Nota editorial: esse é o primeiro texto do percurso Admirável Xaveco Novo. A ideia surgiu da seguinte pergunta que nos fazíamos: como xavecar em tempos de igualdade de gênero? Convidamos cinco mulheres nas quais confiamos pra produzirem 4 textos e um bate-papo em vídeo – com uma outra lógica, que aspira cultivar pontes entre homens e mulheres. Não queremos clichês e mais guerrinha dos sexos. Esperamos os comentários de vocês, pra seguirmos esse papo. 😉

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Paquera, flerte, cantada, abordagem, approach, sedução, conquista. Um monte de sinônimo pra uma coisa um bocado difícil.

Cada um tem um jeito de fazer e gosta de uma coisa diferente. Mas a verdade é que todos nós passamos por uma lavagem cerebral quando o assunto é xaveco.

Uma representação lúdica do incrível (e caótico) mundo do flerte, feita por Vivian Dall’Alba especialmente pro projeto “Admirável Xaveco Novo” – um percurso de quatro textos a serem publicados aqui no PdH, começando com esse que lêem agora

No último período em que passei solteira, comecei a perceber o quanto eu tinha sido estimulada – de vários jeitos diferentes, alguns bem ostensivos e outros mais sutis – a ter um determinado tipo de comportamento durante (antes e depois, também) da sedução.

Voltando a sair mais e me expondo a variadas situações de flerte, notei que eu tinha enorme dificuldade em agir. Mesmo querendo muito dar o primeiro passo e conversar com alguém, alguma trava maluca me impedia de um jeito estranho.

Ainda que depois de um bom tempo trocando olhares e recebendo sinais, e com a tranquilidade de que seria bem recebida, eu me sentia paralisada e só conseguia esperar que a outra pessoa se aproximasse.

Mas por quê?

O que tinha de errado comigo? Será que eu era tímida demais, fechada demais? Será que eu ainda não estava pronta pra voltar pra ativa? Será que eu não me aproximava porque a pessoa ali, parada na minha frente, não me motivava o suficiente?

“Nunca entendi se foi eu que perdi algumas oportunidades ou se o momento que não era certo pra elas.” | Ilustração por Emanuele Rosso

Tudo isso passava pela minha cabeça. Mas a verdade era muito mais dura. Eu tinha sido treinada, durante 28 anos, a ser conquistada, e não a conquistar. Esperar, e não agir. Avaliar, aguardar, julgar, e não arriscar.

E é claro que várias mulheres não se identificam com isso, mas, olhando bem, é uma postura estereotípica feminina na cultura em que vivemos: esperamos a aproximação no flerte, a proposta de namoro, a caixinha com o anel junto com o grande pedido de casamento.

E ainda que sejamos inteligentes, modernas, abertas e questionadoras, a lógica por detrás dessa postura passiva ainda está lá, agindo de algum modo. Lá no fundo, algumas de nós ainda tem medo de parecer menos interessante ou com menos valor só por saber o que quer e tomar a frente em situações de paquera.

A verdade é que todos nós, homens e mulheres, lidamos com automatismos e travas que às vezes nem sabemos que temos, mas que operam silenciosamente sempre que nos deparamos com aquela pessoa interessante nos bares, baladas, parques e cafés da vida.

Codinome predador: o arquétipo construído pelo universo Playboy

— “Ei gatinha, sobe aqui na minha moto.” | Ilustra por Vivian Dall’ Alba

Entrando um pouco no universo masculino padrão,  o estereótipo também grita no ouvido dos meninos desde muito cedo.

Nos almoços de família com primos e tios, nos papos com os amigos, nos conteúdos produzido pelas grandes revistas, nos filmes de Hollywood, nas letras de música, as mensagens se repetem dizendo pra que os homens estufem o peito, juntem toda a segurança do mundo e simplesmente sejam, façam e aconteçam.

Conquistem. Arrebatem. Pontuem.

O inverso das mulheres acontece quando falamos de papéis. Se a garota espera, o cara toma a iniciativa. Ao extremo, a mídia usa uma linguagem bem representativa dessa conduta caricata.

Textos e matérias sobre o assunto usam palavras como macho alpha, predador e presa, território, caça, entre milhares de outras que reforçam o cenário national geographic que povoa a mente de meninos e meninas desde jovens.

Junto com a chuva de expressões que já falam sozinhas sobre o que se espera de um “homem de verdade”, vem a montanha de ordens, guias, ações e conselhos do que fazer ou não fazer, como se vestir, de que modo agir e o que falar. “Se vista bem, mas de um jeito descompromissado”, “elogie, mas com criatividade”, “seja simpático com as amigas dela”, “mostre seus conhecimentos sem parecer presunçoso”. E por aí vai.

Só posso imaginar o quanto essa abordagem deve ser cansativa pra muitos homens, principalmente pra aqueles que não se identificam nem um pouco com a figura do predador. E até para os que se identificam, ouvir instruções sobre como performar com as mulheres o tempo todo também deve ser um tanto sufocante.

E pra entender melhor o drama, resolvi conversar com alguns homens.

As perguntas que lancei pra eles foram as seguintes: o que você foi treinado pra fazer quando o assunto é xaveco? Funcionou? Por que ou por que não?

Aí vão algumas das melhores respostas que escutei dos homens com quem conversei:

Cena do excelente filme “Una pistola en cada mano”, que saiu aqui como “O que os homens falam”

“Nunca me incomodei pelo fato de ter que chegar. Sou um cara de pau nato. Já cheguei em várias rodinhas de meninas para quebrar o gelo e abrir o campo de guerra para os meus amigos.

Se fosse pra eu reclamar de algo, seria da necessidade que algumas meninas tem de manter aparências, como acontecia muito na minha adolescência. Muitas vezes a menina demorou séculos pra me beijar. E aí, quando rolou, não desgrudávamos. Se era tanta vontade, pra que esperar?”

– Pedro Perezim, 31, diretor de vendas

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“Sobre xaveco, fui ensinado a chegar em muitas meninas. A regra era: chegue em quantas der, a quantidade de botas que você vai levar na sua vida é proporcional ao número de mulheres que você vai pegar.

No começo eu odiava ter que chegar, eu era o nerd rejeitado. Mas com o passar do tempo quebrei a dinâmica social da coisa e comecei a me divertir.”

– Rodrigo Cambiaghi, 29, gerente de projetos

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“Tem uma sensação de que você não pode deixar nenhuma menina passar, não pode deixar de transar todas as vezes que você puder. Isso eu já ouvi de amigos: E ai como tá? Ah, to bem, pegando toda a mulher que eu posso.

Faz parte dessa cultura, você ir atrás de tudo quanto é deixa pra transar. E isso ficou muito claro pra mim no meu último relacionamento, e eu consegui virar uma chave recentemente, de relaxar: tudo bem se rolar ou se não rolar.”

– Breno Castro Alves, 31, jornalista

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“Pra mim, nada funcionava. Eu era o boca virgem, o pega ninguém. Não tinha habilidade para abordar do modo como diziam que eu deveria, me sentia feio, tímido e fechado. E sofria calado com isso, com medo de me mostrar menos homem.”

– Guilherme Valadares, 31, empresário e editor-chefe do PapodeHomem

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“Fui treinado pra olhar toda a mulher que passasse. Também, a abordagem sempre foi muito difícil pra mim, não fluia, era mecânico.

Sempre fui tímido e era o cara que acompanhava o amigo que chegava nas meninas. Até que desisti de chegar e comecei a sair com meninas da minha rede, conhecidas, amigas de amigas. A internet também me ajudou muito.”

– Felipe Simões, 34, tradutor e intérprete

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“Em matéria de xaveco, ninguém nunca me orientou. Meu pai não falava nada sobre o assunto.

Mas eu notava que ele sempre se comportava de um jeito meio estranho com as mulheres, era muito simpático, jogava sorrisos – e eu não gostava daquilo. Mas o que eu tinha em mente era que o homem sempre tinha que tomar a frente, e nesse sentido pra mim sempre foi desastroso.

Eu ia tentando indiretamente, na base da conversa, tentava fazer amizade. As coisas foram se desenvolvendo ao longo da vida, meio sem querer.

Meu jeito de xavecar ainda é não xavecando muito, é conversando, intelectualizando.”

– Frederico Mattos, 35, psicólogo e escritor

O xaveco pra além dos papéis pré estabelecidos socialmente

Imagem por Saulo Cruz

Cada pessoa é uma pessoa. Pra alguns homens, o padrão veste bem. É fácil chegar, soltar uma boa fala, engatar papo, conquistar.

Leia também  Bom dia, Shonagh Marshall

Pra outros, é um sofrimento sem tamanho sequer sair de casa pra enfrentar uma balada. O mesmo pras mulheres. Algumas se sentem livres pra abordar e adoram dar o primeiro passo, outras não conseguem (ou acham que nem devem) sair de uma postura mais passiva.

No meio de polos opostos de comportamento, existe um mundo de possibilidades. Muita gente lida com uma ou outra questão mais difícil, cresce, amadurece, se adapta em meio à selva.

O grande desafio é entendermos onde é que estamos, individualmente. O que fazemos ou deixamos de fazer por conta de um constructo social? O que fomos treinados pra reproduzir e o que é realmente nosso? Quais são as nossas principais travas quando o assunto é sedução?

Pra encerrar, uma prática sugerida:

Não encarem isso apenas como um vago exercício teórico, o ponto é realmente pensar sobre e responder, indo além dos primeiros impulsos. O que você realmente faria, como agiria em um contexto de sedução, se não houvesse nenhuma imposição social ou regra?

Conversaria com todas as mulheres (ou homens) da balada sem pensar duas vezes ou esperaria aquela menina (ou menino) bacana vir falar com você? Nem sairia à noite e só bateria papo com pessoas interessantes em parques e praças? Transaria mais ou transaria menos? Colocaria tanta energia em seduzir e ser seduzido?

Façam anotações, comentem aqui no texto, compartilhem facilidades e dificuldades da cultura do xaveco.

As respostas de vocês vão nos inspirar e ajudar a construir os próximos textos desse percurso sobre paquera.

Porque a gente acredita que não tem nada melhor que um papo reto pra desprogramar padrões e libertar. Vamos juntos.

Mecenas: O Boticário

 

O Boticário e o PapodeHomem fizeram uma parceria para trazer dicas para os homens se destacarem entre as mulheres.

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Anna Haddad

Acredita no poder de articulação das pessoas e numa educação livre e desestruturada. Entrou em crise com o mundo dos diplomas e fundou a plataforma de aprendizagem colaborativa <a>Cinese</a>. Tá por aí