O Santander Brasil soltou a divulgação de uma campanha de antecipação do FGTS (aliás, não só esse banco, Bradesco já fez o mesmo). Ou seja, você pega um empréstimo e quita quando o benefício sair.

O vídeo de divulgação (marketing pra lá de desonesto, "banco amigão") foi publicado hoje pela manhã e certamente vai colocar no balaio dos pagadores de juros pessoas que hoje estão com as finanças razoavelmente saudáveis, que talvez nem precisem de um empréstimo. A campanha começa com um "não é legal achar dinheiro no bolso da calça? pois foi isso que aconteceu!", depois solta um "as calma! A gente não sabe quando você conseguirá sacar esse dinheiro!", para depois finalizar com um "não tem problema! o Santander antecipa".

Faltou explicar que o banco vai morder uma parte gigantesca desse valor, em juros. Fiz uma simulação boba aqui, para resgatar antecipadamente 40 mil reais, e a taxa ofertada foi de quase 4% ao mês. Se eu der uma sorte tremenda e meu FGTS for liberado entre outubro e novembro de 2017, ao invés de receber os 40, receberei 24. Ou seja, 16 mil reais vão embora, em juros.

É como pegar 160 notas de 100 e rasgar, uma por uma.

Ninguém aqui está jogando dinheiro pro alto

Só faz sentido antecipar se for para quitar uma dívida cara, como um cartão de crédito atrasado ou um cheque especial. Mesmo nesses cenários, só vale se o pagamento do crédito for feito de uma vez só, na data estipulada, caso contrário será um baita esforço por nada.

Não faz sentido antecipar o FGTS para abrir um negócio, por exemplo, como a propaganda do Bradesco sugere. Já é difícil fazer um negócio rodar tendo o dinheiro para bancar a operação, imagina fazer a coisa funcionar com o banco mordendo um pedacinho do faturamento todos os meses.

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Não duvido que vai ter agência dizendo pro cliente que dá pra sacar o montante inativo por lá (e vendendo o empréstimo no lugar), então sempre vale falar que o saque deve ser realizado diretamente na Caixa Econômica Federal.

Se por um acaso você se animou com a possibilidade de antecipar, pense com carinho se, de fato, você precisa da grana agora, e se vale a pena se desfazer de 30 ou 40% do que é seu, por direito. Não faz sentido se tornar um endividado por conta de algo que há 3 ou 4 meses você nem desconfiava que viria.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças