Era uma cidadezinha simpática.

João, que trabalhava na mercearia, sentava com sua esposa a cada dois ou três meses para planejar em que investiriam o salário dos dois. Não era um salário alto, mas sustentava uma vida agradável, cheia de momentos incríveis. Não gostavam de planilhas e não tinham muita intimidade com porcentagens, mas se planejavam mesmo assim. Tanto ia para o supermercado, outro tanto ia para as mensalidades dos cursos que faziam. Um pouco para acumular, afinal, nunca se sabe, outro pouco para aquele dia em que dá uma baita vontade de gastar com algo supérfluo. Eles não eram ingênuos a ponto de pensar que esses dias não ocorreriam mais.

A Fernanda casou com o Guilherme mês passado. Foi muito provavelmente a cerimônia mais bonita que aqueles convidados já presenciaram. Optaram por não investir dezenas de milhares de reais em um salão suntuoso, com bebidas caras e um DJ famoso. Criaram um ambiente onde tudo fazia muito sentido. Os convidados se sentiram acolhidos, os noivos se sentiram confortáveis. Para eles era bem claro o que realmente importava. O objetivo da cerimônia, demarcar uma nova fase, reunir os amigos, havia sido atingido, com folga.

Com o casamento veio a mudança de casa que fica próxima do metrô. Ao invés de encarar o trânsito diário, somado com o stress do estacionamento, ela resolveu vender o carro. Não por “pão-durice”, apenas porque resolveu investir esse dinheiro em outras coisas: jantares, uma casa confortável, cursos, viagens.

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O André passou por uma fase um bem difícil. Estava endividado, mas, ao invés de deixar a dívida para depois, resolveu conversar com o gerente do banco. Ao todo haviam três empréstimos em vigor, descontrolados. Ora ele pagava a parcela de um, ora pagava a parcela de outro. Não conseguia enxergar um fim para tudo isso.

Na conversa com o gerente do banco, deixou bastante claro sua intenção de regularizar e propôs uma unificação dos empréstimos. Ele ditou o valor da parcela: “Posso pagar 400 reais por mês”. O gerente, interessado em reduzir a inadimplência em sua carteira, deu um jeito. Dívida sob controle, parcela que cabe no orçamento, ano novo.

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O José, que há tempos queria sair da casa dos pais e morar sozinho, durante 2013 finalmente colocou o plano em prática. Separou o equivalente a três aluguéis, para o caso das despesas do novo estilo de vida serem maiores do que ele está esperando e agora está procurando a nova casa. Entrou em contato com diversos corretores imobiliários e informou o quanto quer pagar.

Caso as despesas mensais (luz, água, internet, supermercado) sejam maiores do que o estimado, ele vai utilizar a reserva, até adequar o ritmo dos gastos. Está bem empolgado com possibilidades que estão se abrindo. Pretende mobiliar aos poucos, mas já consegue se visualizar morando em uma casa que realmente tenha sua cara. Está feliz.

Ah, e tem mais… não são só as pessoas dessa cidade que estão lidando bem com o dinheiro. A economia da cidade vai bem também. O comércio está aquecido, a indústria produzindo bem e as faculdades incentivando seus núcleos de empreendedorismo.

Infelizmente, nem tudo caminha de maneira tão próspera.

Nessa cidade, os sites de educação financeira não recebem acessos. Estão fechando, um por um. Os bancos e instituições de crédito pessoal também estão passando por sérias dificuldades. Os agiotas, coitados, não têm o que fazer.

Para coroar esse “triste“ cenário e finalizar essa estória, todos os consultores financeiros decretaram falência.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças