Professor indiano da Universidade de Stanford defende uma tese que, para nós, vai soar radical: que casamentos arranjados são melhores e geram mais felicidade que os casamentos por amor.

Será?

casamento indiano

Leiam esse trecho, tirado de uma matéria da Folha:

“O maior problema da escolha amorosa como a conhecemos, diz o professor, é exatamente o fato de que há apenas um candidato por vez –a “escolha sequencial ou por amor”, como ele chama–, o que levanta a suspeita de que talvez o próximo seja mais interessante.
“Na escolha por amor, tendemos a acreditar que pode haver coisa melhor no futuro”, diz. “Aí, cada pequeno problema que surge na relação gera uma insatisfação enorme, e você começa a duvidar da opção que fez.”
O casamento arranjado pode ter vários problemas, mas esse não é um deles. “A decisão simultânea, na qual há vários candidatos e um é escolhido, traz menos dúvidas,” afirma. “Você, que optou por uma entre três mulheres, e não por uma entre todas as mulheres do mundo, sabe o que deixou para trás. Então a aceita e vai em frente.””

Como leitor atento de História, e conhecendo o egocentrismo inato, a eterna insatisfação, as expectativas irreais dos seres humanos, eu nunca tive a menor dúvida de que os cônjuges em casamentos arranjados eram mais felizes.

No nosso típico casamento ocidental, o dia da festa é um clímax de felicidade completamente irreal, a culminação explosiva de expectativas que não poderiam ser mais mirabolantes. Desse ponto em diante, a relação só pode ir pra baixo.

Em um casamento arranjado, o clima do segundo dia é outro:

“Bem, já que estamos aqui, vamos fazer essa merda funcionar.”

Uma atitude, convenhamos, mais pragmática e madura do que o nosso jeito narcissista de encarar a coisa:

“Como posso tirar o máximo possível de felicidade desse relacionamento? E, se a felicidade diminuir, qual será o momento ótimo de pular fora e ser mais feliz com o próximo?”

Não estou recomendando que ninguém peça aos pais para arrumar um cônjuge, mas é sempre bom dar um passo para trás e tentar se olhar com olhos externos.

O amor romântico ainda faz sentido como base de uma relação estável?

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(E, afinal, por que você quer tanto ser feliz?)

família nuclear

E os filhos?

Ninguém precisa estar casado para criar filhos direito.

A família nuclear monogâmica heterossexual é tão válida como qualquer outra, mas acho graça quando as pessoas se referem a ela como sendo “a norma”, “o normal” ou como algo que a modernidade corrompeu mas temos que “resgatar”. Resgatar de onde? Normal em relação a quê?

Em milhares de anos de história dos relacionamentos humanos, passando por todas as combinações possíveis e imagináveis, esse pretenso paradigma não foi a regra nem mesmo na pequena parte do mundo que pretendeu fazer dele a regra: por exemplo, hoje nos EUA apenas 25% das famílias são a típica família nuclear monogâmica heterossexual.

Só muita ignorância da diversidade cultural humana explica considerar esse tipo de família como a regra geral da espécie em todos os tempos.

(Sobre isso, recomendo o artigo Iconic ‘Nuclear’ Family Is a Work of Fiction (“A família nuclear icônica é uma ficção”), ou o sensacional livro O mito da monogamia, que traça as origens culturais da monogamia pelas sociedades humanas e por outras espécies animais.)

Documentário “Poliamor” de Zé Agripino no Vimeo.

Casamento não tem nada a ver com amor

Se você ama alguém, pode passar a vida inteira com ela sem precisar envolver o Estado — até que porque, no Brasil, como o Estado já forçosamente se mete na relação, ninguém de fato precisa casar.

Casamento é um contrato entre duas pessoas que, na prática, une duas famílias.

Ainda consigo ver o sentido do casamento burocrático. De casar pelo plano de saúde, pela hipoteca, por uma cidadania.

Casar por amor romântico monogâmico? Não vejo motivo pra se fazer mais isso.

Como afirmou uma velha lady inglesa, se separar de alguém só porque você não a ama mais faz tão pouco sentido quanto se casar com ela só porque você a ama.

Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu