Se você é da área de marketing digital, então você conhece Gary como o guru das mídias sociais, referência em termos de tendências e visões para o futuro. O cara que investiu no Tumblr antes de explodir em popularidade ou o cara que previu a compra do Instagram pelo facebook.
Caso você não seja da área de marketing, bem, ainda tem muito a conhecer do Gary sobre a importância do trabalho para o sucesso, como ganhar dinheiro fazendo o que se ama e construir uma vida mais significativa.
Esse tema, inclusive, é um dos motivos pelo qual uma palestra do Gary se tornou viral na internet, recebendo destaque inclusive no site TED talks. Sucesso não como ‘atalhos’ e caminhos fáceis, mas como trabalho consistente e fazer o que se ama.
Mas afinal de contas, quem é Gary?
Gary Vaynerchuk nasceu em 14 de novembro de 1975, na antiga União Soviética. Sua família emigrou para os Estados Unidos quando tinha três anos, chegando em terras americanas sem dinheiro e sem falar inglês. Como todo imigrante pobre, o pai de Gary, Sasha, conseguiu um emprego mal pago, trabalhando numa loja de bebidas.
Por boa parte de sua infância, Gary nunca viu seu pai; ele sempre saía antes de todo mundo acordar e chegava depois de todos estarem dormindo. Essa foi uma das primeiras lições na vida do jovem Gary sobre ética de trabalho.
Crescendo num ambiente onde a ralação tinha importância, começou a se virar aos 5 anos de idade. Lavar os carros dos vizinhos nunca foi um problema e ele ficava feliz quando nevava:
“… meu primeiro pensamento não era em fazer anjos na neve ou brincar de trenó. Eu olhava para minha irmã e dizia ‘pegue sua pá, nós vamos trabalhar’. Eu ficava excitado porque eu sabia que podia tirar neve das estradas e fazer dinheiro. […] Você pode ter as melhores oportunidades de negócio que quiser, mas a verdade é que ninguém nunca foi pago por fazer anjos na neve.”
Os primeiros sinais do empreendedor
Aos 8 anos, Gary se juntou a uns amigos da escola para montar barracas de limonada no verão. Depois de algumas semanas, ele já era dono de sete ‘pontos de venda’ e passava por elas toda tarde recolhendo o apurado do dia. Era o começo da manifestação do dna empreendedor, disse mais tarde e de onde podemos tirar a primeira lição: empreender é fornecer valor a quem está disposto a comprar e nada além disso. Qualquer um pode fazer e não requer diploma pomposo de uma faculdade famosa.
Depois de cinco anos de esforço diário, Sasha Vaynerchuk, pai do Gary, se tornou gerente da loja de bebidas onde trabalhava e conseguiu juntar dinheiro o suficiente para abrir comprar seu pequeno negócio no mesmo ramo. Um feito, sem dúvidas, impressionante para quem saiu do zero em um país estrangeiro sem mesmo dominar a língua local.
Na mesma época, Gary voltou seu instinto empreendedor para outra atividade: cartões de beisebol. Aproveitando a popularidade dos cartões de colecionadores no final dos anos 80, algo como figurinhas de álbum aqui, ele pediu dinheiro emprestado ao pai e entrou no mercado de negociação. Depois de pouco tempo, perdeu todo o dinheiro que pegou emprestado e teve que trabalhar em dobro para recuperar cada centavo. Finalmente, vários meses mais tarde, o dinheiro começou a entrar.
E entrou muito: ele estava fazendo de 3 a 4 mil dólares por final de semana de trabalho.
Como ele disse recentemente:
“Se você é um adolescente de 13 anos, tem 30 mil dólares debaixo de seu colchão e não está vendendo drogas, eu diria que você está muito bem.”
Transformando limões em limonadas
Em um certo final de semana, quando Gary estava se preparando para um grande evento nacional de negociação de cartões de beisebol, o pai dele o obrigou a trabalhar na loja recém fundada da família. Isso foi devastante, pois ele se preparou por semanas para o evento e tinha muita expectativa sobre as vendas que podia fazer naquele dia. Mais tarde, contou:
“Eu fui à loucura. Chorei, esperneei, mas não teve jeito. Eu não sei quantos de vocês tiveram pais soviéticos, mas não tinha muito papo lá em casa. Quando me acalmei e perguntei quanto meu pai ia me pagar, ele respondeu ‘dois dólares por hora de trabalho’. Foi aí que eu voltei a chorar com mais força.”
Quando fazia milhares de dólares por semana, ser forçado a trabalhar raspando gelo no porão da loja do pai é um martírio e tanto. Mas foi nessa experiência e em todo o ano seguinte de sacrifício que ele construiu sua filosofia de vida em torno do suor e da integridade. Naquele porão ele passava todo seu tempo livre, inclusive finais de semana e feriado.
Depois de um ano, foi “promovido” e passou a trabalhar com vendas lá no balcão. Foi então que a magia aconteceu: ao conversar com os compradores, Gary descobriu que as pessoas colecionavam vinhos, o que fez uma ficha cair na cabeça dele.
A partir desse momento, estudou tudo quanto podia sobre vinho e começou a transferir sua experiência em vendas de cartões de beisebol para o mundo vinícola. Com o passar dos anos, foi aprendendo cada vez mais sobre vinhos e assumindo o negócio do pai, expandindo o faturamento da empresa.
A WineLibrary, como foi rebatizada a loja, foi uma das primeiras empresas do mundo a possuírem website, lá em 1997. Isso porque assim que deu de cara com a internet, no quarto de um amigo na faculdade, Gary entendeu que aquilo teria um potencial enorme na sociedade e poderia ser usado para vender coisas. Em pouco tempo, passou de um site simples a um portal de comércio online. A empresa se tornou uma das líderes mundiais no desenvolvimento do ecommerce, numa época na qual a maioria das pessoas ainda não entendia nem o que era http.
Nascia “O guru” das redes sociais
Depois de levar o negócio da família de um faturamento de 3 a 45 milhões de dólares em 2005, Gary voltou suas atenções para outro fenômeno que estava prestes a explodir: as redes sociais. Em entrevistas recentes, ele faz parecer que foi uma conclusão óbvia de acordo com os padrões que estava observando, mas a verdade é que essa sacada visionária permitiu que ele se posicionasse muito bem nas incipientes redes online.
Em 2006, lançou WineLibraryTV, um canal no Youtube com um show no qual ele provava vinhos e levava o conhecimento vinícola aos leigos. “Eu acho que o vinho realmente precisa de mim”, ele disse um pouco mais tarde, “há gente elitista e esnobe demais nesse país e eu não acho que o vinho queria ser posicionado desse jeito”.
Link Youtube | O primeirão
Depois de vários meses fazendo o show ininterruptamente de segunda a sexta-feira, para “ninguém ver”, Gary contou que a audiência começou a crescer. Em pouco tempo ele virou celebridade e referência enóloga, com aparições em vários grandes shows americanos. O que estava por trás desse sucesso?
Ele entendia que a internet se tratava de pessoas. Fazia questão, como ainda tenta até hoje (são mais de 500 por dia), de responder a todos os emails que recebia. Lá atrás, também respondia pessoalmente a todos os contatos nas várias redes sociais que fazia parte. Isso ganhou a admiração das pessoas, criando um relacionamento, um contexto com elas, que hoje é responsável pelo crescimento contínuo de sua tribo de fãs.
Em 2011, seu livro A Economia do Obrigado trouxe sua visão do mundo sobre as redes sociais e as tendências de relacionamento entre marcas e clientes. Sua filosofia ajudou a fazer da internet um lugar onde as empresas empurram menos a mensagem guela abaixo no cliente e se relacionam mais em um nível humano.
Quem é da área de marketing digital sabe da mudança drástica no comportamento dos perfis das grandes marcas, que passaram a contratar equipes para gerenciar as redes sociais, que antes eram vistas como “coisa de adolescente”. Responder o contato das pessoas e criar relacionamentos virou a norma na internet. Afinal de contas, são pessoas. Nós falamos desse livro por aqui.
“O boca a boca está de volta. Quando a sociedade cortou os vínculos pessoais que existiam nos negócios nas antigas comunidades, as pessoas se tornaram formigas espalhadas em uma mesa de piquenique. Muito ocupadas, muito fortes, mas distantes demais umas das outras para fazer algo em conjunto. Agora a internet amadureceu a um ponto em que o poder das mídias sociais permite que todas essas formigas se juntem abaixo dessa mesa e consigam virá-la, se assim desejarem.”
Na mesma área, Gary vai lançar seu novo livro, ‘Jab,Jab, Jab, Right Hook: How to tell your history in a noisy social world“. O mote é sobre como contar histórias e marcar presença em um mundo onde a atenção das pessoas é um bem cada vez mais escasso. Tema útil não apenas para quem trabalha na área, mas também para qualquer um que quer construir uma marca pessoal que sirva de alavanca para oportunidades, seja no mercado de trabalho ou na criação de negócios.
O segredo por trás do sucesso
O que você pode levar da história de vida de Gary para sua vida? Dois pontos principais chamam minha atenção e são reforçados constantemente nas palestras dele:
1. Você tem que entender que o jogo está mudando;
2. Você precisa fazer o que você ama, nada mais importa.
As mudanças geradas pela internet vão além de te trazer fotos de gatos a qualquer hora do dia. Ter as ferramentas do mundo digital a sua disposição significa que a barreira de entrada na maioria das áreas é nula; os figurões não estão mais no controle. Qualquer um pode virar um cantor de sucesso, um escritor famoso ou uma videocelebridade . Qualquer um pode fornecer valor e encontrar pessoas dispostas a pagar por ele; o poder está nas mãos das pessoas.
O segundo ponto dessa equação é fazer aquilo que você ama.
“Eu não tenho entendimento de por que, quando você tem 18 ou mesmo, digamos, 30 anos, por que você não deveria tentar fazer o que você tem paixão trabalhar por você… Se você vai e se torna um advogado ou vai para a escola e faz todas as coisas que todo mundo quer que você faça e não faz a coisa que você realmente ama, a pergunta de verdade não é o que vai acontecer quando você tem 23,27,31 ou 36 anos. A questão realmente se torna o que irá acontecer quando você tiver 70 anos e olhar para sua vida e você vai estar tipo, ‘Por que eu não tentei?’.
Haverá um fator de arrependimento que eu acho que muitas vezes um conselheiro ou parente ou professor tende a não pensar a respeito. Eles estão preocupados com seus próximos dez anos. Eu estou preocupado com seus últimos dez. E nesses últimos dez anos, você vai olhar para trás e perceber […] ‘Por que eu não me arrisquei?’ e realmente se arrepender daquilo. E isto – o sabor é muito pior do que acreditar e se arriscar, porque aí é quando você está mais vivo”
“Mas eu tenho um emprego e família que não posso largar”, você me diz. Todo mundo acha que sua situação é especial e apenas você não pode pedir demissão e fazer aquilo que ama, sendo condenado a uma eternidade de segundas-feiras. Não é bem assim, todo mundo tem tempo para correr atrás do que quer:
“O que você faz é: você se posiciona para o sucesso. Por exemplo… Se está fazendo outra coisa e quer fazer o que ama, faça depois do trabalho. Trabalhe de 9h às 18h, chegue em casa, beije o cachorro e vai fazer. Você começa a construir sua marca e o valor em sua marca no que quer que esteja trabalhando. Todo mundo tem tempo. Pare de assistir essa droga de Lost.”
A versão atual dessa palestra, que foi dada em 2008, seria “pare de assistir essa droga de Breaking Bad”. Acabe com a ilusão de sucesso da noite para o dia, pare de reclamar e coloque o esforço necessário para fazer o que ama. Nunca na história da humanidade você teve acesso a tantas oportunidades. De graça, a alguns cliques.
Com seus conselhos sobre trabalho duro – surpreendentes numa sociedade que valoriza a vida sem esforço – e todo seu legado ao mudar a forma como as empresas se posicionam na internet, Gary ganhou espaço entre os homens que você deveria conhecer. E o melhor? Ele tem 37 anos, só está começando.
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