Há quem diga que o grande mal da humanidade é a ganância, o capitalismo ou o açúcar. Arrisco dizer que é a comunicação – ou a falta dela.

Falar o que realmente queremos dizer: tarefa nada fácil. Ilustra feita por Vivian Dall’Alba especialmente pro projeto Admirável Xaveco Novo– um percurso de quatro textos a serem publicados aqui no PdH (esse aqui é o segundo – leia o primeiro aqui).

A comunicação é esse mecanismo incrível que nos separou dos animais, nos levou pra um outro nível da condição humana e ajudou a construir civilizações.

Rousseau dizia que a comunicação passou a existir a partir da necessidade de expressão dos sentimentos. Já Jean-Paul Bronckart, cientista social, diz que as produções sonoras originais foram criadas porque precisávamos entrar em acordo, chegar em lugares comuns.

O maluco é que essa mesma necessidade segue existindo. A verdade é que ainda não sabemos nos comunicar direito, apesar dos milhares de anos tentando.

Comunicação é bumerangue: vai e volta

Nosso primeiro erro é entender comunicação como uma ação individual, objetiva, via de mão única, enquanto ela é, na verdade, o contrário disso. É uma construção conjunta, criada a partir de pessoas interagindo.

O segundo é ignorar a influência da nossa cultura na comunicação. Usamos vários recursos de linguagem o tempo todo pra tentar dizer o que queremos: símbolos, palavras, desenhos, gestos, sinais, sons e expressões. E tudo isso é aprendido e desenvolvido a partir da cultura em que estamos inseridos.

Muito provavelmente grande parte do nosso repertório linguístico está impregnado de estereótipos, ainda que nós – homens e mulheres – não nos demos conta disso.

Homem é tudo igual!

Mulher é tudo interesseira.

Homem de verdade não chora.

Precisamos então, antes de ir pra prática, entender que a cultura em que vivemos pode ter afetado a nossa forma de se comunicar. Quanto antes olharmos pra isso de um jeito questionador, mais fácil vai ser aprendermos a nos comunicar de forma mais direta e gentil.

Reprogramando nossa comunicação viciada

Algumas coisinhas importantes pra qualquer situação de paquera, e que tendem a ajudar muito em uma aproximação mais suave e bacana, pra homens e mulheres.

1. Observar

A observação é uma parte fundamental pra criar conexão com o outro. E, no fim do dia, conexão é tudo o que a gente mais quer quando o assunto é xaveco.

Pra conhecer a pessoa e depois ter uma boa conversa, precisamos sair um pouco de nós mesmos, das nossas vontades e desejos, e levar nossa atenção pra outra pessoa: como ela parece estar?

Aberta, disponível, ou fechada, com medo? Feliz ou triste? Comendo ou de fones de ouvido, sem querer ser incomodada? Olhar um pouco e tentar compreender o contexto do outro antes de tomar uma atitude é sempre um ótimo começo.

2. Trucar nosso repertório

Precisamos duvidar um pouco de palavras e expressões que consideramos normais. Muitas falas padrões que usamos pra xavecar são, na verdade, agressivas e ruins, como por exemplo, partir pra elogios ligados à aparência física, e dar a entender que, se a moça está sozinha, ou tem algum problema ou virou presa fácil.

Algumas coisas que sempre ouvimos nesse sentido:

Tão bonita e sozinha?

Cadê seu namorado?

Se eu tivesse uma namorada que nem você não deixava sair sem mim.

Nossa, que coisinha linda.

3. As mulheres são constantemente bombardeadas

Ouvimos abordagens ruins o tempo todo e já andamos por aí armadas com o que eu gosto de chamar de escudo-contra-o-vacilão.

Ou seja, estamos grande parte do tempo na defensiva, esperando falas e abordagens desrespeitosas. Levar isso em consideração é importante pra lembrar de ter um cuidado extra na abordagem com as meninas e não levar primeiras reações pro lado pessoal.

Partindo pra ação: o xaveco na prática

Aprender fazendo é o lema. Então, vou te contar um pouco do que nós, mulheres, curtimos ou abominamos em determinadas situações de xaveco. Aí vamos nós.

Em espaços públicos

Observar o ambiente é sempre bom antes de partir pra ação. Se é uma rua movimentada ou se está vazia, se é de noite ou está mal iluminado. Se é um local de interação ou de passagem.

Tudo isso diz se o espaço é ou não é convidativo ao diálogo.



Também, é legal notar a pessoa em relação ao ambiente. Se ela está andando rápido, com pressa, se está esperando alguém, se está ouvindo música, distraída ou concentrada lendo um livro. Tudo isso já te conta se ela está com uma postura de abertura ou se está mais fechada a estranhos.

Por fim, observe como ela está em relação à você. Somos pessoas e mandamos sinais. As mulheres, como os homens, quando se interessam por alguém, mudam a postura, olham e tentam dar recados. O mesmo quando não queremos que alguém se aproxime.

Sinais super comuns nos espaços públicos:

Colocar o fone de ouvido, abrir um livro ou ficar mexendo no celular: grandes chances dessa pessoa não querer papo, né?

Estabelecer contato visual, sorriso, ficar de frente ao invés de virar as costas ou ficar de lado: sinal de abertura e convite.

Se você sentiu que tem espaço aberto pra uma abordagem, tente o seguinte:

(a) Se colocar vulnerável: a vulnerabilidade aumenta as chances de conexão e aproximação. Se abra. Diga o que sente de mais puro e honesto. Se for vergonha, diga que está envergonhado, se for encantamento, diga que está encantado. Não há nenhuma regra aqui, mas dizer o que sente é sempre uma boa forma de começar.

Uma vez um menino se aproximou e disse que estava me observando há bastante tempo, mas que não tinha conseguido entender bem os sinais, e por isso ficou um pouco receoso de se aproximar. Achei honesto e contei pra ele como estava me sentindo. Seguimos no papo. É isso. A sinceridade conecta e facilita bastante a conversa.

(b) Dê espaço seguro a pessoa que estiver abordando. Se ela demonstrar não gostar da sua aproximação, respeite. Não a cerque e nem insista demais.

(c) Se vocês estão no transporte público, cuidado redobrado com o respeito ao espaço: se vocês estão dividindo o mesmo vagão de metrô e ela ficar desconfortável não vai ter pra onde ir. Também, se lembre que é um lugar comum de assédio pras mulheres. Pode ser que estejamos na defensiva.

Na balada

Galera da balada: tudo bem se você não se encaixa aqui. Eu também não. | Foto por Juan Felipe Rubio

Ok, aqui está tudo bem, é sua praia, estamos todos querendo pegação. Não. A balada pode ser um lugar duro, com homens e mulheres. Lá, ficamos muitas vezes presos na lógica do homem-caçador e mulher-caça, e nem sempre nos identificamos com esses papéis.

Também, comum que no fervo da noite tanto homens quanto mulheres fiquem mais ousados, com menos medo de agir e isso pode aumentar muito a chance de um approach descuidado.

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Então, voltamos pra observação. Note como ela está, se está sozinha, com amigos, acompanhada, se está mais interessada na sua amiga do que em você, se está bêbada, ou se quer mais é dançar do que seduzir ou ser seduzida.

Os sinais variam de pessoa pra pessoa, mas, as meninas, quando estão mais abertas, costumam olhar mais pro ambiente e ao redor.

Tiramos o foco do celular, da conversa com os amigos ou do DJ. Fazemos contato visual sempre que possível.

Sentiu que o sinal ficou verde e resolveu fazer algo? Se lembre:

(a) No geral, toda mulher gosta de ser elogiada, mas alguns elogios mexem mais com a gente que outros. Elogiar nossa roupa, acessório ou cabelo é mais sutil e soa mais atencioso do que soltar um: sabia que você é linda?

(b) Puxar assunto sobre algum acontecimento ou curiosidade daquele mesmo ambiente tem maiores chances de gerar um papo mais solto e engajado.

A dica de ouro aqui é: antes de agir, note ela um pouquinho. E nunca parta do princípio que, se ela está na balada, está disponível.

No trabalho

Aconteceu? Agora, lide com as consequências, meu amigo. | Foto por Santi Molina

A gente sabe que o trabalho é complicado. Mas considerando que passamos a maior parte do nosso dia trabalhando, fica bem difícil  – e um pouco fora do nosso controle – que as relações não extrapolem o âmbito profissional.

Ao decidir flertar com uma mulher no trabalho, saiba que você está entrando num terreno delicado, e não porque é o seu trabalho, mas porque é o trabalho dela.

O ambiente corporativo ainda é um ambiente bastante masculino, com muito mais homens em posições de poder. Só 5% de mulheres ocupam cargos de chefia no Brasil. Isso faz com que o trabalho seja um espaço bem mais delicado pra nós.

Aqui é preciso ponderar suas ações e avaliar as chances de uma atitude descuidada sua reverberar de forma negativa na vida profissional dela.

Socialmente, as mulheres sofrem mais julgamentos em relação a sua vida sexual e afetiva e isso pode determinar seu futuro dentro da empresa caso sua vida íntima seja exposta.

Ainda faz sentido se aproximar? Tudo bem, vamos lá:

(a) Faça tudo com calma.

(b) Se aproxime aos poucos das pessoas com quem ela se relaciona. Se tem uma coisa que nós mulheres fazemos bem é compartilhar nossos sentimentos. Se ela tem interesse em você, então, provavelmente já comentou com alguém.

(c) Se atente um pouco nas questões de vida dela. Se tem filhos, qual é o nível social dela e, principalmente, qual é o cargo que ela ocupa em relação ao seu. A ideia é entender o contexto em que ela está e quais questões podem ser delicadas pra ela no trabalho.

No maravilhoso mundo virtual

“É um match (acerto)!”

Estamos conectados o tempo todo. Seria estranho se não usássemos a internet como uma ferramenta hábil pra sedução, principalmente pros mais tímidos.

Porém, se foi o tempo que a internet era terra de ninguém. Se tem uma coisa que estamos construindo na web é nossa reputação, e, com isso, estamos mais cuidadosos com o que a gente fala, com a forma como a gente fala e com quem a gente fala.

Então, primeiro de tudo: não sejamos descuidados ou desrespeitosos só porque estamos atrás da tela. O ideal é fazer e dizer sempre coisas que faríamos e diríamos cara a cara.

É claro que é mais fácil dar um fazer um convite no chat do facebook ou mandar um emoji de gatinho piscando do que ter que puxar um bom assunto ao vivo e a cores.

Se lembre que em algum momento você ainda vai ter que puxar um bom assunto na mesa de um café. E quando isso acontecer ela vai esperar que você seja aquela mesma pessoa que ela conheceu pela internet.

Coisas pra lembrar caso você for lá abrir o chat com aquela pessoa interessante:

(a) Estamos fazendo mil coisas na web. Somos bombardeados de vídeos de crianças fofas dançando, pokes, textos, mensagens, tudo ao mesmo tempo e agora. Por isso, você precisa ser afiado e perceptivo, talvez mais que ao vivo.

(b) Usar um assunto leve, divertido. Não é uma boa começar o papo perguntando profissão e falando de trabalho, por exemplo. Uma ideia é começar devagar e ir aprofundando aos poucos, se houver abertura e interesse.

(c) Falar menos e perguntar mais. Todos nós adoramos pessoas que demonstram curiosidade genuína sobre nossas vidas, sobre a vida das pessoas ao redor. Isso vale pros xavecos offline também.

(d) Dar espaço entre as conversas. Alguém que dá bom dia, boa tarde e boa noite corre o risco de ser interpretado como carente ou esquisito. Vamos com calma.

(e) Não insistir numa conversa quando a pessoa está respondendo de forma monossilábica ou quando visualiza e não te responde.

Perguntar porque ela não respondeu se já visualizou também pode soar meio desesperado.

Estamos todos no mesmo barco

Não é fácil pra ninguém, mas a gente chega lá. O importante é seguir tentando.

Estamos juntos, homens e mulheres, construindo um novo jeito de nos aproximar e nos comunicar.

Em pé de igualdade, com mais empatia, respeito, clareza e honestidade. E nada melhor que tentar outras abordagens ao invés do xaveco habitual pra construir essas pontes.

Fechando, mais um convite para a prática:

Quais hábitos ruins de linguagem e comunicação você acha que tem, e que ficam claros na hora da aproximação? Quais hábitos são bons e funcionam?

É difícil ouvir o outro ou é mais difícil se abrir e falar de si mesmo?

Você acha que observa demais e perde a espontaneidade ou que se apressa e atropela as coisas?

Quais estereótipos masculinos e femininos estão aí dentro, adormecidos, e te atrapalham no momento do flerte?

Vamos seguir a conversa nos comentários.


Nota editorial: a maior parte das observações e dicas nesse texto são pra homens e mulheres com quaisquer direcionamentos sexuais. Poucas ressalvas são apenas pros meninos que gostam de meninas e tem dificuldades com algumas abordagens específicas.

De resto, somos pessoas e compartilhamos de dificuldades muitas vezes parecidas, independentemente de gênero e preferências sexuais.


Mecenas: O Boticário

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Giovana Camargo

Não gosta de se definir pela profissão. Gosta é de gente, abraços, sorrisos, encontros despretensiosos e simplicidade. Acredita que a compaixão e a sororidade solucionam qualquer problema do mundo. É a conectadora do <a>Cinese</a>. Nas horas vagas toma chá e anda descalça."