"Como agir diante da situação de vários caras que dão em cima de sua namorada? Ela é linda e eu acho que tem que chegar nos caras e se impor (fazer algum tipo de ameaça) para que a namorada perceba que sou um macho protetor.

Mas, na prática falo pra ela continuar dispensando os caras e bloqueando-os (a maioria das investidas ocorrem pelo WhatsApp).

Então, galera, ajuda aí!"

Caro namo-linda,

A beleza é um negócio do cão. Ao mesmo tempo que a cobiçamos, temos um pavor quando ela fica perto demais. Sempre imagino a ambiguidade de ter uma Ferrari nas mãos. Por um lado, o deleite da máquina e, por outro, o olhar sempre condicionado, sedento e inevitavelmente invejoso.

Estar ao lado de uma mulher que chame a atenção é um desafio para vocês dois. Ela não tem culpa de ser atraente. Quer dizer, ela tem o mérito de sustentar essa aura de atração. É muito fácil culpar a garota e constranger seu comportamento por achar que ela tem algum grau de culpa por ser quem é. Cair nisso é como enxugar gelo, gasto de energia desnecessária.

A maior parte dos homens esquece que pessoas bonitas estão naturalizadas consigo mesmas. Elas também se acham esquisitas e desinteressantes em dias ruins. Ninguém transborda autoconfiança o dia todo. Então, a pergunta que você pode se fazer é: qual o tipo de vínculo que tem com ela?

Você pode seguir agindo como um cachorro que pastoreia as ovelhas e seguir mordiscando os pés delas para mantê-la na trilha, ou ser como o pastor que anda firme em frente e segue quem quiser seguir.

Essa dimensão de liberdade também não garante lealdade ou fidelidade, mas garante sua paz de espírito e uma vida com significado. Se ela se interessa por isso, tudo bem. Se não, tudo bem também. É a vida dela.

Sei que esse tipo de postura pode soar desinteressada ou desapegada num nível que parece que você nem gosta tanto da garota, mas é o contrário. Só é possível amar de verdade soltando a pessoa amada. O controle pode ajudar por um tempo, mas cria confrontos desnecessários, desgasta a relação e tira sua potência de viver e fluir com leveza.

Calma, cara.

Alguém pode levantar a questão sobre como os caras conseguem o celular dela. Bem, vamos supor que em algum nível ela se alimente da vaidade de ser assediada, ainda que não siga nada além disso. A maioria vai recriminar "mina minha não faz isso", enquanto isso, as mesmas pessoas ficam mantendo contatinhos na calada da noite. Somos contraditórios.

A verdade é que a libido bebe de fontes politicamente incorretas, fronteiriças entre o bem e o mal. É desse caldeirão das bruxas que podemos dar espaço para algo que ilumine a parceira ou apague a sua chama. É melhor manter uma vela escondida que não brilhe nem pra mim ou uma fogueira que me aqueça e deixe um pouco de calor para os outros? Confesso que não tenho essa resposta, mas é uma pergunta que não devemos sufocar com moralismos precipitados.

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É de poligamia que estou falando? Não exatamente, mas de uma disponibilidade de saber que não pertecemos a ninguém e que sustentar esse paradoxo é o caminho que pode arejar o relacionamento de modo que o casal sempre queira permanecer por ali.

Só chamamos algo de prisão pelo constrangimento moral e pela impossibilidade de saída. Mas o que é uma casa se não um lugar fixo? Será que não é como uma prisão que queremos voluntariamente voltar todos os dias por muitos anos de nossa vida?

Cercar não adianta, constranger funciona por pouco tempo, bancar o macho protetor pode impressionar algumas garotas nas primeiras vezes (e depois se tornar insuportável). Se ainda restar a dúvida do que fazer se alguém der em cima dela virtual ou pessoalmente, faça uma inversão de gênero, tente pensar como mulher. O que você gostaria que seu namorado fizesse se fosse abordado por uma garota? Talvez ficasse tranquila, sentada e esperando ele se posicionar gentilmente e dizer que está acompanhado. Seria estranho e inconveniente levantar e fazer um escândalo, certo? Ele deveria ser adulto para se posicionar sozinho, certo? Então, por ser homem, você não precisa agir como um galo de briga, ainda que isso supostamente fosse esperado de um homem.

Você não precisa seguir o protocolo, você precisa só ser adulto e tranquilo com a sua relação. Cada pessoa cuida de si mesma.

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Daqui a 15 dias o próximo tema vai ser "Ela quer um ménage e eu não".

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Nota da edição: a coluna ID não é terapia (que deve ser buscada em situações mais delicadas). É apenas um apoio, um incentivo, um caminho, uma provocação, um aconselhamento, uma proposta. Não espere precisão cirúrgica e não condene por generalizações. Sua vida não pode ser resumida em algumas linhas, e minha resposta não abrangerá tudo.

A ideia é que possamos nos comunicar a partir de uma dimensão ampla, de ferocidade saudável. Não enrole ou justifique desnecessariamente, apenas relate sua questão da forma mais honesta possível.

Antes de enviar sua pergunta, leia as outras respostas da coluna ID e veja se sua questão é parecida com a de outra pessoa. Se ainda assim considerar sua dúvida benéfica, envie para id@papodehomem.com.br. A casa agradece.

Frederico Mattos

Sonhador, psicólogo provocador, é autor do <a>Sobre a vida</a> e dos livros <a href="https://amzn.to/39azDR6">Relacionamento para Leigos"</a> e <a href="https://amzn.to/2BbUMhg">"Como se libertar do ex"</a>. Adora contar e ouvir histórias de vida no instagram <a href="https://instagram.com/fredmattos/">@fredmattos</a>. Nas demais horas cultiva a felicidade