Independente de quem você seja, onde você viva e por quem você tenha sido criado, se você tem um RG brasileiro, você cresceu vendo, ouvindo e talvez até mesmo praticando a corrupção.

Não é exagero. Se o brasileiro se acha o povo mais corrupto do mundo, a sensação não está muito distante da realidade. Ao furar fila no banco, usar internet do vizinho, puxar tv a cabo da rua, evadir pedágio, emitir nota fiscal errada, sonegar imposto e tantas outras "pequenas" ações estamos contribuindo para que o Brasil seja, na verdade, o quarto país mais corrupto do mundo.

Mas se a contribuição que nós, individualmente, damos para esse fato é difícil de mensurar, recentemente, por força de alguns agentes públicos, a sujeira (ou pelo menos parte dela) produzida pela classe política vem emergindo com mais força.

Segundo o próprio Ministério Público Federal, a Lava Jato já recuperou cerca de R$ 5,4 bilhões para os cofres públicos apenas em propinas pagas em paraísos fiscais. Isso já significa um valor considerável, mas a principal operação anti-corrupção da história do país ainda tem um potencial de crescimento imenso que, por hora, pode chegar a até R$ 38 bilhões.

São números difíceis de ignorar. E ainda mais difíceis de rebater. A despeito das posições ideológicas, já há quem esteja avisando sobre a necessidade dos brasileiros se unirem pra enfrentar o verdadeiro problema, caso contrário, o golpe (pra quem é de golpe) terá sido completo e o impeachment (pra quem é de impeachment) terá sido em vão.

"O golpe em curso não é da direita sobre a esquerda, nem vice-versa: é um golpe do sistema todo, tentando se perpetuar, sobre as pessoas. […] O problema é que boa parte da população ainda não está nem enxergando a treta. […] Para mim, a cada dia fica mais claro que as famílias que protestavam contra a corrupção de camisa amarela e os jovens que apanhavam da polícia de camisa vermelha, sem falar na turma de roupa colorida que vem desde 2013 exigindo serviços públicos decentes, são todos vítimas desse golpe. E, a essa altura do drama, à parte os raros gatos pingados que sobreviveram íntegros no meio de um sistema podre, eles só têm uns aos outros. Afinal, diferenças ideológicas à parte, acho que podemos todos tolerar viver num país sem corrupção, com Estado que não nos espanque e serviços públicos de qualidade, não?"

Denis R. Burgierman – em coluna recente do jornal digital Nexo

A verdade é que a maioria de nós está preso numa inércia estática estarrecedora e não sabe nem por onde começar a agir para impedir o pior. E aqueles que não estão inertes não conseguem conversar entre si: uns querem intervenção militar; outros querem eleições diretas já; e há ainda quem defenda a tese do "deixa o homem trabalhar". Mas uma vez aprendi que quem mira muito longe, não consegue sair do lugar. Então, hoje, vou te dar uma opção de dar o primeiro passo.

Enquanto o Moro, o Janot, o ministro do STF que conseguir ficar vivo e tantos outros agentes públicos tentam seguir com a Lava Jato, que tal você ajudar uma outra iniciativa de combater a corrupção? Te apresento a operação Serenata de Amor.

Lava Jato nossa de cada dia

Em 2011, após muita luta da sociedade civil, foi homologada a Lei de Acesso à Informação que garante aos cidadãos o direito de obter informações de interesse público. A partir desse momento, tudo que não fosse segredo de segurança nacional (notem que ainda existe uma brecha aí) se tornou disponível para consulta.

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Subindo nas ombros dessa lei, a imprensa passou a poder colaborar com o próprio Ministério Público na tentativa de investigar os gastos de nossos políticos e exercer uma de suas principais atribuições (quase esquecida) que é de investigar os três poderes. Acontece que mesmo as redações mais bem intencionadas não são capazes de dar conta de tudo. Ninguém é. Foi então que surgiu a ideia dos criadores do Serenata de Amor.

Depois de meses trabalhando em finais de semana e fazendo horas extras durante a semana que varavam a madrugada, um grupo de amigos conseguiu finalmente parar suas vidas e se dedicar a isso.

Eles criaram um software, um robô como os utilizados pelo Google para "ler" nossos sites e rankeá-los na busca, que consegue vasculhar as declarações de gastos públicos dos deputados federais e cruzar com outros bancos de dados de forma a levantar movimentos suspeitos. Esse robô é capaz de analisar os 2 milhões de registros feitos desde 2009 e mais os 25 mil novos registros mensais de maneira a realizar o trabalho de 1 milhão de voluntários em 1 centésimo do tempo.

Tudo isso foi pensado tendo como pano de fundo o fato de que desvia-se no Brasil cerca de R$ 200 bilhões de dinheiro público por ano para objetivos finais diferentes do proposto originalmente. A popular corrupção. E que cada deputado federal brasileiro tem direito a uma "verba indenizatória" de até R$ 44 mil por mês, fora seu próprio salário, para facilitar sua atuação parlamentar.

A ideia é que os deputados gastem com material de escritório, alimentação, aluguel de imóveis, passagens, combustível ou quase qualquer coisa que ajude na sua atuação. Mas a verdade é que muitos deles abusam desse benefício e gastam até mesmo com bebidas alcoólicas em Las Vegas.

No ano passado, eles fizeram um projeto de financiamento coletivo que pretendia pagar dois meses de atuação deles. No final, o crowdfunding deu mais certo do que o esperado e arrecadou mais de R$ 80 mil. Com essa grana, eles conseguiram atuar por três meses, fazendo 629 denúncias, questionando R$ 378.844,05 em gastos de 216 deputados.

Agora, o projeto precisa de um novo impulso para seguir em frente e está realizando um novo financiamento para se manter de pé. A meta está 45% concluída e você pode ajudar eles a baterem os 100%, lendo mais sobre o projeto e dando sua contribuição. No fim, teremos mais uma forma de ajudar a combater esse mal que nos assola.

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A ideia é combater a sensação de impunidade, fazendo com que os deputados saibam que estão sendo fiscalizados. Depois disso, podemos pensar em voos mais altos. Sabe-se lá quão mais altos.

Quer pensar nisso agora?

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Você FiscalVocê Fiscal e como ajudar a fiscalizar as urnas da eleição

Minha SampaFazer mudanças implica assumir riscos e contar com muita ajuda

Virada PolíticaA Política é importante demais pra ser deixada na mão dos políticos

E a pérola do PdHComo se tornar um cidadão-fiscal

Tem mais projetos pra indicar? Manda aí nos comentários e vamos fazendo a nossa parte.

Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a <a>Jornalismo Júnior</a>