Curiosa a quantidade de gente que repudia as manifestações pós-morte, como se fosse ruim dar o braço a torcer, como se fosse ruim tentar mudar o olho pelo qual se enxerga a pessoa que faleceu.

O Japinha, do CPM 22, publicou um texto sobre a morte do Chorão, parecia sincero.

“Bom dia.
É com pesar que escrevo aqui, afetado pela morte do colega Chorão, do Charlie Brown Jr.
Muitos aqui sabem o quanto foi grande a briga entre CPM22 e Chorão e o quanto isso afetou muita coisa na carreira e na nossa vida. Mas são águas passadas e já estava quase tudo superado.
Eu particularmente, na maioria das vezes, fui super bem tratado por ele e não queria nem um pouco o mal dele. Pelo contrário, sabia dos seus defeitos (que muitos aqui sabem também), mas sabia de um lado enorme bom dele, ele tinha um grande coração.
Além disso, o enorme talento para o rock, para a música nacional. Deixou um legado de fãs incrível, um trabalho digno de entrar pra história do rock, com tantos ‘hits’ e shows sensacionais. Seu carisma e habilidade no microfone eram gigantes.
Meus sentimentos à sua família (sou amigo de seu filho de 20 anos), aos membros da banda (amigos também) e à toda a ‘Família Charlie Brown Jr’.
Japinha”

Muita gente veio comentar “Ah, depois que morre todo mundo vira santo”, como se isso fosse algo ruim. Acho que passa longe disso. Me parece um respiro do tipo “eu sei que você passou a vida fazendo cagada, que brigamos pra caralho, mas vá lá, você tava dando seus pulos. era o que tínhamos, cada um tava dando seu melhor”

É como se admitíssemos que não tivemos serenidade e lucidez para enxergar isso durante a vida. E que a morte do outro nos liberou para amolecer, coisa que, no fundo, desejamos fazer em vida, mas não conseguimos por conta de orgulho, cegueira, raiva etc.

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Só esmaecer a raiva já melhoraria, mas entra ai um mecanismo de compensação. Nutrimos tanta coisa ruim, que junto com a dissolvição da raiva vem um pouco de veneração. E isso causa a tal da repulsa.

Assim acontece com vários outros. Bastou Chávez morrer para aparecerem uma série de fatos positivos, várias contribuições para a educação venezualana. Junto com os fatos positivos, surge uma multidão incomodada, como se não houvesse nada além de raiva para se sentir.

Somos de extremos.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças