Em março de 2020, com o alastramento da pandemia e as medidas necessárias de isolamento, a ONU mulheres e outros institutos pró-equidade já disparavam alertas sobre possível aumento da violência contra meninas e mulheres por conta da maior vulnerabilidade social em estado de crise.
Novos desafios foram impostos às medidas de prevenção e enfrentamento das violências — fica mais difícil sair do ambiente de agressão e ter contato com outras pessoas, diminui-se as possibilidade de denúncia e a vulnerabilidade financeira aumenta.
Nessa série de posts falamos sobre alternativas e práticas que podem ajudam mulheres em situação de violência. As políticas de abrigo, seguridade financeira e apoio psicológico são principalmente importantes para que as mulheres possam sair de situações de violência caso precisem.
Outra estratégia de quebrar o ciclo das violências e prevenir reincidência contra meninas e mulheres são os grupos reflexivos para autores de agressões. Estes, que inclusive potencializam o cumprimento de medidas protetivas, também foram atingidos pela impossibilidade de encontros presenciais.
Foi preciso levar os grupos reflexivos para homens autores de violência (HAV) ao ambiente virtual e garantir que essa política siga tendo qualidade e eficácia.
Para propor reflexões e alternativas ao tema, Adriano Beiras, Alan Bronz e Pedro de Figueiredo Schneider elaboraram um artigo com análises e sugestões metodológicas.
O Profº Drº Adriano Beiras, tem um trabalho de pesquisa extenso com grupos de homens e, em pesquisa anterior, produziu um manual com diretrizes mínimas para a atuação de grupos reflexivos para HAV (na atuação presencial). O Instituto Noos, do qual Alan Bronz faz parte, tem programas de capacitação de mediadores e profissionais para a condução destes grupos.
Já o Memoh, plataforma de grupos para homens (que não atuam diretamente com autores de violência), fundado por Pedro de Figueiredo Schneider, conta com uma metodologia própria para condução de grupos online considerando a necessidade de fazer com que espaços de discussão e partilha chegassem a mais cantos do país.
A união destes três campos de conhecimentos formou o artigo Grupos reflexivos de gênero para homens no ambiente virtual: adaptações, desafios metodológicos e potencialidade. Leia aqui o artigo completo publicado na revista Nova Perspectiva Sistemática.
O que muda do online para o presencial?
Para começar podemos citar o abismo social e as dificuldades de acesso e conexão. Ainda que se tenha um aparelho, conexão estável e de qualidade, sem atrasos, para permitir a fluência da conversa com câmeras ligadas e olho no olho, não é algo não simples assim. Muitos acessos ainda dependem de celular e conexão móvel.
Ainda sobre as diferenças sociais, em muitos lares não é possível ter um cômodo só para si, com silêncio e privacidade para uma sessão reflexiva. Por outro lado, para muitos isso elimina as dificuldades de transporte e logística, fica mais fácil participar dos encontros.
Outra moeda de dois lados é que a própria chamada por ser online pode se tornar menos pessoal, desencorajando o debate e as interações verbais entre o grupo. O outro lado desta questão, é que o distanciamento também pode fazer com que as pessoas sintam-se mais à vontade para falar coisas das quais se envergonhariam pessoalmente.
O artigo aponta como, nos encontros presenciais, é muito positivo manter o debate aberto com espaço para um fluxo de pensamento e de interações que partam dos homens que estão ali para refletir. No entanto, para que haja espaço de fala e interação para todos no virtual, é preciso estabelecer uma dinâmica mais estruturada.
Para que os encontros realmente sejam capazes de produzir mudanças de comportamento nos homens que o integram, é preciso que a mudança de pensamento parta das reflexões e diálogos do grupo. Aulas ou palestras, em que professores ditam, unidirecionalmente, formas mais adequadas de comportamento enquanto os participantes apenas escutam, não são eficazes para gerar mudanças e equidade
A condução feita por um profissional com experiência e formação no campo é um dos elementos mais importantes para garantir que o grupo online conseguirá manter seu carácter reflexivo, interativo e transformador, considerando as perdas e ganhos que o online pode proporcionar.
Mais conteúdos sobre o tema ainda devem ser produzidos pelo professor Adriano apoiado pelo Núcleo Margens da UFSC e demais pesquisadores.
Onde encontrar um grupo para homens autores de violência?
Beiras, os pesquisadores Ms. Daniel Fauth Martins e Michelle de Souza Gomes Hugill (CEVID/SC) e o Grupo de Pesquisa Margens mapearam 312 iniciativas de trabalhos com homens autores de violência em todos os cantos do Brasil.
Veja este artigo para encontra um grupo na sua região:
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