Recebi um convite muito especial dos amigos do Papo de Homem para falar um pouco sobre a minha história em torno do dinheiro, das decisões econômicas e da possibilidade de equilibrar a realização de sonhos com o simples consumo cotidiano. Conquistar a independência financeira antes que a idade te impeça de poder desfrutar dela plenamente, afinal, é uma questão de opção, disciplina e foco, mas também de aprender com os erros – seus e dos outros.

Não, amigo, planejamento financeiro não é como uma estratégia de pôquer​

Aceitei o desafio de misturar a minha história ao que aprendi sobre finanças pessoais. O resultado é o material que você lê a seguir. Importante salientar, no entanto, que o objetivo deste texto não é oferecer os “melhores investimentos” ou quaisquer “atitudes capazes de fazê-lo enriquecer rapidamente”. Nada disso. O artigo é um convite a uma reflexão mais simples, porém igualmente profunda, sobre o papel do dinheiro em nossas vidas.

A polêmica faz parte

O grande barato de falar sobre dinheiro é observar e questionar as reações dos interlocutores. Assim como futebol, política, sexo e religião, dinheiro é um daqueles temas que despertam nos outros as mais variadas sensações e trazem à tona verdades absolutas capazes de gerar debates bem intensos.

Eu, você, ele, ela, cada um acredita que cuida bem de sua vida e que dinheiro é um assunto pessoal demais para ser colocado em pauta. Mais: muitas vezes julgamos os outros mais pelas suas posses que pelos seus predicados pessoais/familiares; depreciamos os que parecem mais ricos e felizes e também aqueles que insistem em viver vidas financeiras simples, sem dívidas e muita ostentação.

É óbvio que viver endividado é perigoso e prejudicial; que ter o nome sujo e ser impossibilitado de comprar gera constrangimentos; que gastar mais do que ganhamos cria distorções capazes de fazer a família passar por sérios problemas. Não é preciso ser especialista para entender tudo isso. Por que, então, agimos assim? Porque sempre acreditamos que conosco “será diferente” e que as nossas justificativas são “de verdade”. O autoengano de cada dia fala muito alto.

Mas, o que é o planejamento financeiro?

A leitura especializada traz definições variadas, mas que giram em torno de um conceito único: conhecer seu padrão de vida e aprender a respeitá-lo possibilita que você faça melhor uso de seus recursos financeiros. A frase parece técnica, entediante e nos remete a uma vida de privações. Cuidado com as respostas fáceis demais.

Link Wat.tv | Afinal, não é porque se fez o primeiro milhão que se vai levar uma vida de Shaquille O’neal

Interpretar o planejamento financeiro como uma atividade ligada somente ao mundo dos sovinas é mais uma das muitas desculpas esfarrapadas que circulam por ai. Entendo que planejar-se financeiramente seja apenas mais uma de nossas responsabilidades diárias para com nosso próprio bem estar e qualidade de vida. E que cada um pode fazê-lo como bem entender, mas que é importante ter em conta que alguns limites e frustrações sempre farão parte de nosso dia a dia.

Como tudo começou para mim?

Sou diagnosticado com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), e uma de minhas principais características é o hiperfoco. Quando quero muito alguma coisa, vou até o fim para aprender e realizar aquele objetivo. Mas, ao mesmo tempo, sou dispersivo para questões secundárias, ficando facilmente entediado depois de algumas horas dedicadas a algo que não me agrada.

Isso explica porque sempre aprendi muito mais com exemplos que com palavras e simples sermões. Felizmente, vivi a infância e a adolescência cercado de pessoas curiosas e dispostas a responder grande parte de minhas perguntas. Filho de pai professor universitário (servidor público) e mãe advogada (autônoma), aprendi desde cedo que era muito importante equilibrar desejos e consumo.

Se de um lado a família tinha a estabilidade e a tranquilidade oferecidas pelo trabalho de meu pai, por outro existia sempre a possibilidade de tomar decisões mais ousadas com parte do dinheiro extra proveniente do escritório de minha mãe. As extravagâncias não faziam parte do nosso estilo de vida; o diálogo franco e a preocupação com o futuro sim.

Trago desta época alguns valores e princípios:

  • O trabalho, segredo da construção de qualquer ser humano e profissional, sempre esteve presente e, portanto, nunca me assustou. Nasci de cesariana e dois dias depois minha mãe estava trabalhando. Meu pai sempre deu aulas em períodos diversos, o que muitas vezes significava vê-lo apenas no almoço ou nem isso.
  • Valorizar o esforço pessoal se tornou uma marca registrada de minha personalidade. Entendi que somos reflexo de nossa forma de encarar os problemas e desafios, mas que todos merecem atenção independentemente dos resultados alcançados. Desde cedo fui envolvido nos ambientes de trabalho de meus pais e a diversidade presente em uma faculdade e no contato com clientes em um escritório de advocacia me fez perceber que são as pessoas os ativos mais valiosos que um sonho pode ter.
  • A frustração e os limites criaram situações difíceis em casa, mas nunca serviram como fator limitador. Vi, por muitas vezes, minha mãe chegar cabisbaixa em casa por uma reviravolta no trabalho. Ainda assim, ela era capaz de sentar por horas para me ajudar com os muitos trabalhos de história, sua outra paixão.

Os caminhos já existem, mas também podem ser criados

É. Fácil ninguém falou que seria​

Você deve estar se perguntando: “Que relação tudo isso tem com dinheiro e independência financeira?” É simples: para que sejamos pessoas melhores, mais completas e informadas, temos que cultivar e desenvolver algumas características. O dinheiro não deve ser uma disciplina à parte, mas parte dos exemplos dados em casa e na escola.

Em outras palavras, não adianta querer ensinar ou aprender tudo sobre dinheiro; é mais importante (e fácil) lidar com ele de forma adulta, menos estigmatizada. Assim dei meus primeiros passos: encarando o trabalho e o dinheiro como parte de meu cotidiano, como mera consequência do que eu desejava me tornar.

E nessa de me conhecer, errei. Errei muito. Não por causa do dinheiro, mas apesar do dinheiro. Desperdicei três anos de bons salários na busca de algo que não sei o que era, vi duas empresas minhas falirem diante de meus olhos e tentei começar outros dois negócios sem sucesso.

Você já se sentiu perdido?

Eu já. É normal. Então resolvi que eu poderia fazer a diferença trabalhando em uma grande empresa, uma multinacional. E foi o que fiz, mas não me senti plenamente realizado. Eu trabalhava muito, algo que aprendi que é bom, mas de forma desordenada e perigosa: minha saúde e meu primeiro casamento ruíram.

Aos 25 anos, eu estava exatamente onde estava aos 18, mas divorciado, passando por problemas graves de saúde e fazendo terapia. Eu me escondia nas justificativas, achava que “o mundo era injusto comigo”. O autoengano (lembra do começo do texto?) era conveniente e confortante. Eu estava sozinho e insistia que a culpa era do sistema, dos outros.

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Felizmente, os princípios que citei como parte de meu aprendizado familiar não me deixaram desistir: voltei a tentar, insisti com novos negócios e novos hábitos. Prosperei. Hoje sou um empresário e investidor de sucesso, tenho uma família maravilhosa e sou maratonista amador (já começando a treinar para me meter no triátlon). Tenho apenas 31 anos.

Arriscar, tentar e insistir são ações mais “românticas” aos olhos do leigo. É legal conhecer alguém “destemido”, “corajoso” e que “não liga para o tamanho dos desafios”. Vivo assim, é fato, mas com a mentalidade de quem acredita e tem no planejamento financeiro como um aliado para a liberdade.

Encarar desafios é necessário sim. Mas todo desafio exige os equipamentos mínimos de segurança

Encarar desafios é necessário sim. Mas todo desafio exige os equipamentos mínimos de segurança

O planejamento que funcionou para mim

Depois de alguns anos insistindo, tive uma conversa séria com meus pais. “Você pode e deve tentar, mas para isso precisa ter recursos e criar suas próprias oportunidades”. Minha ficha caiu depois de alguns dias: eu tinha que aprender a respeitar meu fluxo de caixa e criar as condições para usufruir da independência que tanto desejava. E fiz assim:

  • Revi meus itens de consumo e minhas decisões financeiras até então. Eu vivia um padrão de vida completamente incompatível com o que recebia. Vendi meu carro, abri mão de alguns hobbies, vendi itens de coleção, desfiz uma sociedade e decidi que precisava começar a multiplicar meu dinheiro.
  • Passei a organizar meu cotidiano financeiro em torno de controles simples. Estipulei metas de gastos para minhas principais necessidades e passei a anotar minhas receitas e despesas em uma planilha.
  • Reavaliei e deixei de lado hábitos nada saudáveis. Sabe aquela besteira de homem que não guarda moedas porque não tem onde colocá-las e elas fazem barulho? Decidi também negociar muito bem minhas compras e larguei de vez o sedentarismo. (Eu era o chamado “falso magro”, conhece? Um perigo!)
  • Decidi aprender mais sobre investimentos e parti para a “luta”. Fiz cursos sobre bolsa de valores, li mais de 200 livros em cerca de três anos, fiz um MBA em finanças e passei a frequentar os ambientes onde circulavam os “caras” reconhecidamente bons em investir e multiplicar seu capital.
  • Criei metas de investimento claras, classificando as aplicações como despesas dentro de meu orçamento. Comer, vestir, morar e investir passaram a ser decisões com o mesmo peso a partir de então.
  • Passei a investir de forma mais agressiva, mas ao mesmo a compor uma reserva de emergência. Com alguns sócios, participei de muitos negócios diferentes, compra e venda de carros usados, imóveis, terrenos, sociedade em pequenas empresas etc. Com o tempo, convenci este grupo a focar em uma boa carteira de investimentos em ações e imóveis.
  • Valorizei o padrão de vida frugal, mas igualmente feliz e libertador. A imposição de algumas restrições de consumo me fez abrir os olhos para aspectos antes deixados de lado. Eu viajava muito, gastava de forma egoísta e depois dizia não ter condições de viajar para visitar minha família (moro fora desde os tempos de faculdade).

Na prática, vejam aqui um exemplo do que deu muito errado:

Ainda na universidade eu decidi, com um colega, abrir uma empresa de criação e adaptação de softwares ERP (gestão). Meu conhecimento de administração e finanças era pífio, assim como o de meu colega. Investimos nossas economias no negócio, conseguimos alguns bons clientes, chegamos a chamar alguns estagiários, mas por razões óbvias o negócio não vingou.

Ficamos deslumbrados com as possibilidades daquele investimento na empresa e passamos a enxergar necessidades onde elas não existiam, comprometendo a rentabilidade do negócio e o seu fluxo de caixa. Queríamos montar um escritório melhor, comprar um carro para atender a micro-região em volta e aumentar a equipe. Tudo ao mesmo tempo, sem ter um cenário claro de demanda por trabalho à frente. E ainda precisávamos continuar na faculdade. Nossa incompetência e insistência no erro mataram o investimento.

Já houve também o que deu muito certo:

É aqui que coisas interessantes podem acontecer

Ainda em meados de 2003 fui apresentado a algumas alternativas de investimento até então nada populares entre muitos brasileiros. Uma dessas alternativas era a bolsa de valores. Eu, leigo no assunto, decidi questionar um de meus amigos (que na época trabalhava em um grande banco). Eu tinha algum dinheiro, algo em torno de R$ 50 mil, e queria garantir que eu não mexeria nesse capital até completar 30 anos – eu estava em uma fase muito complicada e de muito trabalho e viagens em uma grande empresa.

“Se você não tem tempo e não tem interesse, escolha ou empresas sólidas, de boa liquidez e que paguem dividendos, ou um fundo de ações com esse perfil”.

Não esqueci essa frase porque até hoje eu a repito à exaustão para os muitos amigos que tenho. Pesquisei as alternativas, busquei detalhes e optei por um fundo de ações especializado, classificado como Dividendos. O dinheiro ficou lá e a partir de 2005 eu ainda passei a aportar cerca de R$ 1.000,00 todo mês. A bolsa realmente se mostrou muito interessante e em cerca de 7 anos o fundo rendeu mais de 850%. Apesar de algumas ações (e outros fundos) terem rendido ainda mais (em alguns casos bem mais), não tenho do que reclamar: a grana literalmente “deu cria”.

Chega, você já me conheceu muito bem!

A esta altura, você deve ter percebido que não sou nem um pouco diferente de você ou de qualquer outra pessoa. Se percebeu o contrário, reconsidere. Não somos diferentes no ser, no viver, no errar, no insistir, no fazer, chorar e persistir. Talvez sejamos distintos nos detalhes: frugalidade, lidar com a frustração, saber esperar, negociar, investir, poupar e construir patrimônio (renda passiva). Detalhes, sim, mas não novidades ou “coisa de especialista”.

Por fim, agradeço a você pela paciência e convido-o a conhecer melhor meu trabalho e minha trajetória. Sou um dos fundadores do Dinheirama.com, autor do livro Vamos Falar de Dinheiro? (Ed. Novatec) e co-autor do livro Dinheirama (Singular Ediouro). No Twitter, atendo por @Navarro.

Aguardo seus comentários para falarmos cada vez mais sobre sucesso e independência financeira. Valeu, e até a próxima!

Mecenas: HSBC Premier

Na 6ª edição da FoR, maior pesquisa global sobre aposentadoria e envelhecimento, mais de 17 mil pessoas foram entrevistadas em 17 países. O resultado é um relatório riquíssimo que certamente servirá para elucidar sua visão sobre o que é essencial para um futuro mais estável e feliz.

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Conrado Navarro

Empresário, Investidor, Educador Financeiro, tem MBA em Finanças pela UNIFEI. Sócio-fundador do <a>Dinheirama.com</a>