Um projeto entregue e impactando uma quantidade grande de pessoas, mesmo tendo falhas, não é uma falha. É uma conquista.
Um amigo dedicou anos a um projeto que foi muito sonhado, muito suado e no qual ele acreditava profundamente.
O projeto saiu do papel, virou realidade e chegou ao público. Inclusive, podemos dizer que ganhou maiores proporções do que o esperado.
Com a repercussão e o sucesso, também chegaram ás críticas.
Algumas eram esperadas, outras, ele não esperava que pudessem ser tão contundentes. Aos poucos, a cada vez que ele mencionava o projeto, ele recebia um porção de elogios e mais algumas críticas.
Um fato importante aqui é que ele concordava com as críticas: quando diziam que tal tema ficou raso, ele pensava “sim, de fato, eu achei que seria suficiente, mas não foi”.
Os meses foram passando e ele foi se sentindo exausto de falar sobre o tema e muito desse cansaço era por ter de lidar com a decepção por ter caído em erros que ele queria, de verdade, ter evitado.
Um ponto chave nessa história é a dificuldade em lidar com os nossos erros sem perder nosso valor.
Quebrar a narrativa de glorificar ou condenar, entendendo que, para além dos pontos que podem ser melhorados, existe um valor naquilo foi feito e bem feito. O simples fato de ter sido feito já é um valor imenso.
Um projeto entregue e impactando uma quantidade grande de pessoas, mesmo tendo falhas, não é uma falha. É uma conquista.
Foto de Joshua Earle na Unsplash
Poderia ser melhor? Sempre vai poder ser melhor.
Enxergar o que poderia ter sido feito diferente é uma capacidade que nasce justamente do processo prático que foi fazer essa primeira versão.
Aceitar e aprender com o erro sem se sentir culpado e sem descartar os pontos positivos do que fizemos é um exercício diário (e cansativo).No entanto é necessário. A outra alternativa seria viver a espera de um momento em que o acerto seria garantido, em que nossos projetos e metas fossem perfeitos. E e esse momento não existe.
A espera pela perfeição nos trava na inércia.
Se esperássemos chegar a esse ponto perfeito, ficaríamos então sem ação, sem tomar os primeiros passos, sem sair da teoria. E a quem interessa isso?
Esse incentivo ao antes feito do que perfeito não é, no entanto, um discurso de descuido ou de “tanto faz”. Será que vale qualquer coisa? Será que fazer as coisas sempre é melhor do que não fazer nada, mesmo quando as consequências da execução chegam a ser desastrosas?
Como ponderar identificando os erros aceitáveis e os intragáveis?
Talvez o equilíbrio desse dilema esteja em “ser cuidadoso”.
Cultivar um senso de responsabilidade que está ao seu alcance, sem lavar as mãos para todos os tipos de erro. Tentar acertar, sem se culpabilizar pelas limitações do momento.
Ter cuidado, ter carinho, ter responsabilidade e fazer com uma intenção genuína de fazer bem feito nos aproxima do caminho em que — mesmo que nenhum projeto seja perfeito — estamos todos engajados em fazer acontecer para que um dia exista uma próxima versão, mais completa.
publicado em 19 de Dezembro de 2023, 15:21
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