O executivo que largou a Microsoft para ajudar crianças no Nepal

Você já parou para refletir como seria sua vida sem todas as oportunidades que teve? Você acredita que sem educação teria conseguido chegar na posição em que está? Você acha justo que algumas pessoas tenham essas oportunidades e outras estejam fadadas a não ter chance alguma?

“Não há nada que assuste tanto um homem quanto ser capaz de descobrir a enormidade do que ele pode fazer e se tornar” –Soren Kierkegaard

John Wood, cercado por criancinhas nepalesas sedentass de livrosJohn Wood, cercado por criancinhas nepalesas sedentas de livros

Um homem de sucesso… ou não?

John Wood era diretor de marketing da Microsoft na década de noventa, especialista em mercados internacionais e responsável pelas operações da empresa no continente asiático. Nessa época, o trabalho era penoso, a indústria de software se expandia e a empresa de Bill Gates era quem ditava as regras do mercado. Ser um executivo, nesse contexto, significava horas de trabalho além do expediente normal, sacrificar finais de semana e feriados para dar conta do trabalho e ajudar a gigante do software a prosperar. Apesar da correria, havia seus benefícios.

O executivo John vivia sozinho em um apartamento dois quartos de 185m², tinha um galpão para guardar as coisas que não cabiam mais em seu apartamento e dirigia um carro conversível, além de ter um excelente salário, claro.

Sete anos nesse ritmo e John começou a refletir sobre sua vida e a questionar se não havia nada mais além de longas horas de trabalho e altos salários. Apesar de ter tido sucesso, coisas como família e amigos estavam sendo sempre deixados em segundo plano.

Depois de uma reunião agitada com Steve Ballmer, decidiu tirar férias – algo que não fazia há muito tempo. Escolheu o Nepal. Fazer um trekking parecia uma boa ideia para esquecer um pouco o mundo corporativo.

Província de Lamjung, no Nepal
Província de Lamjung, no Nepal: tão pobre quanto tantos rincões no Brasil

A realidade não é como um Starbucks de Seattle

Já de férias no Nepal, John parou em um pequeno albergue, onde conheceu um senhor nepalês de cinquenta anos chamado Pasupathi, coordenador de educação das dezessete escolas da província de Lamjung.

Conversando com o simpático homem, John começava a perceber a situação difícil de uma área com poucas escolas, poucos professores, poucos livros suficientes. O povo entendia e valorizava a educação, mas o governo não tinha dinheiro para investir. Normalmente, as crianças estudavam somente até o quinto ano fundamental, e então abandonavam a escola para ajudar os pais na agricultura – que correspondia a 90% da atividade econômica. Além disso, as escolas eram esparsas e o transporte escolar deficiente.

Ao visitar uma escola com Pasupathi, John reparou na alegria do diretor e das crianças, mas ficou chocado com as condições do lugar. Por falta de carteiras, os alunos escreviam com os cadernos nos joelhos. Salas de aula com setenta crianças amontadas, chão de terra batida, teto de zinco que transformava a sala em um forno, muito diferente de qualquer escola americana.

Na biblioteca, o executivo-mochileiro encontrou um mapa-múndi desatualizado e antigo, com países que já não existiam. Quando perguntou pelos livros, um professor veio correndo com uma chave e abriu um armário com os seguintes títulos, todos esquecidos por mochileiros e viajantes:

  • um romance de Danielle Steel com um casal seminu se abraçando na capa,
  • um romance de Umberto Eco, em italiano,
  • um guia de viagem Lonely Planet para a Mongólia.

Apesar de inúteis, era tudo o que tinham e, por isso, tinham medo que as crianças os estragassem. Como criar o hábito da leitura com material tão raso? Antes que John pudesse falar qualquer coisa, o diretor disse algo que mudaria sua vida:

“Talvez um dia o senhor volte com livros.”

John começou a lembrar do seu tempo de colégio, dos livros que o pai lhe dava de presente, do seu primeiro contato com um computador, de todas as possibilidades que permitiram que se tornasse um grande executivo. E pensou que poderia ajudar aquelas crianças, mas como? Como enfrentar sozinho um problema tão grande?

James Wood: "Se não fosse por mim, você estaria lendo Umberto Eco... em italiano!"
JohnWood: “Se não fosse por mim, você estaria lendo Umberto Eco… em italiano!”

Um email pode fazer a diferença  (ainda mais se você trabalha pra Microsoft!)

Ao voltar, John enviou um email aos seus amigos e parentes. Alguns trechos:

“Uma medida da pobreza: os nepaleses têm renda per capita de U$$ 400. Um índice mais revelador: paguem U$$ 0,30 a uma família local e vocês terão uma boa cama para passar a noite. […] Quando mostrei um cartão postal de Sidney, meio amassado, os professores me perguntaram se não podiam ficar com ele para acrescentar ao seu mapa-múndi. […]
Pensem em quanto os livros significavam para vocês quando crianças e no que significam hoje para seus filhos. Depois imaginem ficar sem livros. Isso teria um impacto profundo na trajetória de suas vidas.
Se quiserem ajudar, há três coisas que vocês podem fazer:
1. Mandem quantos livros puderem para crianças e jovens de até 12 anos aprenderem inglês.
2. Repassem este email a amigos ou familiares que possam contribuir. Todo mundo conhece alguém que tenha um velho exemplar de “O Velho e o Mar” ou “Robinson Crusoé” jogado em algum lugar da casa. Se for mandado para o Nepal, será lido dezenas de vezes por alunos extremamente interessados.
3. Coloquem U$$ 5 ou U$$ 100 num envelope e enviem para mim. Vou comprar livros infantis em grandes lotes (dez por um dólar) em varejistas da internet e livrarias. Vou pessoalmente igualar todas as doações em dinheiro, um dolár meu por cada dólar recebido.
É uma oportunidade para fazer algo que pode parecer pequeno para vocês, mas que terá um grande impacto na vida dessas crianças a quem a pobreza e o isolamento têm negado uma boa educação.”

Graças a esse email, mais de 3.000 livros foram arrecadados, catalogados e enviados para a escola nepalesa.

No Camboja, a 2000ª biblioteca fundada pela ONG de James Wood
No Camboja, a 2000ª biblioteca fundada pela ONG de John Wood

Entretanto, de volta à rotina, John começou a sentir cada vez mais o desejo de abandonar tudo. Suas conquistas já não faziam mais sentido diante da realidade que havia presenciado no Nepal. Graças ao acesso que tivera à educação de qualidade, John tinha conseguido acumular muito dinheiro – e agora achava que tinha que devolver um pouco desse dinheiro ao mundo.

A decisão de abandonar a Microsoft foi tomada após uma visita de Bill Gates a filial chinesa. John trabalhou duro para tornar a recepção o mais agradável possível e para melhorar a imagem da Microsoft no país, mas percebeu que ele era apenas um detalhe da agenda de Bill Gates. “Que diferença eu faço aqui?”, se perguntou.

Ninguém é insubstituível. Apesar de bom executivo, ele era o tipo de profissional que a Microsoft poderia facilmente encontrar no mercado. Mas, se para Bill Gates ele era somente mais um, para aquelas crianças ele poderia realmente fazer a diferença. Não ganharia um cheque polpudo ou uma viagem para o Caribe, mas teria a certeza de ajudar o mundo a se tornar um lugar menos desigual.

E John aceitou o desafio.

É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros” –Bill Gates

Room to Read, a ONG de John Wood

Link YouTube | Vídeo de apresentação da ONG Room to Read, de John Wood

Para os ainda mais interessados, o livro de John Wood, Saí da Microsoft para Mudar o Mundo, já está disponível em tradução brasileira.

E você? Quantas pessoas ajudou esse ano?

Quantos livros VOCÊ já doou pra biblioteca da escola pública brasileira mais próxima?Quantos livros você já doou pra biblioteca da escola pública brasileira mais próxima?

John deu lições, de iniciativa, coragem, humanidade, humildade e comprometimento. Aquelas crianças não eram seu problema e não faziam parte da sua vida. Eram pessoas desconhecidas, que viviam do outro lado do oceano, em uma cultura totalmente diferente. Como tantos outros viajantes, John poderia ter simplesmente deixado sua cópia de O Código Da Vinci na biblioteca da escola e ido embora.

John não enviou apenas os livros, ele se comprometeu com a causa e largou um cargo que muitos sonham em ocupar. Hoje, ele continua trabalhando para ajudar as crianças da Ásia e da África a ler mais e melhorar de vida.

Você teria coragem de encarar esse desafio? De largar um bom emprego e dedicar sua vida a seres em outros mundos?

Aliás, do começo do ano até agora, quantas pessoas desconhecidas você realmente já beneficiou?

Jean F. Riffel

Morador da acolhedora Indaial, trabalha em Blumenau terra da Oktoberfest, não dispensa um chopp com os amigos. Amante do litoral catarinense, quando vai à praia esquece o caminho de volta. Trabalha e adora tecnologia, mas sempre está disposto a mudar para uma área mais divertida.

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