É difícil achar alguém que nunca tenha feito um financiamento.

Às vezes por necessidade, outras por conforto, acabamos por antecipar a compra, mesmo sem ter a grana para pagar. É algo comum de acontecer com a aquisição de carros, por exemplo. Em troca desse empréstimo (o financiamento é um empréstimo), o credor cobra juros, que são diluídos nas parcelas.

Não fossem os juros, se o carro custou R$20.000, a serem pagos em 60 parcelas, o valor dessa parcela seria de aproximadamente R$333. Com juros de 1.5% ao mês a coisa muda de figura. A parcela seria de R$507. Nesse cenário, o valor total é de assustadores R$30.420. No fim, ao comprar um carro, acabamos pagando um carro e meio.

Não vou entrar no mérito se vale a pena ou não, se é melhor andar de táxi, ou morar em lugares acessíveis. O fato é que muita coisa acontece em 60 meses e pode ser que tenhamos conseguido acumular uma poupança, mesmo com o parcelamento do carro rolando.

Considerando que os bancos oferecem o abatimento dos juros em caso de antecipação de pagamento, surge a questão: vale a pena utilizar a poupança para quitar o financiamento?

Se fingíssemos que somos seres racionais

Einstein, sobre nossa racionalidade
Einstein, sobre nossa racionalidade

Pensando matematicamente, o raciocínio seria esse:

  • Meu dinheiro está na poupança (ou em outro investimento de baixo risco qualquer);
  • Lá, ele está rendendo algo entre 0.5% e 0.7% ao mês;
  • Meu financiamento foi negociado com uma taxa de juros de 1.5% ao mês.

Olhando para os números, a resposta parece bem óbvia. É muitíssimo comum valer a pena quitar o financiamento utilizando o dinheiro guardado na poupança, pois, se deixássemos o dinheiro lá, ele não chegaria nem perto da taxa de juros que credor do empréstimo está cobrando.

Nesse cenário, não quitar é perder dinheiro.

Tem mais coisa na mesa

Existem outras questões mais profundas em jogo, que podem ou não balançar a racionalidade do argumento anterior — que vai a favor da quitação.

Temos aversão à perda. Gostamos de não perder mais do que gostamos de ganhar. Mexer na poupança (muitas vezes nossa única reserva!) implica em arrancar um belo corrimão, que nos dá tranquilidade para seguir caminhando por ai. É agonia certa.

Além de queimar esse colchão, utilizar a poupança para quitar faz com que deixemos de lado uma outra peculiaridade nossa: o prazer que sentimos por acumular.

colchão

Quando já temos certa quantia, acumular é mais fácil. Nos sentimos compelidos a fazer aquele montante crescer. Entramos em uma certa inércia positiva. Desde que levado de maneira saudável e propositada, ter algo acumulado nos incentiva a continuar acumulando, e isso é um recurso bastante positivo.

Quitando, abrimos mão desse empurrão.

Como sair de cima do muro?

Acabamos caindo em um dilema. Enquanto funcionalmente faz sentido manter a poupança e seguir pagando as parcelas, matematicamente não tem lá muito nexo ter dinheiro guardado num canto e sendo torrado em outro.

Não existe certo ou errado, a decisão é muito particular. É um bom começo termos dois pontos na cabeça:

  • Entender, cuidadosamente, como reagiríamos ao fato de ficarmos sem poupança;
  • Calcular, de maneira precisa, quanto seria economizado. No exemplo do começo do artigo, se a quitação rolasse no começo do financiamento, seriam economizado belos R$6.500.

Tendo a ser favorável à quitação e, indo um pouco mais longe, costumo sugerir que o valor que antes era gasto na parcela, seja direcionado para a formação da nova poupança. A parcela já estava sendo paga, certo? A chance dela não caber no orçamento é muito baixa.

Com a formação da nova poupança em andamento, a sensação de perda fica mais leve.

Para os que já passaram por algo parecido, qual decisão tomaram? Valeu a pena?

Para quem está pensando em fazer algo parecido, já fizeram as contas?

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças

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