A querida Gabriela Werner me convidou para oferecer um mini curso no Hub Escola Floripa 2014, festival que acontece de 5 a 12 de novembro com 23 atividades de professores e professoras do Brasil e de fora, vindos de organizações como Ideo.org, Singularity e Imaginarium, focado em frentes como inovação social, design thinking, liderança feminina e educação.

Por causa da agenda, acabei não topando, mas aproveitei para fazer uma breve entrevista por email. A Gabriela tem uma longa experiência com sustentabilidade, ajudando organizações a melhorar problemas ambientais por meio dos negócios. Trabalhou na Embraco, no Banco Real, foi diretora da AIESEC no Brasil, rodando Brasil, China, Austrália e Polônia. É colaboradora do portal Endeavor e hoje está dedicada a criar um núcleo de inovação social em Florianópolis pela rede Impact Hub.

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Compartilho com vocês:

Gustavo: Hoje parece que quase todo mundo está mudando o mundo. Em alguns círculos as pessoas mal se encontram porque estão ocupadas elas mesmas liderando encontros para mudar o mundo.

Gabriela: É verdade. E isso pode ser uma grande cilada. Tendo trabalhado a maior parte da minha carreira com negócios sociais, sustentabilidade e ONGs, conheço um monte de gente que mal passa tempo com os filhos pensando em criar um mundo melhor. Não vejo lugar mais importante — e com feedback mais claro — do que a nossa casa, ainda que isso não seja muito romântico. Para mim, esta clareza tem vindo com a idade. Estou com 33 anos, sou muito mais seletiva com meu tempo e não penso mais em mudar o mundo — no máximo a minha cidade.

Gustavo: Ao criar um espaço para promover mais encontros e aprendizagens — e também ao organizar um festival como a Hub Escola — o que vocês fazem para que não seja apenas uma grande salada? Na minha visão, quando não há eixos e critérios bem claros, a liberdade diminui em vez de aumentar.

Gabriela: Não sei se a liberdade aumenta ou diminui. É fato que ambientes mais soltos provocam uns encontros improváveis que são bacanas. Por outro lado, acho que gera muito desperdício. Se não há eixos claros, as pessoas ficam perdidas. Caso elas tinham objetivos claros, se frustram. Caso não tinham, não sabem julgar se o que encontraram é bom o suficiente ou não. Sem falar do custo de oportunidade de se investir tempo e energia em um espaço assim e abrir mão de todas as outras possibilidades.

O modelo da Hub Escola não é assim. Para nós, empreendedorismo, inovação e impacto são os eixos de toda a programação. É a partir disso que escolhemos as atividades que serão oferecidas. Como exemplos, posso citar Design Thinking, com o professor de Stanford Reinhold Steinbeck, Inovação em Educação, com a editora da Porvir Tatiana Klix e Telling Better Stories, com o diretor da Ideo.org Aaron Britt.

Vale explicar que o modelo é todo colaborativo. Isso significa que os próprios facilitadores propõem as atividades – e também que eles compartilham os riscos e resultados financeiros conosco. Isso faz com que todas as edições revelem assuntos e pessoas novas. Apesar de colaborativo, há princípios. É a nossa curadoria que garante uma programação de alta qualidade, com aderência aos eixos temáticos e com atividades diversas entre si. E é esta proposta que gera confiança nos participantes, pois proporciona aprendizagem e conexões “com a nossa tribo”, que muitas vezes viram novos negócios ou parcerias.

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Gustavo: Eu penso que essa cultura tem gerado muitos projetos que tentam mudar o mundo, mas vários acabam isolados. É só ver a quantidade de empreendedores, de projetos no Catarse, de sites que basicamente focam na mesma coisa, competindo por atenção. A falta de eixo nos impede de trabalhar mais juntos. Como você visualiza isso, ao organizar o Hub Escola e ao levar o Impact Hub a Floripa?

Gabriela: Em primeiro lugar, acho o Catarse incrível. Na nossa geração, um grande contingente de pessoas ganha mais do que precisa para viver bem. Mobilizar esses recursos abundantes para causas importantes ao invés de futilidades é muito legal. Nesta mesma linha, surgiu a Broota, uma plataforma que investimento coletivo, onde o investidor que coloca a partir de R$ 1.000 vira sócio da empresa. Para o empreendedor, é como fazer um IPO de forma descomplicada. Isso amplia possibilidades. (Full disclosure: tanto o Rodrigo Maia do Catarse quanto o Fred Rizzo da Broota facilitarão atividades na Hub Escola Floripa).

Tendo dito isso, concordo que há inúmeros projetos que propõem a mesma coisa e competem por recursos. Vejo várias razões para isso acontecer. A primeira é a boa vontade de várias pessoas em fazer alguma coisa, o que é legal. A segunda é o desconhecimento em relação a projetos que já existem e a ingenuidade em achar que a nossa ideia é brilhante e original. Nesse aspecto, a vivência empreendedora e o convívio em espaços de trabalho e aprendizagem como o Impact Hub ajudam muito. A terceira é orgulho, vaidade. Aí o trabalho é em outro nível.

Gustavo: Por fim, você consegue mandar um conselho de coração pra quem está frustrado com o trabalho e perdido nessa cultura maluca de tantas possibilidades? Como se posicionar?

Gabriela Werner: Para mim, o que funciona é ganhar perspectiva, afastar-se um pouco do trabalho frustrante e observar quando a energia flui. Fiz isso de forma mais consciente duas vezes. Na primeira, estava saindo de um contrato no exterior, então aproveitei o momento para fazer um mochilão de mais de 2 meses na Ásia, sozinha. Fiquei observando quanto eu planejava e quanto deixava me surpreender, quando eu ficava sozinha e quando queria conhecer gente e, é claro, o que da nova cultura me tocava — comida, natureza, esportes, caos, espiritualidade etc.

Na segunda vez, percebi que estava isolada na cidade e no emprego que eu tinha escolhido, com um bom cargo e uma boa remuneração. Começou a faltar vida, vibração, tesão. Então busquei participar de algumas atividades fora, como encontros de cidadãos para melhorar a cidade, e a conversar com amigos. Escolhi 2 pessoas que me conheciam bem, que me questionavam com franqueza e que gostavam muito de mim. Tive umas 3 conversas com cada uma. Foi muito poderoso.

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* Pessoal de Florianópolis e arredores: o Hub Escola Floripa vai de 5 a 12 de novembro. As atividades estão na faixa de R$ 50 e o passe livre para participar de todas custa R$ 280. A programação está aqui.

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>