Na verdade, é tão absurdo quanto pagar 15 mil reais em um ano e meio de terapia, 15 mil reais na troca do carro atual por um carro melhor, 15 mil reais em uma viagem para a Europa, 60 mil reais numa festa de casamento (quando poderia pagar 45 por uma festa mais simples) ou 315 mil reais em um apartamento (quando poderia encontrar outro por 300).

O que determina que é aceitável gastar dinheiro com uma coisa, e não com outra, é meramente uma construção social. Um conjunto de premissas e restrições bastante opressor, que diz que é digno gastar dinheiro com uma viagem ou com um móvel bonito, mas que alugar um helicóptero para apreciar a orla carioca ou comprar um relógio caro é ostentação.

Muitas vezes o julgamento de valor tem relação com a duração do bem adquirido (“uma tarde é só uma tarde, o móvel estará lá para sempre”), mas esquecemos que a importância que as circunstâncias e fatos têm em nossas vidas independe dos minutos ou anos através dos quais perduraram. Outras vezes ele tem como base fatos mais concretos (“15 mil reais são mais de 20 salários mínimos!”) mas a gente deixa de lado o fato de que acha normal gastar 100/150 reais (20% de um salário mínimo) em uma noite comum na capital paulista.

Tomamos como referência a crença popular e, embalados, compramos os mesmos ideais de vida boa e felicidade. Deixamos o julgamento particular de lado (onde a gente acha que vai encontrar algo que nos chacoalhe, que nos bote brilho, traga benefício, tire do eixo?) e vamos nos convencendo do que pode e do que não pode.

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Endurecemos e somos incapazes de aceitar que pra uns, vale a pena desembolsar algumas dezenas de milhares de reais em um guarda-roupa versátil, em um ano sabático, ou em um Camaro, e tudo bem. E que pra outros vale a pena desembolsar algumas dezenas de milhares de reais para assistir o Brasil ganhando da Argentina na final da copa do mundo, e tudo bem também.

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Nota dos editores: esse é um post despretensioso, um formato rápido com o qual pretendemos experimentar para compartilhar com vocês ideias e recomendações que valem seu tempo.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças