No cansaço de fim de ano tem sempre um bocado de clima de renovação. A vontade de ser uma pessoa melhor no próximo ciclo vem junto da listinha de mudanças. Aqui no PapodeHomem, decidimos convidar diferentes autores pra escrever uma lista de 15 práticas pra começar 2016 com o pé direito – um texto por dia com uma sugestão de mudança pra uma vida mais plena no próximo ano.

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Às vezes sou abordado por veículos que parecem querer uma entrevista, mas na verdade eles não desejam aprofundar naqueles pontos, eles desejam apenas… "conteúdo".

O crescente uso da palavra "conteúdo" para se referir a tudo o que é produzido online é reflexo de nossa cultura do entretenimento. É um paradoxo engraçado: ao chamar de conteúdo, aí sim é que não estamos olhando o conteúdo. Se a gente chamasse tudo de "um som", qual seria a diferença de uma música do Avishai Cohen para um jingle publicitário?

Melhor não pensar em termos de "conteúdo" porque isso implica em várias coisas: produzimos conteúdo, consumimos conteúdo, nosso cérebro recebe e processa informações, educação é transmissão de conteúdo, conhecimento é guardar e ligar conteúdos, felicidade é conectar conteúdos, eventos e histórias em uma grande narrativa… É um engano sem fim.

Ao gravar uma entrevista em vídeo com Jetsunma Tenzin Palmo sobre amor genuíno, não estamos produzindo conteúdo para um canal do YouTube! Há muitos processos aí: ela praticou por muito tempo, veio ao Brasil pela primeira vez, conduziu um retiro para muitas pessoas, teve seu livro traduzido e publicado, enfim, esse vídeo é parte de um processo que com certeza não tem a ver com conteúdos.

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Link Youtube – "Que conteúdo legal, Avishai Cohen!"

Se alguém ouve aquela fala poderosa sobre amor genuíno e diz "Que conteúdo legal!", você desconfia, não? Será que a pessoa realmente contemplou aquilo, será que visualizou como sua vida poderia se transformar, será que sonhou algum dia encontrar com uma mulher assim, ouvi-la por mais tempo, praticar o que ela praticou? Ou aquilo apenas entrou na playlist do dia?

Quando publicamos ou quando nos relacionamos com vídeos, textos, imagens, é melhor entender que estamos nos relacionando com comunidades inteiras, pessoas, organizações, visões, conversas, mentes, logísticas, servidores, algoritmos, contratos, emoções, vidas completas, não "conteúdo", não "informação".

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>