Depois do longo papo com Isaac Edington (“Sustentabilidade, eu gostaria que daqui a algum tempo nós não precisássemos mais falar nessa palavra”), entrevistamos José Pascowitch (@jpascow), presidente da consultoria Visão Sustentável.

Só tivemos acesso a eles porque estamos como Insiders no movimento SWU (@swubrasil). Aliás, aguardem que o Guilherme tem boas novidades. Vai rolar até ingresso na faixa! Mas agora o lance é aprofundarmos nosso entendimento do que está em volta dessa palavrinha batida: sustentabilidade.

Eu estava presente na mesa e gravei tudo do jeito que deu. Transcrevi algumas falas para facilitar a vida dos sem-tempo. Abaixo segue a entrevista em 9 partes. Todos os vídeos estão HD, então se estiver lento basta clicar em 720p e trocar pra 360p ou ver direto no YouTube.

Quem é José Pascowitch

Diretor-executivo da Visão Sustentável, o cara é especialista em planejar ações sustentáveis, investimentos sócio-ambientais e programas de responsabilidade social para grandes empresas como Totalcom, Unilever, Vale, Sony, Pão de Açúcar e Natura. Lançou a “Iniciativa Equatorial” do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. E criou o programa Caras do Brasil, que insere no grande mercado a produção de pequenos artesãos.

OK, currículo bonito, mas uma de suas maiores realizações foi ter aceitado uma entrevista para o PapodeHomem. 😉

1. Uma possibilidade para lidar com artesanato e trabalho informal

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Sobre o Caras do Brasil: “Começamos há 10 anos desenvolvendo um dos maiores programas do mundo de comercialização de produtos de micro-micro-micro-produtores. Um artesão pode entrar na cadeia de fornecedores do Pão de Açúcar para vender seus produtos nas lojas. Começou com 4 lojas, hoje deve estar em 50, 60 lojas do grupo.”

2. Não é uma questão de ser contra ou a favor do capitalismo

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“É uma questão de entender sustentabilidade para empresas como gestão. E você incorporar isso no cotidiano das empresas. São novos valores. “Para uma pessoa, é a mesma coisa. O indivíduo está incorporando novas questões, novos valores em suas decisões cotidianas. […] Quando ele apaga a luz se não está no ambiente, isso impacta no quê? Num menor consumo e e na conta menor que ele vai pagar.”

“Sustentabilidade não é só meio ambiente. Tem a questão social e a questão econômica. São três pilares.”

“Quando uma empresa olha para o lado social, você tem políticas internas de gênero, de cor, de opção sexual… Impacto na comunidade, direitos humanos, tem uma série de questões que acabam ficando embaixo do guarda-chuva da sustentabilidade”

3. O poder do consumidor é o maior de todos

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“Você pode mudar, com suas escolhas diárias, o comportamento das grandes empresas.”

“Eu acho que ainda não tem formação suficiente. É um trabalho de base. Se você falar ‘Recicle’, é um trabalho mais fácil. […] Agora, o consumo consciente é um poder absurdo, uma oportunidade enorme.” [referência ao Instituto Akatu]

“De uma forma ou de outra, a natureza se recompõe. Somos nós que podemos continuar aqui ou não.”

Citado no papo:Relatório Brundtland (“Nosso Futuro em Comum”, na íntegra aqui).

4. A “caca fenomenal” da British Petroleum

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“As empresas estão pensando, de uma forma estratégica, em como diminuir os impactos de sua atuação. Isso é um divisor de águas. Há 5, 6 anos não se pensava nisso.”

“Depois da BP, a prospecção de petróleo em águas profundas não vai ser mais conduzida da mesma forma. O risco que isso mostrou é muito grande; quebra a empresa.”

“Você tem um problema de gestão, você pode ter uma denúncia do GreenPeace, ou de uma ONG qualquer, que acaba conduzindo para uma mudança de atuação. E você tem o poder de consumidor, que nesse cenário é o menos atuante.”

“Tem as duas pontas. As empresas oferecem produtos e serviços, mas a gente consome. Há uma corresponsabilidade, uma responsabilidade compartilhada. Se isso for entendido e praticada, você muda os hábitos da indústria, das prestadoras de serviço.”

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5. Você compraria um carro de “mulherzinha” apenas por ser o mais sustentável?

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“É uma questão de valores: ‘Eu quero um carro grandão porque eu quero mostra que eu sou homem e bacana na rua”. Ou: ‘Não, eu to pouco ligando, quero um carro eficiente, que consuma pouco combustível, porque eu estou preocupado com as emissões’.”

“Eu acho que as empresas estão avançando, mais fortemente e de forma mais estruturada, que as pessoas. Elas olham isso como um risco potencial. Como elas tem um planejamento de longo prazo, elas acabam olhando e adotando práticas que ninguém está pedindo nesse momento que elas adotem.”

“Quando você compra um produto no supermercado, o que você olha? As empresas já estão pensando no conteúdo, na embalagem, mesmo sem você se preocupar. Você não está nem aí pra nada disso, está pouco ligando. Você está comprando aquilo que lhe dá prazer imediato. As empresas estão se preocupando mais porque isso no futuro pode ser um risco, um custo para elas.”

Sobre o SWU: “Você poderia fazer apenas um festival de música. Mas se quis pensar na questão da sustentabilidade, como engajar, como trazer essa discussão para os jovens, de que forma abordar, como mostrar o que é possível, o que é chato, o que é bacana… Como o futuro é desse público, eu acho que isso é extremamente importante. Como abordar os jovens eu te confesso que também não sei.”

“Olha pra você. Você é que pode ter problema daqui a 20, 30 anos.

6. Críticas ao SWU

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“Você tem repercussão da questão da sustentabilidade no SWU. Tem crítica: ‘Olha, mas só isso não é suficiente’. Tem um caldo interessante para se trabalhar.”

“É muito importante que todo mundo critique, converse, troque ideias para que essa coisa seja incorporada no dia a dia.”

“Não importa o tema, o que importa é se eu consigo mobilizar as pessoas. É preciso testar.”

Citado no papo: ações geniais do The Fun Theory (iniciativa da Volkswagen).

7. Marketing verde e greenwashing

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“Tem de tudo um pouco. Empresas mais sérias e menos sérias, que estão começando, que são super sofisticadas. E tem o greenwashing, que não resolve absolutamente nada.”

“Tudo isso pode virar um tema muito chato. Por outro lado, os recursos naturais vão acabar, a camada de ozônio não se recupera nunca mais, praias vão sumir, cidades costeiras vão sumir… Vai ter água pra todo mundo? A discussão é muito profunda. Se você acha chato, preste mais atenção.”

“Sempre penso: me pagam pra eu fazer isso. Eu acho um grande privilégio. Temos impactos importantes em empresas enormes.”

8. Não cansa?

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“É difícil. É um trabalho de base, de educação, de convencimento. Trabalho de formiguinha. Dentro das empresas, há bolsões de descrédito, que bloqueiam os avanços.”

“Quem tem de fazer algo? Todos tem de fazer. E o papel do consumidor é fundamental.”

9. Por onde se começa? Qual o primeiro passo?

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“O bacana é ver o basiquinho: lixo, água, energia, emissões. Como é que você pode se comportar. É procurar aquilo que fala com você. E se informar, procurar, discutir, pesquisar.”

“Indo para algo mais sofisticada, é começar a se informar sobre a qualidade, a origem, a sustentabilidade dos produtos que você consome.”

Citado no papo:O Livro Verde.

Deixamos um grande abraço de agradecimento ao pessoal da SWU e ao José Pascowitch.

Debate aberto nos comentários, como sempre.

Aproveito pra avisar que sábado agora, às 17h, vai rolar uma flashmob SWU: a galera vai se reunir do lado de fora do Auditório Ibirapuera para cantar e tocar a música “A Minha Alma”, do Rappa. Além do gogó, vale tudo, de assovio a percussão corporal. E a ONG Prato Cheio vai estar lá recebendo doações de alimento. Mais infos aqui.

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>