Volta e meia quando comento sobre Bitcoin recebo diversas perguntas sobre a moeda: como funciona? O que é? Onde eu compro? Resolvi montar esse guia prático pra facilitar a vida de todos interessados a entrar no mundo do Bitcoin, e eventualmente em outras criptomoedas.
O que é Bitcoin?
Bitcoin é uma criptomoeda, um tipo de moeda alternativa. Cripto por conta da criptografia e o sistema utilizado, em que diferente de moedas comuns, ela não é regulada ou organizada por um banco central, e sim por uma rede P2P criptografada.
P2P (peer-to-peer) é quando uma rede ao invés de funcionar ligada a um servidor central, como grande parte de tudo que você faz na internet, é ligado em uma rede de outros usuários. É o mesmo sistema utilizado em torrent.
P2P e criptografada podem ter dado um nó na sua cabeça. Em termos simples: todo o mercado funciona em uma rede descentralizada de computadores conectados que trocam informações. Dessa forma, todas as transações feitas no mundo passam por toda a rede e fazem com que a moeda não dependa de um servidor ou órgão central. É a mesma lógica da rede torrent, só que voltado pra uma moeda.
Isso é seguro?
Sim. Cada Bitcoin funciona como uma “chave”* única em que apenas o detentor daquele dinheiro tem como movimenta-lo. Uma vez feita uma transação, a rede é consultada pra verificar se você é o dono daquele dinheiro mesmo. Essa chave é resultado de um algoritmo mega complexo que calcula e verifica com a rede se sua chave é exclusiva em todo o mundo.
Cada chave de cada moeda é resultado de horas, dias ou meses de cálculos para garantir que ela seja única, que é o que garante a segurança do Bitcoin.
De onde vem o dinheiro da rede?
O dinheiro não aparece no mercado do nada e sim a cada nova chave única que é gerada. Esse cálculo é chamado de mineração de Bitcoin, pois uma vez encontrada uma chave única, quem a descobriu embolsa a moeda. Esse processo se torna mais complexo a cada nova chave encontrada e a cada hora que passa menos moedas entram no mercado. Isso vai acontecer até chegar no limite de 21 milhões de Bitcoins, o que está previsto pra acontecer depois de 2100.
Hoje existem aproximadamente 15 milhões de Bitcoins em circulação.
Claro que toda essa quantidade de dinheiro virtual não vale se não existe um entendimento de valor por trás do Bitcoin. Por conta da segurança da plataforma e do interesse de muitas pessoas em realizar transações fora dos sistemas tradicionais e de forma anônima, o Bitcoin tem um valor, que pode ser visualizado melhor nas casas de câmbio. No momento que escrevo esse texto 1 BTC vale aproximadamente US$ 580 na maioria das casas de câmbio, mas existem vendas sendo realizadas a até US$ 800.
Não se assuste com o preço alto de um Bitcoin. É possível negociar até 8 casas decimais. Ou seja, a partir de BTC 0,0000001 (pouco mais de um centésimo de um centavo de real) já é possível movimentar.
Isso tudo é legal?
A legalidade do Bitcoin é algo controverso em vários países. No Brasil não existe legislação específica para isso, embora desde 2014 a recomendação da Receita Federal é que sejam declarados os valores no Imposto de Renda.
E por quê usar Bitcoins ao invés de moedas tradicionais?
- É um mercado totalmente auto-regulado por algoritmos;
- Tem sido uma boa forma de investimento em linhas gerais;
- É uma alternativa pra compra em diversos sites estrangeiros no lugar do cartão de crédito;
- Poder realizar transações de forma anônima sem os olhos do governo em cima.
Como adquirir Bitcoins
Existem três formas de se adquirir Bitcoins: 1) minerando; 2) comprando em uma casa de câmbio de Bitcoins; 3) comprando diretamente de alguém.
A primeira opção eu não vou abordar aqui devido à complexidade e profundidade do assunto, isso fica pra um texto futuro.
A compra em uma casa de câmbio é simples: você deposita seu dinheiro e troca por Bitcoins de acordo com a cotação da casa no momento da troca. Importante notar que é no momento da troca e não do depósito, pois a cotação do Bitcoin flutua a cada minuto e varia entre cada casa de câmbio.
O único lugar que testei no Brasil e que recomendo é o Mercado Bitcoin. Na pesquisa antes da minha primeira compra, era o local que tinha a melhor política de segurança e privacidade.
Embora o preço em uma casa de câmbio no Brasil seja superior a uma no exterior, a maior parte das casas fora do país não aceita cartões de crédito brasileiro, provavelmente devido à natureza descentralizada do Bitcoin no mercado financeiro e à falta de alguns acordos tributários que o Brasil não tem com vários países.
Outra forma de adquirir a moeda é direto com quem já tem. A plataforma mais conhecida pra trocar é o LocalBitCoins. Se for se aventurar na compra direto com pessoas, todo cuidado é pouco para evitar cair em golpes.
Onde guardar meus Bitcoins?
Depois de comprar seus Bitcoins em uma casa de câmbio, você deve migrar suas moedas para uma carteira (o chamado wallet no linguajar “bitcoinesco”). Além de permitir que suas moedas fiquem em um lugar seguro, você evita problemas como o famoso caso da Mt. Gox, uma casa de câmbio japonesa que faliu e na época sumiu com mais de BTC 850.000 de seus clientes.
Você mesmo pode criar um wallet em casa e guardar em seu computador usando o aplicativo oficial do Bitcoin. Embora seja uma forma segura de guardar, se você perder os arquivos do wallet, suas moedas ficam perdidas pra sempre. Por conta disso, a forma mais confiável de guardar Bitcoins é através de wallets na nuvem oferecidos por diversas empresas. A minha opção pessoal, e talvez uma das mais reconhecidas no mercado é a Coinbase, uma empresa americana dedicada a guardar Bitcoins em carteiras seguras.
Agora com essas informações em mãos, boa sorte em suas aventuras no mundo mágico das Bitcoins!
*Eu utilizei o termo chave no texto como forma de facilitar o entendimento. Em termos técnicos de programação o correto seria utilizar o termo hash (que é uma sequência de informações), visto que chave é um conceito diferente. Para não técnicos ou geeks no assunto, essa mudança não compromete o entendimento do texto.
Nota Adicional 1: Existe uma divergência de qual o símbolo correto para se falar de Bitcoins. A utilização do símbolo ฿ é o mais comum pela internet. Porém, esse símbolo é o mesmo da moeda tailandesa, o Bhat, e isso pode gerar confusão. Até mesmo em golpes que podem te prometer Bitcoins e te entregarem Bhats (1 bhat vale 10 centavos de reais aproximadamente). Outra forma de representação que tenta se estabelecer é o Ƀ, que é originalmente o símbolo fonético da letra grega Beta. Esse faz mais sentido, porém é pouco utilizado. Por questões de coerência, escrevi utilizando a sigla BTC que é a mais aceita para Bitcoins, inclusive em sites mais sérios sobre o mercado financeiro. Ainda assim, não seria a forma correta nos padrões ISO, mas por conta justamente da falta de uma regulamentação central do Bitcoin acaba que os próprios usuários ditam a norma geral da moeda.
Nota Adicional 2: Antes de decidir investir em Bitcoins, leve em consideração que é um mercado volátil e de alto risco. O maior cuidado que você deve ter ao cogitar trocar seus reais por uma moeda invisível é de não investir um valor que vá te fazer muita falta, e nunca colocar tudo no mesmo lugar — a cotação da moeda flutua bastante e não dá pra contar com um retorno garantido. Eu invisto e apoio mais pessoas acreditando no Bitcoin, mas seja responsável.
Nota Adicional 3: O link para o Coinbase contém um código de afiliados que pode me trazer ganhos se você eventualmente comprar pela plataforma. Acho importante ressaltar esse uso de afiliados no texto. De forma alguma os sites recomendados pagaram ou tem influência no conteúdo do texto. Todas as recomendações são baseadas no que eu, o autor do texto, utilizo e recomendo para todas as pessoas. O uso de afiliados é apenas na possibilidade de algum ganho posterior como bônus, pois este não é o objetivo desse texto.
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Nota da edição: nós estávamos procurando há algum tempo um texto bom e completo de introdução aos Bitcoins e encontramos essa preciosidade no Medium do Gus Fune, o responsável pela infraestrutura de tecnologia do PdH. Obrigado pela cessão, Gus.
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