Verão de 2013, Gaslight Coffee Roasters, Chicago, Illinois:
De novo sentada em frente a tela do computador. De novo exausta. Me sentindo o cocô do cavalo do bandido.
Passei o ano passado ouvindo esse tipo de perguntas:
“Como vai aquele seu projeto de escrever mais?”
“Já pensou trabalhar só meio turno?”
“A mensalidade da faculdade está em dia?”
Chego a esboçar o tipo de resposta que acredito que estas perguntas mereçam, mas então lembro que é importante manter um bom relacionamento com as pessoas.
Há semanas que não consigo escrever, ou fazer qualquer coisa ligada a minhas ambições pessoais. Como entender isso? Como levantar do fundo do poço quando não se tem mais para onde ir? Não há ponto de apoio, nada onde firmar a mão para se erguer e seguir adiante.
Como nos recuperamos depois do burnout, do profundo esgotamento?
Como recomeçamos depois dele?
O que significa burnout
Não há definição clara sobre o burnout, mas o termo apareceu pela primeira vez nos anos 70, nos escritos do psicólogo Freudgenberger e seu colega Gail North identificaram 12 fases que levam ao burnout:
Os sintomas fisiológicos do burnout são causados pelas reações de “luta ou fuga”. Queiramos ou não, esta resposta acaba sendo provocada por elementos comuns causadores de estresse no trabalho (como respeitar prazos ou levar projetos até o final).
- A glândula adrenal secreta o hormônio cortisol
- O batimento cardíaco se acelera
- A pressão sanguínea sobe
O burnout ocorre quando as exigências e o estresse colocados sobre nós excedem nossas capacidades físicas e mentais. Nos enganamos quanto ao que é necessário porque assumimos poder empurrar tudo e simplesmente ignorar os limites. A má notícia é que isto está acontecendo cada vez com mais frequência.
A Forbes relata que desde a crise econômica muitos empregadores cortaram despesas – e nem era preciso alguém nos dizer isso. A redução das despesas e o arrocho salarial coincidiram com um aumento no número de tarefas e responsabilidades. Os empregados se sentem intensamente na obrigação de nunca dizer não.
Antes do meu burnout eu dizia sim para tudo. Não havia nada que eu considerasse não poder fazer, nada que eu não faria por meu trabalho. Para ser honesta comigo mesma, isso se resumia a eu não querer ver outra pessoa dizendo sim.
O ponto sem retorno
Quando consegui admitir que me encontrava em burnout, já era tarde demais. Evitava o convívio social e não dormia mais. Descobri-me chorando em pleno dia e sem razão alguma. Eu só queria fazer as coisas melhor, trabalhar o máximo que pudesse, fazer pelo menos tanto quanto eu via as pessoas ao meu redor fazendo. Era mais fácil, para mim, me convencer a trabalhar mais do que encarar a verdade – a verdade de que eu precisava uma folga.
Todo mundo precisa de uma folga de tempos em tempos. De acordo com a Scientific American, a exposição a estresse contínuo libera no corpo os hormônios epinefrina, noraepinefrina e cortisol. Estes hormônios bloqueiam nossa capacidade de processar bem a informação – além de causar vários outros problemas de saúde.
Quando eu digo folga não estou falando de uma caminhada de quinze minutos ao redor da quadra. Estou falando de alguns dias consecutivos. O corpo precisa tempo para se desconectar do estresse. Isso pode levar alguns dias, ou até uma semana inteira. Os seus recursos físicos e emocionais precisam de tempo para se regenerar. Esses recursos não se esgotaram da noite para o dia, e portanto não é certo esperar que sejam recuperados da noite para o dia.
Aqui listo alguns dos benefícios que uma folguinha trazem para a saúde:
- Interrompe o ciclo do estresse
- Melhora os relacionamentos
- Possibilita que novas perspectivas se abram
- Ajuda o coração e limpa a mente
Por várias razões, muitos de nós se recusam a (ou não conseguem) usar o tempo de férias. Então como lidar com o burnout quando não se pode parar de trabalhar?
Caindo na real
É aqui que a maioria de nós fracassa completamente. Não olhamos para nós mesmos o suficiente porque pensamos que estamos ocupados demais, ou não temos poder para consertar qualquer coisa. Nenhuma dessas pressuposições é verdadeira.
1. Fazendo um inventário
Escreva tudo que está causando estresse em sua vida, e seja honesto. Ao lado de cada fonte de estresse, anote uma estratégia para lidar com aquele estresse particular. Tendo em vista que somos especialistas em nos convencer a ignorar o estresse, colocá-lo no papel é nossa primeira chance de realmente permitir que nosso cérebro comece a processar essa informação.
Aqui está um exemplo em meu diário, desculpem a caligrafia:
Também ajuda reconhecer os temas e fontes comuns do estresse. Localizar a fonte principal é o primeiro passo na direção de descobrir formas saudáveis de lidar com o próprio estresse e aprender a gerenciá-lo.
2. Pedir ajuda
Aprender a pedir ajuda não é fácil, a maioria de nós nunca aprendeu a fazer isso. Pedir ajuda não significa que se é incapaz, não significa que se é burro, e não diminui nem um pouco nosso valor.
O que se pode fazer:
- ser direto e honesto sobre o que se precisa e porque
- descobrir quem estaria melhor capacitado a ajudá-lo (amigo, família, médico, fórum anônimo na internet?)
- ajudar alguém quando, no futuro, estiver em posição de fazer isto
O medo de ser rejeitado muitas vezes obstaculiza a disposição a pedir ajuda, mas estudos mostram que não se deve ficar apreensivo. As pessoas rejeitam dar ajuda muito menos frequentemente do que imaginamos. E não só isso, mas elas gostam de ajudar. Elas gostam de se sentir necessárias, e isso até mesmo faz com que se sintam bem consigo mesmas. Todo mundo ganha com isso.
3. Tire o seu da reta
Quando atinge a fase de burnout a pessoa geralmente se descobre sem escolha alguma, a não ser recomeçar. Alguns abandonam o trabalho, tiram uma licença, ou simplesmente se negam a iniciar novos projetos de trabalho até que tenham se recuperado. Não sei dizer o que é melhor para você, mas posso dar alguns conselhos sobre como minimizar ao máximo os níveis de estresse:
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Delegue o máximo que puder sempre que puder. Se você é como eu, você provavelmente acumula trabalho como um esquilo faz com as nozes, porque acha que isso o sobressai perante os outros. Não sobressai. Se você trabalha com uma equipe, repasse algumas tarefas menos críticas para outros no grupo.
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Diga não e seja firme quanto a isso. Isto o ajuda a não exagerar ainda mais. Você pode se descobrir dizendo sim sem refletir sobre o impacto daquilo sobre você mesmo. Fique ciente das consequências de dizer sim e de exatamente o que está sendo pedido.
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Durma mais. Seis horas de sono não vão ser suficientes, é realmente necessário tentar dormir pelo menos oito horas, para prover o corpo e a mente com o que eles precisam para se renovarem.
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Encontre tempo para si mesmo. Repito mais uma vez, isso nem se discute. É necessário encontrar tempo durante o dia para si próprio. Faça exercícios, leia, e pratique o relaxamento ativo.
Uma vez que você tenha seguido esses passos, tente reintegrar o trabalho na vida, mas vá DEVAGAR. Reavalie constantemente o tipo de trabalho que está fazendo e se está alinhado com seus objetivos.
Persiste uma voz chata na minha cabeça dizendo “podia ser pior” o tempo todo.
Acredito que muitos ouçam essa voz.
Pensamos em todas as pessoas próximas que trabalham mais do que nós trabalhamos, e com menos folgas. Nos convencemos, “se eles conseguem, eu também consigo”. Mas há momentos em que simplesmente não dá, e não há problema algum nisso.
Uma das reclamações mais frequentes do burnout é o sentimento de que perdemos a nós mesmos. Se você já passou pelo burnout, ou se não quer passar por ele, é preciso investir em si próprio. Dê um jeito de se conectar consigo mesmo e com as próprias paixões, diariamente.
Este artigo foi publicado originalmente no Crew Blog e traduzido por Eduardo Pinheiro.
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