afeta a vida ou sanidade mental da humanidade que habita o século XXI? O que devemos fazer como grupo, como cidadãos?
Estima-se de 3,6 bilhões de pessoas estão fazendo uso das redes sociais. 3,6 bilhões representa basicamente metade da população mundial. É muita gente! Ao mesmo tempo, esse número me leva a pensar na outra metade da população mundial. Naqueles que eu não vejo, não conheço e que vivem independente das redes.
2. Observe: estamos vivendo OnLife?
Não foi erro de digitação. É OnLife mesmo, no sentido de "vida conectada". O filósofo da informação Luciano Floridi usa esse termo para dizer que a vida não tem mais uma divisão clara do que é estar Online ou Offline.
Os aparelhos já são extensões do nosso corpo (como previa McLuhan); boa parte da estrutura cotidiana (bancos, comércio, base de dados) dependem de conectividade; e, mesmo quando deixamos os aparelhos em tela de descanso, estamos a um segundo de estar online (seja por vontade própria ou quando somos involuntariamente arrebatados por conexões).
[Para quem quiser se profundar, o Floridi escreveu o OnLife Manifesto, documento de acesso aberto que traz algumas propostas e questões para cultivar a humanidade na era OnLife. Infelizmente não temos uma versão traduzida]
Em 1996, Pierre Levy já explicava virtual não é o contrário de real. Virtual é aquilo que existe em deslocamento de tempo e espaço. É a mensagem, seja na garrafa ou no whatsapp, que sai da ilha e chega até o continente para ser lida duas ou três semanas depois de escrita.
Com o avanço da tecnologia o deslocamento de tempo é cada vez menor, enquanto o de distância pode ser cada vez maior!
Falo disso porque é importante entender que a virtualidade já é parte incrustrada no cotidiano, nas estruturas contemporâneas. Ela não é algo paralelo à realidade, ela faz parte da realidade. Não é simples (e em muitos casos não é possível) se abster das redes, excluí-las, ficar off.
Então, como podemos lidar com as redes de um jeito mais construtivo, menos passivo, menos manipulado? Como podemos colocar nossas necessidade humanas, individuais ou coletivas em primeiro lugar?
3. Troque o Medo pela Consciência
Voltando de novo, em 2012 eu comecei a pesquisar classificação indicativa de filmes. Tem uma grande semelhança entre o tema e o "perigo das redes sociais": a tensão constante entre medo das influências negativas nos mais jovens e a vontade de cultivar uma mídia livre.
As mídias (pelas redes, TV ou rádio) fazem parte do nosso dia a dia e podem nos influenciar, influenciar nossas crianças. Não há como negar. Mas nós também temos — ou se não temos, podemos desenvolver —habilidades para equilibrar nossos comportamentos e determinar como queremos absorver ou lidar com determinado conteúdo.
O grande problema, como os especialistas dizem documentário, é que as redes interferem mais diretamente e constantemente no nosso comportamento portanto. Soma-se a isso o fato de que elas mudam muito rapidamente e que boa parte dessas produções/decisões não passa pelo crivo humano, portanto o desafio é bem maior!
Eu não sou muito fã das abordagens do perigo, do "isso é o crack que vai acabar com a sua vida". Mas acredito que é preciso ter consciência.
Ao invés de ficarmos aterrorizado pelos algoritmos personificados em simpáticos controladores de mente, o documentário tem uma função essencial de conscientizar sobre os processos que estão acontecendo do nosso mundo.
Conscientizar é te dar informação para que você possa moderar o seu uso com mais autonomia, de acordo com aquilo que faz sentido para você. A partir da visão dos desafios podemos fomentar uma indústria da mídia sociais com regulação e com parâmetros que contribuam para a vida humana.
O Dilema das Redes e as suas propostas, tem a ver com o seu celular, o seu Instagram, mas também tem tudo a ver com política e economia. Sob a lente do coletivo, é importante que nós, e o poder público, possamos considerar o campo do virtual e os direitos digitais como mais uma instância a ser gerida no século XXI.
4. Observe: você é viciado em redes sociais?
Para definir um vício especialistas se apoiam em alguns parâmetros de comportamento: frequência do uso daquilo em que se é viciado, sentir-se ansioso ou nervoso quando não tem acesso aquilo, ter de interromper a rotina para ter acesso àquilo, deixar de atender a compromissos por conta do uso e outros parâmetros que não estão nas minhas competências listar.
Quando você dá check em vários desta lista, podemos caracterizar um vício.
Mas a psicologia social nos ensina que o desenvolvimento do vício também está relacionado a condições de vida das pessoas. Ambientes com mais estresse e menos segurança, por exemplo, tornam os indivíduos mais vulneráveis a desenvolver vícios.
Vou trazer meu caso para dar um exemplo:
Na minha rotina, eu paro o que eu estou fazendo várias vezes ao dia para usar as redes sociais. É uma escapatórias fácil ao menor sinal de desconforto. No entanto, aos finais de semana, quando estou com meu companheiro ou entretida com uma conversa ou até um filme, eu esqueço completamente que existe celular.
Eu entendi portanto, que quando eu estava fazendo algo que eu realmente queria, me relacionando com pessoas amadas, eu não tinha interesse nas notificações. Mas, dentro de um escritório, eu ficava buscando migalhas de contato através das redes.
Lembra que as redes fazem parte de toda a estrutura da vida contemporânea? Ela é tão atraente porque consegue aplacar algumas das nossas necessidades humanas básicas: atenção, distração, lazer, risada, ser parte de uma comunidade.
Ao tentar identificar seu vício no celular, nas redes, observe o seu contexto como um todo. O que você busca ao verificar constantemente as notificações? Quais são suas necessidades? As redes são mesmo a melhor forma de atendê-las ou estão servindo como um "analgésico"?
Nossa proposta:
Se é descanso, tente se dar ao direito de descansar por uma hora ao invés de gastar, picadinho ao longo do dia, 2 ou 3 horas de procrastinação das redes. Se é contato, olhe para essa necessidade, marque conversas por vídeo chamada, cultive relações significativas.
Não é simples ou fácil, sabemos, mas tente aos pouquinhos.
Deixar de ser “rebanho controlado por algoritmos” não é apenas sair das redes, é todo um movimento de olha para si como um indivíduo, prestar atenção nas suas necessidades e adaptar as mudanças para cuidar da sua relação com as redes.
5. Está na hora de apagar suas redes sociais?
Apagar não é uma obrigação, mas como o Lanier coloca ao final do documentário, é um convite para mostrar que, da mesma maneira que não precisamos apagar para ter vida, também não precisamos estar nelas para estar no mundo.
Pense na sua rotina, faça uma lista de prós e contras e experimente.
Experimente apagar, não a conta, mas alguns aplicativos. Tire eles do seu celular por umas semanas. Veja como se sente.
Se a falta de um atrapalhar suas relações, trabalho, volte. Se não sentir muita falta de outro, não volte.
Quando eu conheci Lanier pela primeira vez, em 2018, me se senti compelida a apagar as redes. Trabalhando com redes sociais, deletar contas teria um impacto mais negativo no meu cotidiano que o próprio uso das redes.
Mas a reflexão me fez muito bem. Ao invés de apagar, passei a ter um olhar mais atento e consciência para fazer uso das redes de maneira positiva.
Como precisamos refazer a internet?
O Jaron Lanier também fala sobre como imaginar uma internet mais positiva e sobre possíveis alternativas que beneficiem os humanos que as usam e não os interesses comerciais.
Segundo ele, bastaria o esforço de duas gigantes — Google e Facebook — para causa uma revolução. Ele não demoniza as redes, mas diz que a mudança é urgente e que, enquanto as empresas não se mexem, sair delas, ainda que temporariamente, seria uma pressão política importante.
Para assistir legendado, dê play no vídeo, clique em ativar legendas, depois em configurações> legenda > e selecione português.
6. Entenda o que ser usuário que dizer
“As únicas indústrias que chamam seus consumidores de usuários são a das drogas e da internet”
Essa frase tem um impacto enorme. Ela quebra qualquer expectativa ao inverter as certezas. Ela nos faz prestar atenção em uma estrutura que, se pudesse escolher, nos manteria distraídos.
Valorizada a potência provocadora da frase, me parece importante desmistificá-la para que a gente entenda o real motivo pelo qual os internautas são chamados de “usuários”.
O chama-se quem participa da internet de usuário porque a sua estrutura rompe o paradigma unidirecional de consumo de mídias ou de produto.
Me explicando melhor:
No teatro, no rádio, na televisão há uma clara divisão entre público e artistas. A audiência assiste o que diretores, roteiristas e atores criaram. Ao fazer uma compra, o consumidor, pode escolher qual das opções prefere, mas não terá efetiva participação no processo de criação e desenvolvimento.
Na internet o público não é mais consumidor/audiência passiva. Rompe-se com a dicotomia de “muitos consomem o que poucos produzem”. Nascem os prosumidores (produtores-consumidores).
Seja no Instagram, Facebook, YouTube, TikTok ou TwitchTv, as plataformas, com toda a sua complexidades tecnológicas, são vazias de conteúdo se não tiverem pessoas. Quem usa as redes cria conteúdo, consome conteúdo, reage, crítica e inventa usos que não necessariamente foram previstos pelos programadores.
É por essa relação de uso multidimensional que aqueles que povoam as redes são chamados de usuários.
Trago isso não para deslegitimar o que foi colocado no documentário, mas pra gente entender as camadas de complexidade dessa relação.
Como os especialistas do documentário apresentam, não existe um gênio do mal tentando controlar a mente de bilhões de cidadãos. Eu arriscaria dizer que os danos são efeitos de uma estrutura apressada que foca na capacidade de gerar receita, dinheiro, ações, valores comerciais. Nessa corrida que supera a velocidade humana, gestores, CEO e programadores não priorizando o bem-estar do “usuário” porque:
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Desacelerar o trabalho para checar possíveis efeitos negativos (ou limitar o produto) pode doer no bolso das grandes empresas
2. O usuário é visto como alguém autônomo e que deveria regular o uso por si mesmo.
Podemos assumir o papel de usuários, não no sentido de alguém que está debilitado por um vício, mas no sentido de alguém que entende a relevância da sua presença naquele espaço e passa a definir por si que uso quer fazer ele.
8. Preserve sua atenção, se pressione menos.
O documentário mostra uma face muito cruel da estrutura capitalista da era das redes.
Em linhas gerais podemos dizer que as redes sociais são um modelo de negócios no qual vários indivíduos usam plataformas de conexão que lucram não a partir do uso, mas a partir da venda da atenção destes indivíduos. Já ouviu falar de economia da atenção?
Há quem diga que a atenção é uma commodity atualmente tão valiosa quanto o petróleo (e também tão disputada e limitada quanto ele).
Como O dilema das redes coloca, se você não paga pelo produto, você é o produto. Acontece que um indivíduo faz da plataforma é explorado em outras instâncias também. Afinal, ele é produto sendo que também é produtor.
Christian Fuchs vai fazer uma análise do capitalismo na era do Big Data, mostrando que quando o conteúdo criado não reverte em qualquer fração de centavo para quem o criou, está havendo uma exploração do trabalho e da criatividade digital.
Se apenas os grandes criadores de conteúdo, influenciadores profissionais, recebem centavos por cliques, o conteúdo cotidianamente gerado por usuários amadores também tem algum valor para as redes.
Os usuários, amadores ou profissionais, preenchem a rede de conteúdo, cedem seus dados de comportamento e seguem gerando engajamento de outros usuários nas interações diárias. Tudo isso serve como moeda de troca para acordos comerciais entre as empresas.
Os usuários não receberem nada além da gratuidade do serviço. Além disso, ainda recai sobre eles (nós) a responsabilidade de gerir o uso e prevenir os danos.
Lipovetsky e Serroy já diriam que vivemos em uma era muito “individual”, o que não quer dizer egoísta, mas reflete valores em que cada um é individualmente responsável por cuidar de muitas questões que são coletivas e que poderiam ser pensadas em grupo.
Há muita coisa recaindo sobre nós na economia da atenção e das responsabilidades individuais. Na sua vida pessoal, olhe para o dilema das redes não como mais uma lista de lutas que tem de ser incluídas nas suas tarefas, mas como um convite para sair do automatismo e cuidar de si.
Preserve sua atenção entendendo que ela é limitada. Sabia que o hormônio da atenção, em altas doses, é o responsável por gerar sintomas graves de estresse no corpo? Aliviar o senso de urgência — seja no sentido de atender às notificações ou de resolver o dilema das redes — pode te fazer bem.
Talvez você vá perder notícias quentinhas, talvez fique de fora de um meme, talvez você não apague suas redes essa semana, talvez não diminua seu uso no próximo mês, mas quem sabe aos poucos você vai encontrando pontos de equilíbrio que faça sentido e que encaixe na sua rotina como um alívio e não como outra obrigação.
Precisamos lidar com os problemas da virtualidade, mas podemos pensar nisso coletivamente e a longo prazo, deixando o peso individual mais leve.
9. Como podemos pensar no dilema das redes coletivamente?
Botando a lente da observação coletiva, é chave que a gente consiga entender como as redes e a internet são uma estrutura do mundo em que vivemos tal qual rodovias, redes de ensino, relações de trabalho e, portanto, é preciso regulação, fiscalização e cuidado vindo do poder público.
No Brasil, temos a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) como um órgão regulador de mídias e conectividade, mas me parece necessário movimentações nacionais e transnacionais maiores e mais concentradas na virtualidade e suas implicações.
Três desafios se destacam:
- As redes ultrapassam em muito o conceito de fronteiras nacionais
- As transformações das redes são mais velozes que as adaptações legislativas
- O volume de dados ultrapassa a capacidade de processamento humano (BigData)
Para que essa discussão não fique muito vaga, vou citar aqui algumas possibilidades de políticas coletivas que podem ajudar nas proteção do bem-estar e dos direitos dos humanos de todos que usam as redes.
9.1 Quem sabe um órgão externo regulador?
Se voltarmos alguns anos, na era de ouro da televisão, veremos que muitos já se preocupavam com o efeito da influência das telas em seus filhos: desenhos violentos, propagandas infantis, cenas sensuais nas novelas…
Tudo isso foram temas que tiveram de ser adereçados por um órgão regulador da mídia brasileira. Antes de um filme ser lançado no cinema, ele passa pelo ministério da justiça no caso do Brasil e, nos EUA, por uma associação de pais não governamental chamada MPAA.
Estes órgãos garantem que as tensões e interesses comerciais da mídia não prejudiquem os cidadãos. Na internet, esta regulação não incidiria necessariamente sobre os conteúdos postados, mas sobre as regras de utilização, os termos e condições das plataformas, sobre os limites das ferramentas, entre outros.
9.2 Que tal um “Teste de colisão” para uso das redes?
Antes de lançar um carro, a montadora realiza testes de colisão para garantir que, em caso falha humana, a máquina ofereça a maior segurança possível para motoristas e passageiros, certo?
Imagine que o tal órgão regulador determinasse portanto que uma equipe, incluindo psicólogos e comunicadores externos a empresa, conduzissem pesquisas para avaliar os impactos das plataformas lançadas, podendo requisitar então, alterações de programação que reduzam danos.
O resultado poderiam ser regras programáveis como por exemplo:
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Limites para notificações
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Avisos mediante excesso de horas
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Limite para o “feed infinito”
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Mais transparências nas informações sobre a lógica dos algoritmos
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Produção e distribuição de conteúdo informativo sobre uso consciente das redes pela própria plataforma responsável.
(Quase um "Se beber, não dirija")
Essas medidas, que hoje recaem como uma escolha e responsabilidade dos usuários, passariam a ser, também, de responsabilidade das empresas, como já acontece em algumas indústrias.
9.3 E se a gente pagasse para não ser o produto?
Uma das propostas que o Lanier apresenta é que aqueles que tem condições poderiam pagar pelo serviço de utilização. A taxa deveria ser baixa, compensando para a empresa pelo volume de usuários.
Se você acha que seria impossível, vale lembrar que nos últimos 5 ou 6 anos aprendemos a embutir os 20 reais do nosso serviço de streaming favorito (Netflix, Globoplay) nas nossas contas do mês.
Ainda assim temos que considerar que, para muitos, qualquer valor cobrado é muito alto, e se tornaria um impeditivo para o uso, criando um abismo digital ainda maior.
Não temos respostas prontas, temos desafios sobre os quais é necessário pensar.
Para que o abismo digital não se amplie, podemos pensar em possibilidades de taxas relativas: aqueles com mais condições pagam um valor um pouco maior (e que ainda assim não seja grande), de modo que aqueles que não possam tenha acesso gratuito, como num princípio de equidade.
Menos equitativo, mais ainda possível, seria um modelo parecido com os streaming de música, no qual você pode pagar para não receber anúncios, ou usar gratuitamente com anúncios.
10. O que alterar no seu celular desde já?
Voltando para as lentes individuais, desde já você pode alterar coisas no seu comportamento para que você tenha mais conforto e autonomia. Vou propor aqui algumas recomendações, lembrando que é importante que cada um pense no que faz sentido para si e adapte pra sua rotina.
10.1 Só observe por uma semana
Acho importante dedicar um tempo para, depois de entrar em contato com todos estes conteúdos, só observar como tem sido sua relação com as redes. Pode ser que neste período, mesmo sem excluir nada, sem colocar bloqueadores, a sua interação já mude só por ter se tornado mais consciente e portanto mais autônoma.
Um exercício é: antes de abrir a tela, pare e pense "eu quero olhar? O que eu quero ver? Foi só um tic?".
A partir dessa observação você vai poder entender:
– O que está te impactando negativamente?
– Em que momentos as redes tem te trazido sentimentos negativos?
– O que você gostaria de mudar a princípio?
10.2 Faça uma faxina nos seus aparelhos
Principalmente agora com os homeoffice, fica fácil ver o quanto um quarto bagunçado atrapalha a organização mental e o foco. A mesma coisa acontece na sua relação com aparelhos eletrônicos.
Apesar da bagunça não ocupar espaço físico, a bagunça nos aplicativos, notificações, tela, álbuns de fotos, são distrações extras que competem pela sua atenção e podem trazer inquietações, como se sempre tivesse algo pendente, a ser feito.
- Marie Kondo nos aplicativos: apague os que você não usa rotineiramente.
- Organize as telas e pastas: crie classificações que sejam fáceis de localizar sem você tenha que ver dezenas de ícones o tempo todo.
- Limpe e armazene seus arquivos: guarde as fotos, salve seus dados em um HD, pen-drive (não fique 100% dependente de serviços como o Google Drive).
- Nos aplicativos que ficaram, altere as notificações: silencie notificações desnecessárias, altere o modo como elas aparecem (uma boa dica é optar por não mostrar o número de notificações a frente do ícone).
- Se achar que vale, também leve a faxina para dentro dos aplicativos: deixe de seguir algumas contas, dê prioridade para quem realmente te interessa, altere as configurações de privacidade.
Se estiver na dúvida sobre apagar redes sociais, eu sugiro tirar o aplicativo do celular, sem apagar a conta, e ficar um tempo sem, observando como você se sente e como prefere seguir: se sem o aplicativo; se com o app, mas sem notificações…
10.3 Aplicativos de controle de tempo
Existem uma série de aplicativos de controle de tempo no uso das redes sociais e que também bloqueiam o aplicativo após determinado tempo, estipulado por você.
Falando sobre a minha experiência, eu nunca conseguir cumprir o limite de tempo que eu estabelecia. O aviso de "este aplicativo será bloqueado", só me deixava mais ansiosa, decepcionada comigo mesma e ávida por as horas disponíveis. Afinal, eu precisava aproveitar muito bem minhas duas horas de Instagram.
“Ah então não funcionou?”. Não exatamente, mas indiretamente teve seu efeito.
O relatório de tempo de utilização me permitiu ser consciente do quanto de tempo eu gastava nas redes. Tendo consciência desse número eu comecei a mudar meu comportamento, não pelo aplicativo, mas pelo exercício de, aos poucos, questionar os motivos do meu uso, além de como e onde eu queria gastar meu tempo.
10.4 Experimente tirar as cores
Uma estratégias dos desenvolvedores para tornar as plataformas e notificações mais atrativas, te conduzindo a clicar em um botão e não no outro, são as cores.
Nosso querido Guilherme Valadares foi quem me mostrou essa tática de tirar as cores do celular para que você possa ver cada página com mais calma, direcionar sua atenção para onde necessitar e não para os símbolos que gritam pela sua atenção.
10.5 Mantenha o significado do uso em mente
Só este ponto daria mais longo texto (digam nos comentários se gostariam que eu me aprofundasse nisso num próximo texto). De modo geral, assim como no exercício da observação, aqui a proposta é sempre pensar no significado das interações.
- O que você busca ao checar o Whatsapp? Seria interação com amigos? Como deixar estas interações mais significativas?
- O que você gostaria de comunicar ao fazer um post? Ao postar algo, você leva em consideração o impacto que isso pode ter nos humanos do outro lado da tela?
- O que você busca ao rolar um feed? Se informar? Como você poderia trocar o "ver vários só por cima" pelo "ver alguns que realmente me interessam com atenção?"
10.6 Na medida do possível, procure se informar e se atualizar sobre o tema em fontes confiáveis
Se você chegou até aqui você já está colocando este exercício em prática. Eu procurei trazer algumas informações que me fizeram conseguir navegar por este universo com mais equilíbrio e espero que elas acrescentem.
Não me atrevi a falar sobre crianças e tela, porque não sei sobre o tema, mas encorajo fortemente que quem tenha filhos busque informações e apoio para conseguir fazer das redes um aliado construtivo (eu acredito ser possível).
Há muito mais além deste texto para ser explorado e, na medida do nosso possível, sem tanta pressão para ter todas as informações do mundo, buscamos entender melhor este universo para, então, desenvolver consciência e autonomia.
Me contem aqui nos comentários quais tem sido as maiores dúvidas, aflições ou desafios no uso das redes! Podemos aprofundar em outros pontos num próximo texto.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.