Sempre recebemos perguntas no nosso e-mail ou instagram, e uma delas tinha o seguinte questionamento: “quero ficar com uma pessoa: como conquistar o sim depois que recebi um não?” Sabemos que isso é uma questão para muitos homens. Mas por que tentar conquistar o sim? E se o caminho for só aceitar o não? Como lidar bem com isso?
Redação PDH
Afinal de contas, o que é “lidar bem”? Nossas histórias, vivências e bagagens emocionais influenciam muito a forma como vamos lidar com tudo: as frustrações, as conquistas, os amores, os flertes e as rejeições.
Depois de um fora, há quem se sinta tão inseguro a ponto de não conseguir chegar em outra pessoa, dar o primeiro passo outra vez, puxar um assunto ou mandar uma mensagem. Há também quem vai tentar mesmo com medo. E esse “fora” pode soar como um golpe duro, inclusive porque tem gente que entra numa de que o problema está nela — se achar feia, menos inteligente, menos atraente.
Existem aqueles que, depois do fora, têm reações mais agressivas, como xingar: “Você nem é tudo isso, mesmo, viu?!”, “Tem um monte de gente atrás de mim, acha mesmo que eu me importo?!”. (Mas no fundo se importa né, a gente sabe?!) E, por fim, temos aqueles que ativam o modo “vida que segue, tem muita gente interessante nesse mundo”.
É tentador ser este último exemplo, mas nem sempre vamos conseguir. E aceitar isso, entender que, às vezes, um fora vai me doer, e eu vou ter dificuldade de administrar essa sensação de rejeição, faz parte do processo.
Ninguém precisa ficar feliz, nem ao menos neutro, ao levar um fora. É chato, é triste, é decepcionante. Mas todos vamos passar por isso muitas vezes em nossas vidas, então como receber um fora sem que isso abale nossa autoestima, sem que isso desperte raiva, sem que isso se torne uma luta por mudar a situação?
Entender e aceitar o desinteresse da outra pessoa
Entender que a outra pessoa não está interessada é um exercício importante para aprendermos que não somos o “centro do universo” (por mais que essa informação nos doa, rs.) As pessoas possuem suas preferências, tomam as suas decisões e fazem suas escolhas.
Me dispensou porque eu sou feio?
Independente se você acha certo ou errado, a aparência pode fazer parte dessa decisão, deste não que você ouviu. Nesses casos, é sempre importante lembrar que o conceito de atração física tem aspectos padronizados socialmente e também tem aspectos subjetivos. Não é porque uma ou algumas pessoas não se interessaram que você não é interessante.
É sempre uma oportunidade para pensarmos “o que me atrai nas pessoas? Qual o papel da aparência no meu processo de me sentir atraído?”
Muitas vezes também nos baseamos na aparência padrão, e o mesmo padrão que faz com que nos sintamos rejeitados também nos leva a rejeitar uma série de pessoas. Podemos rever nosso próprio processo e reconstruir os valores que nos levam a nos sentir atraídos por uma pessoa.
Ainda que você ache “condenável” que alguém te rejeite pela aparência, isso não está no seu controle. E nesse sentido, outra perspectiva possível é pensar que, se alguém te dispensou pela sua aparência, e você não concorda com esse tipo de crivo, então o fora já é uma amostra de que vocês dois não têm compatibilidade.
O “não” pode ou não ser sobre você
Mas e se a pessoa só estava em um momento ruim? E se a justificativa foi algo externo, falta de tempo, excesso de trabalho, será que não vale a pena insistir?
Essa é uma questão que também surge com frequência.
Por um lado, tentar insistir é um jeito de negar que levamos um fora ou de afastar a dúvida: “não é que ela não queira…”
Seja por que estamos ruminando aquele fora ou por que estamos negando que isso aconteceu, buscando alternativas de sair desse lugar confuso que é a sensação de rejeição.
Primeiro é importante pensar: por que você está considerando que esse fora aconteceu só por que a pessoa estava em um suposto momento ruim? Ela te disse isso? Ela falou “podemos conversar melhor depois?” A resposta foi confusa?
É certo que algumas pessoas têm dificuldade em dizer NÃO e serem claras nas suas respostas. Uma perspectiva é que se a pessoa quisesse mesmo te corresponder, ela te diria um SIM, claro. Mas como não é tão simples assim, a gente fica pensando nas possibilidades: tem gente que não sabe dizer não, tem gente que só não quer demonstrar tanto interesse logo de cara, tem gente que não tá podendo pensar isso na hora, tem gente que nem entendeu que o convite era uma declaração de interesse.
Se ficou na dúvida, às vezes vale a pena, ao invés de cultivar dúvidas baseado em uma série de hipóteses que você não pode confirmar, perguntar de forma mais direta. Mas atenção, é super importante perguntar de uma forma que deixe a pessoa confortável para ser sincera.
“Eu sei que você não tá com tempo de sair essa semana e tudo bem. Mas a real é que eu queria saber, e pode ser sincera, se é porque tá foda pra você nesse momento, se você tem interesse em sair comigo quando as coisas estiverem mais tranquilas pra você ou se você acha que não tem muito a ver a gente sair em um encontro. Se for esse o caso, fica tranquila, segue tudo certo, é que eu prefiro saber mesmo para não ficar criando expectativas”
E realmente seja fiel a isso que você está dizendo. Se a pessoa te mandar uma real que te dispensa, não vale querer retaliar e falar um monte para pessoa.
“Ah, mas eu quero conquistar esse SIM!
“No fundinho ela quer, é só insistir mais um pouco!”
Bem, há quem tente esse perigoso caminho. E eu diria que ele é bem não recomendado. Essa decisão fala, de novo, sobre nós e essa nossa imensa dificuldade com contextos de rejeição. Há um enorme risco da sua insistência afastar totalmente a outra pessoa e você se tornar o sujeito insuportável.
Não há como saber o que as pessoas querem, supondo que “no fundo” o desejo delas é outro. Soa até meio prepotente termos essa imagem de que somos capazes de ler o que o outro quer mais do que ele mesmo.
Sugestão: Na dúvida, tente perguntar de forma educada e sem pressão, para que a pessoa se sinta à vontade para te mandar a real. Nessa perguntada, você também pode deixar o caminho aberto para interações futuras.
– “ah nesse momento eu tô toda enrolada com o trabalho, com problemas de família, não to nem conseguindo pensar em date, foi mal…
– Tranquilo, se for só isso mesmo, quando você estiver mais de boa, eu estarei por aqui. Só me dar um toque que eu te convido pra tomar uma cerveja..”
Precisamos aprender a falar e externalizar o que sentimos e desejamos. E, em contrapartida, também precisamos aprender a respeitar o que outros sentem e desejam.
Vida que segue. Outros “nãos” e outros “sins” virão.
O “não” não te diminui
E outro exercício talvez mais difícil ainda é entender que o fato da outra pessoa não te querer, por qualquer motivo, não te diminui.
Pode não fazer sentido pra você, mas isso é porque você não sabe e nunca vai saber exatamente a soma de motivos que fez com que a pessoa te dissesse não. Mas isso não significa que você não seja uma pessoa potencialmente interessante, que merece amor, que pode ser valorizado por outras pessoas. Pode parecer papo de “mãe coruja”, pode ser algo que a gente demore para entender, mas vale a pena dar tempo ao tempo e não se diminuir por um fora até que a vida lhe prove que existem outras pessoas que vão se atrair e se interessar por você.
Reavalie as suas expectativas
É importante considerarmos que quando a vida não gira em torno de ser um casal, um fora não atrapalha sua visão de si mesmo.
“tudo o que eu queria na minha vida era ter uma namorada, alguém que gostasse de mim, que me mandasse cartinhas”
Essa é frase veio de uma conversa com um amigo muito querido e reflete um desejo que não é compartilhado por muitos homens (e mulheres). O amor e o “ser amado” como o roteiro principal de nossas vidas. Numa sociedade tão romantizada e erotizada, como sentir-se pleno sem ter um par?
Não é uma chave simples de virar.
No entanto, podemos cultivar aos poucos uma visão de mundo que nos valorize enquanto amigos, enquanto filhos, irmãos, cunhados, colegas de trabalho, uma visão de mundo em que cada um se sonhe como parte de uma comunidade, de uma rede de pessoas amadas e próximas. E que ter uma parceira afetiva sexual seja só um elemento possível dessa rede, mas não o elemento central, não o que te define como alguém digno de amor ou não, bem sucedido nas relações ou não.
Virar essa chave é permitir que um fora, que a negação de uma relação, não destrua nosso lugar no mundo e o nosso cultivo de relações.
Tudo bem sofrer por um fora, nem sempre precisamos afastar a dor
Às vezes, só precisamos sentar com ela e permitir que ela seja essa visita desconfortável por algum tempo. Ela vai embora. Tentar acelerar o processo, às vezes, nos impede de processar a informação.
Se permita sentir a rejeição, reclamar dela, ouvir músicas de sofrência, mas também cuide para que isso tenha o seu tempo, mas que não ocupe sua vida como um todo. Há de se focar em outras coisas e dar oportunidades para você mesmo não pensar nisso e viver outros elementos importantes da sua vida.
A quantidade pode ser aliada da qualidade
Okay, esse é um ponto polêmico, mas acho que aqui tem uma oportunidade de reflexão importante. Assim como em uma pesquisa, o quantitativo e o qualitativo não são opostos, são aliados. Assim também pode ser nas nossas relações. Digo isso por que, como é comum da nossa juventude, quando vivemos nosso primeiro amor, achamos que o mundo vai acabar sem ele, que essa dor não pode ser superada, e um monte de coisas nesse sentido. Ter mais repertório, sair com mais pessoas, tentar ou se abrir para viver novos e mais amores nos ensina que aquilo que perdemos não era a única oportunidade, que existirão outras que podem ser boas de diferentes maneiras.
Mas ficar tentando pra que? Para receber mais não? Levar bordoada em cima de bordoada?
Mesmo por essa perspectiva, as tentativas podem ser úteis. Afinal, se você leva um fora, talvez essa situação te pareça terrivelmente dolorosa. Porém, é quase como colocar um aparelho nos dentes, nos primeiros dias o desconforto é horrível, mal dá pra comer direito… mas, depois, conforme as manutenções se tornam rotineiras, nos acostumamos com a sensação e o corpo desenvolve resistência. Apesar do desconforto seguir ali, já sabemos que somos capazes de lidar com ele sem que isso atrapalhe nossa rotina.
publicado em 27 de Março de 2023, 19:55
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