Imagine-se bilionário. Pense em quanto trabalho você teve para conseguir acumular toda essa fortuna. Estou falando de anos e anos de trabalho, stress e pressão. Agora imagine que alguém lhe telefona algum dia, pede metade da sua fortuna e… você dá! Foi exatamente isto que ocorreu com 40 bilionários dos EUA.

No começo de agosto, Bill Gates e Warren Buffet fundaram a organização Giving Pledge, uma iniciativa para incentivar as famílias e indivíduos mais ricos dos EUA a fazer grandes doações para projetos filantrópicos de diversas naturezas. Entenda por grandes doações, no mínimo, metade da sua própria fortuna. Realmente, não é pouca coisa.

Estas doações podem ser após a morte, porém é encorajada a participação dos doadores nos projetos apoiados, pois o principal objetivo da Giving Pledge é dar o exemplo para que mais pessoas ricas façam doações. Por isso, é pedido que se escreva uma carta pública anunciando o desejo de participar da organização.

Além dos próprios Bill Gates e Warren Buffett, nomes bem influentes entraram na jogada, como George Lucas, Larry Ellison, Ted Turner, Jeff Skoll e até o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.

“Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”

Tio Ben sabia das coisas.

Bill e Melinda Gates parecem ter compreendido bem o sentido das palavras do tio de Peter Parker. Envolvem-se em projetos de desenvolvimento de vacinas, apoiam medidas educacionais e várias outras iniciativas relacionadas à saúde e educação em vários países. Ou seja, eles utilizam sua fortuna como uma maneira de movimentar vidas e trazer benefícios às pessoas. É esse seu novo trabalho em tempo integral.

Eles descrevem a razão na sua carta à Giving Pledge.

“We have been blessed with good fortune beyond our wildest expectations, and we are profoundly grateful. But just as these gifts are great, so we feel a great responsibility to use them well. That is why we are so pleased to join in making an explicit commitment to the Giving Pledge.”

Pra que não haja dúvida ou mal-entendido, faço uma pequena tradução livre:

“Nós fomos abençoados com boa sorte além das nossas mais ousadas expectativas, e somos profundamente gratos. Mas assim como estes presentes são grandiosos, também sentimos uma grande responsabilidade em usá-los bem. É por isso que estamos tão felizes em fazer um comprometimento explícito à Giving Pledge.”

É especialmente interessante observar os depoimentos escritos nas cartas e questionarmos nossa própria conduta. Alguns de nós têm mais capacidade de movimentar a vida dos outros por meio do dinheiro ou atitudes cotidianas, mas cada um pode contribuir de diferentes formas para o bem-estar social.

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Não cabe a mim julgar o papel de cada indivíduo, uma vez que nossa consciência pode dar o indicativo de que caminho seguir. Porém, podemos, cada um de nós, pensarmos no que estamos fazendo das nossas vidas e que significado estamos dando a elas.

“Tem sido claro para mim desde minhas primeiras memórias de infância que minha razão de existir era ajudar outros.” – Jon and Karen Huntsman (trecho da carta aberta contextualizando a doação)

Link YouTube | Warren Buffett, Melinda e Bill Gates falam de seu novo trabalho em tempo integral.

A verdadeira generosidade não é silenciosa?

Uma crítica óbvia, logicamente, é o fato de este não ser um compromisso contratual, ou seja, se por um acaso algum dos envolvidos resolver não mais fazer as doações, é permitido: eles não sofrerão coisa alguma por isso. Eles também não são obrigados a auxiliar nenhuma instituição específica. Acho válido, uma vez que ninguém é obrigado a doar. Porém, vejo muito mais força no tipo de acordo firmado: compromisso moral.

Estamos falando de palavra.

Também questiona-se por que tornar público o ato de doar. Não deveria ser uma tarefa oculta que passasse por cima de egos inflados de gente rica e famosa? Não no nosso contexto. Aqui o relevante é dar o exemplo, ser referência, inspirar. E isto, talvez, seja o mais importante, pois gera discussão. Pergunta-se por que e com que finalidade deve-se doar, enfim, usar seu poder pessoal e financeiro em causas que vão além de seu próprio bem-estar (ou apenas da contiuidade da própria família). Imagine o verdadeiro benefício desta atitude.

“O mundo é um local vasto e complicado que necessita de cada um de nós fazendo tudo que pudermos para garantir um melhor amanhã para gerações futuras.”
Jeff Skoll, ex-presidente do eBay, fundador da Skoll Foundation (para investir em empreendedores sociais) e da Participant Productions (responsável pelo filme Uma verdade inconveniente); e um dos doadores, claro.

Link TED | “Aposte em boas pessoas fazendo boas coisas”: palestra de Jeff Skoll no TED, com legenda em português. Vale a pena ficar parado por 15 minutos.

E você, o que tem feito pra mudar o mundo?

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>