Términos por si só já são situações extremamente difíceis. Quando se trata de casamentos, nem se fala. Quando envolvem filhos então, a coisa pode se complicar muito mais. Mas se você tiver que terminar um casamento, tendo um filho e uma esposa grávida, aí pode ser realmente o desafio da sua vida.

Me chamo Alexandre, tenho 31 anos, e tive que passar exatamente por isso há pouco mais de um ano quando, após muitas conversas, terapia, grupos de apoio com outros pais casados e separados com problemas familiares semelhantes ao meu, tive que encarar a dura realidade de que não amava mais a mulher com quem eu tinha me casado.

Romper quando a pessoa ainda te ama

Não vou mentir: me separar foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Considerando que vim de uma família extremamente religiosa e conservadora, na qual os casais nunca se separam, às vezes me pego pensando se ainda vou passar por provação maior do que essa na vida.

Eu já tinha pensado em me separar antes. Quando o contexto era mais amigável. Por pressão e interferências dos outros, porém, resolvi voltar atrás e hoje percebo que ter tomado aquela decisão naquele momento teria sido o melhor para ambas as partes.

Melhor ou pior, não importa: a separação deixa marcas. Ainda que seja você a pessoa que quer se separar, você terá que passar por todos os sentimentos de dúvida, perda, melancolia e, muitas vezes, depressão, afinal são mil lembranças compartilhadas. No meu caso, eu e minha esposa crescemos juntos, nos tornamos adultos juntos, um com o apoio do outro e eu não tenho absolutamente nada contra ela. Apenas sinto que nosso casamento não deu certo ou, como prefiro dizer: deu certo por seis anos.

Acontece que para o resto da sociedade, não é bem assim. Aos olhos dos outros, se você assumiu o compromisso de estar com uma pessoa pelo resto da vida, deve morrer com essa escolha independente do que aconteça. Soa cruel? E é. Ainda mais considerando que a sua decisão não afeta apenas você.

A solução que encontrei foi procurar reforçar para minha ex-esposa que a nossa separação não significa que nós falhamos enquanto pessoas e que isso não faz de mim menos homem nem dela menos mulher. Pelo contrário, é uma situação extremamente difícil que estamos obrigados a encarar, mas que vai fazer de nós dois mais fortes.

Ainda assim, esperar que sua ex-mulher queira ser sua amiga e compreenda que você foi apenas honesto com relação aos seus sentimentos logo de cara é, no mínimo, inocente. Você teve todo o tempo que precisou para se preparar, ter conversas, procurar todo tipo de ajuda antes de finalmente falar com ela, portanto, é natural que as coisas estejam muito mais maturadas na sua cabeça do que na dela. Nesse caso, meu amigo, não adianta: aguenta a barra e dê o espaço que ela precisar pelo tempo que puder sem, é claro, ficar longe dos seus filhos.

Romper quando se têm filhos pequenos

A maior culpa sempre recai em quem termina a relação. E se o casamento envolver filhos, será sempre difícil argumentar que você estará presente para eles e que sua parceira poderá continuar a contar com você para tudo que envolva as crianças. Muitas mulheres vão interpretar isso como uma tentativa de fugir das responsabilidades e imaginar que você vai estar curtindo a vida de solteiro enquanto ela estará fadada a cuidar deles sozinha.

Eu não as culpo. Exemplos não faltam de homens que fizeram exatamente isso. De qualquer forma, é importante que você seja firme em salientar que vai estar presente na vida de seus filhos e que sua parceira poderá contar com você para tudo que envolva as crianças.

No meu caso, após a terapia e após frequentar grupos de apoio onde conheci outros pais separados, percebi que entrar na armadilha da alienação paternal é uma cilada que você pode evitar se houver uma boa comunicação com sua ex-parceira. É preciso ter em mente que vocês podem até não ser casados, mas que vocês já têm filhos e as crianças não tem culpa de nada. Elas, portanto, precisam dos pais presentes no crescimento delas.

Eu me dispus, assim como na gestação do meu primeiro filho, a participar de todo o processo gestacional. Desde os primeiros ultrassons até o parto e o período pós-operatório no hospital. Da primeira vez, porém, tudo era mais simples. Éramos casados. Agora, muita coisa está fresca e muitos desses acordos tem de ser tratados no tempo certo.

De início, minha ex-mulher não queria nem olhar na minha cara quanto mais ter uma conversa delicada dessas. Eu precisei ter muita paciência para compreender que ela está magoada e que a gravidez deixa ela ainda mais sensível. Sendo assim, só me restou ser respeitoso e mostrar da forma que puder que ela ainda vai poder contar com você e que o segundo filho vai ser tão amado e cuidado quanto o primeiro já é.

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Mas manter essa comunicação não é sempre fácil. Não mesmo. E se seus filhos ainda são crianças, vocês devem ser adultos o suficiente para não usá-los como moedas de chantagem emocional. Deixe-os mais fora disso possível até que eles possam ter compreensão da situação. Para tentar manter esse canal de comunicação aberto, mesmo tendo uma separação traumática, tentei e continuo tentando deixar claro para minha ex-companheira que a estimo e respeito muito. Reforço que acho ela uma mulher e uma mãe incrível. Nós apenas não demos certo como um casal e tudo bem.

Ainda assim, a questão dos filhos é muito delicada e envolve outras coisas como a sua organização financeira.

Romper quando se tem uma situação financeira delicada

No mundo ideal, o dinheiro não deveria ser capaz de nos fazer ficar presos a uma relação ruim, mas na vida real nós sabemos que isso vive acontecendo o tempo inteiro.

A separação exigiu de mim esforços nesse sentido que eu nem era capaz de imaginar. Para você ter uma ideia, eu não tinha para onde ir após a separação de maneira que eu e minha ex-companheira ainda dividimos a mesma casa. Essa situação delicada somada a necessidade de prover o que meus filhos precisavam e cumprir minha promessa de não me afastar da criação deles me obrigou a procurar novas fontes de renda.

Eu passei a dirigir um Uber, estou planejando abrir um negócio próprio de venda de camisetas e estou topando quase qualquer bico para ter uma renda que possa me ajudar a não ficar no vermelho e poder oferecer uma boa estrutura às crianças.

O que tem me ajudado é ter em perspectiva que a mudança na minha vida será grande e foi um caminho que eu escolhi. Escolhi não viver uma relação por comodismo e escolhi ser um pai solteiro. Estou arcando com os custos disso, mas vejo mais significado nisso do que na situação que estava antes.

Como proceder após a separação

Você poderia estar se sentindo quase solteiro mesmo antes de optar por terminar a relação, mas quando você tem todas essas responsabilidades, precisa do seu tempo para organizar as ideias. Por mais que você ache que não, você também vai sentir o baque de terminar um relacionamento longo. Não é como se do dia pra noite tudo mudasse. É um processo. E, ao contrário de uma relação sem filhos, você não vai ter o benefício de poder se afastar muito da pessoa com quem estava antes.

Durante tudo isso, você talvez ainda tenha que lidar com os questionamentos e julgamentos da família e de outras pessoas próximas. No meu caso, foi especialmente delicado porque as pessoas levam muito pro pessoal e falam coisas do tipo "mas você vai fazer isso com as crianças?" ou "vocês nunca demonstraram ter problemas, tem certeza de que não está se precipitando?".

A verdade é que coisas assim nunca acontecem 'do nada'. Só quem está dentro da relação sabe como está se sentindo há muito tempo sufocado ou infeliz. Ainda assim, escolhi não abrir os problemas que tivemos para as pessoas. Quando escuto esses questionamentos, costumo responder coisas genéricas do tipo: "Pois é, nós já vinhamos tendo nossos conflitos e assim vai ser melhor inclusive para as crianças". Os detalhes não dizem respeito a ninguém mais. É a sua vida, suas escolhas e seus filhos. Ninguém de fora pode dizer o que você vai fazer por eles e o quanto os ama.

Foi preciso tempo e muita ajuda para compreender meus sentimentos e aprender a lidar com todos esses problemas, o que só consegui fazer depois que me desprendi dos conceitos e estereótipos impostos pela sociedade e compreendi que não existe um único caminho, certo, uma única maneira de ser feliz ou um único jeito de ser pai, marido, filho ou simplesmente ser homem. Percebi que a minha felicidade é o que importa e como cada um de nós pretende alcançá-la é algo que só diz respeito a cada um de nós individualmente.

Eu, porém, não cheguei a essas conclusões todas sozinho. Sendo assim, o que eu te aconselho é procurar a ajuda de amigos. Nessa hora, os bons se apresentarão. Além disso, leia sobre o assunto, como você está fazendo agora. Se tiver condições, faça terapia. E acima de tudo tenha empatia pelas pessoas. De fora, é muito difícil entender tudo isso. Você está buscando aprender sobre isso, mas o resto do mundo não tem essa obrigação e por isso, as reações serão diversas. Com o tempo, porém, elas param de perguntar e se acostumam com a nova realidade. Você também.

Afinal de contas, nenhuma tempestade dura pra sempre.

Alexandre Santos

Publicitário, escritor amador e pai solteiro de dois filhos (um em gestação) buscando superar os desafios que tudo isso traz.