Há alguns meses atrás, fui convidada pelo Papo de Homem pra pensar junto em um projeto que falasse de conquista em tempos onde todos estamos levantando com força a questão da igualdade de gênero. A pergunta que eles colocaram na mesa foi: como faz para chegar junto, conversar, se conectar, com respeito?

Mais do que "o que não fazer", a gente queria abordar travas, papéis sociais, dificuldades compartilhadas e, além disso, possibilidades: como desprogramar hábitos ruins, estabelecer novos, e o que fazer pra se abrir e conseguir se relacionar a partir do encontro, com mais abertura e liberdade.

Assim nasceu o Admirável Xaveco Novo, com 4 textos + ilustrações especiais, escritos e editados por mulheres incríveis, envolvidas em projetos ligados à educação, gênero, produção de conteúdo, programação, design, e por aí vai.

Pra quem perdeu, esses são os textos do percurso

Esqueça tudo o que você foi treinado pra fazer quando o assunto é xaveco

Como podemos nos comunicar (e paquerar) melhor

Raio X do xaveco: 20 abordagens boas e ruins que a gente viu por aí, explicadas

No xaveco e nas relações, temos que ser mais livres

E pra fechar, nós, autoras (menos a Nessa, que está em Estocolmo), nos encontramos pra tomar um café e falar sobre xaveco. Falamos de tudo um pouco em um bate papo curto, de treze minutos. Você pode assistir ele inteiro, ou pedaços, de acordo com os temas. A ideia é fomentar mais o papo e seguir a conversa nos comentários (e não dizer o que é certo e o que é errado, tá?).

Bate papo em vídeo

Trecho 1: Quais elogios mais funcionam com as mulheres?

Trecho 2: E se o homem não quiser abordar a mulher, como fica?

Trecho 3: Como xavecar? Será que abordagens sinceras funcionam com as mulheres?

Admirável Xaveco Novo | Bate-papo das minas –  completo

Melhores comentários da comunidade

Apesar de ser um assunto espinhoso, a galera entrou de cabeça no papo e vários comentários incríveis surgiram. Foi bonito de ver. Fizemos uma seleção de alguns deles, só pra gente pegar o gancho e conversar um pouquinho mais.

Lucas Melo (texto 1)

Não tenho o menor problema em puxar assunto com qualquer mulher na fila do supermercado, no trabalho ou no ponto de ônibus, desde que minha intenção não seja ficar com a moça. Conversar por conversar é fácil demais pra mim.

Agora, na balada (onde o ambiente já é propício pra ficar com alguém), ou mesmo fora desse ambiente, se minha intenção é "romântica" eu fico preso numa espécie de dilema ético, como gosto de chamar. Sou incapaz de me aproximar e até de trocar olhares. Sei lá por que, simplesmente me trava. É uma sensação de que é errado eu me aproximar de alguém, conversar qualquer assunto na intenção de ficar com a moça. Além disso, sinto um medo horrível de ficar ali desamparado. Ter que terminar a conversa com um "desculpa aí ter te incomodado e tomado seu tempo ofertando meu produto".

* * *

Otávio Andrade (texto 1)

Se eu pudesse agir sem imposição social? É engraçado, acho que teria muito mais iniciativa para tentar alguma coisa. Toda a expectativa que se cria, todos os estereótipos que existem para os dois lados. Isso "castra" meu lado extrovertido. Eu sou o tipo de pessoa que gosta de conversa, de entrar um pouco no mundo do outro e tentar compreender o olhar do outro. Em uma festa ou coisa do gênero sinto que é quase impossível tentar dessa forma.

Existe uma pressão em ser incisivo, em ter que chegar, em fazer as coisas rolarem; ficar conversando demais poderia trazer para mim a fama de "arroz", de incompentente junto com os amigos. Evito ser assim, e infelizmente na hora de abordar, sai mecânico, sintético. Não é meu natural.

Agora quando o cenário é outro, um parque, biblioteca, uma praça, se a oportunidade surge, eu consigo ser mais natural. Pode às vezes ser subjetivo ou ficar nas entrelinhas em um primeiro momento mas com o tempo, podem surgir boas surpresas.

Ps.: Muito boa a iniciativa. É difícil, creio eu, pra maioria dos homens abordar esse tipo de assunto com naturalidade, sem recorrer à escudos. Ver toda essa riqueza de opiniões é muito interessante, é muito construtivo. PdH é sempre o meu espaço para esse tipo de diálogo aberto.

Parabéns!

***

Larissa Figueiredo (texto 1)

Chegar não tem sido um problema pra mim. Agora, manter o xaveco na pós-pegação é realmente desafiador. São vários os protocolos:

– Cuidado para não ser pegajosa

– Cuidado para não invadir o espaço

– Cuidado para ele não achar que você ta querendo namorar

– "Não corre atrás"

– Não mande mensagens mto longas no whats.

– Pareça desinteressada

Gente, como faz pra dar seguimento dessa forma? Se um cara faz tudo isso comigo, eu vou achar que ele tá desinteressado.

Ao mesmo tempo, eu faço isso! Se eu tento mexer em um desses protocolos, misteriosamente, dá tudo errado. Os caras se assustam e eu sinceramente não sei o porquê. Acho que a minha vontade é mandar "filhote, você é meu novo muso. Vamos tomar um sorvete no domingo".

***

Rafael Seiz (texto 3)

Deixa eu contar a minha história.

Nunca soube xavecar. Nun. Ca.

Sempre fui o engraçadão da turma, e ao mesmo tempo, o nerdão pega-ninguem. Isso me frustrava, mas a gente vai levando.

Aí aparece aquela né… que parece que veio do céu. Ela trabalhava na videolocadora da cidade. Eu fiquei um tempão só alugando milhoes de filmes e indo na lan-house. Oi daqui, tudo bem dali, até que um dia eu fui pegar um filme e caiu o maior toró.

Começamos a conversar, já que eu teria que esperar a chuva. Isso foi no dia 13 de janeiro. Conversamos umas três horas e fui embora.

Ai com o tempo fomos pegando amizade, vendo gostos em comum, eu levando ela em casa depois do trabalho, a gente trocando mensagens, até que no dia 7 de fevereiro, quando a gente estava de frente pro mar, eu mandei essa pérola:

– Então, eu… acho que eu gosto de você mais do que como amigo (eu tinha recém feito 18 anos, mim deixi)

– Eu tambem sinto isso…

SILENCIO CONSTRANGEDOR

– Então, acho que essa é a parte do filme que a gente se beija (!!!)

Hoje é engraçado, na hora foi bem bonito.

Ela me disse que o que eu fiz de diferente foi: não chegar "dando em cima", mas ir conversando, conhecendo, e respeitei o espaço dela, porque ela nunca tinha ficado com ninguém.

E deu que estamos há 5 anos e 7 meses juntos.

Ao que tudo indica, nos casamos em novembro.

***

Gustavo Sant'anna (texto 4)

Uau…. esse texto me trouxe diversas sensações, mas a melhor delas é saber que não sou tão sozinho no mundo em alguns pontos.

"Era bem frequente eu me apaixonar por pessoas naquela avenida"

Essa parte se encaixa perfeitamente a mim, eu me apaixono diariamente, do caminho de casa até o trabalho ou do trabalho até a casa de algum amigo ou amiga e assim vai. NUNCA tive coragem de abordar qualquer pessoa que eu tenha me "apaixonado", sempre acaba quando ela ou eu seguimos nossos caminhos diferentes.

Ansiedade e expectativa: tenho muito disso. Sério. Fico com a garota hoje e já creio que é a mulher da minha vida, já penso no casamento, nos filhos, e afins. Aprendi nesse 23 anos de vida que isso mais estraga meus relacionamentos do que ajuda, tenho tentado melhorar. Deixar as coisas rolarem, sabe? Como tu cita: "trocas". Então, a maioria das garotas que há uma atração inicial que eu, normalmente, já iria direto pro "vamos nos casar?" (OK, não é tao exagerado assim!) eu tenho dado mais espaço e aproveitando nessas trocas de experiencias e conhecer novos mundos, sabores, gostos, desgostos e etc. Menos expectativas, menos decepções.

Tenho tentado tambem, não seguir muitos "joguinhos", tirei isso fora e vou de acordo com a relação que crio. Novas relações, novas formas de lidar, novos papos, novas abordagens. Cada pessoa é MUITO diferente da outra e vamos aprendendo, correto? Errando e acertando.

Não menos importante, parabéns a você e as outras mulheres que estão construindo essa série. Me proporcionou muitas discussões boas, aprender com as historias dos outros leitores e com a de vocês também. Série espetacular, sem exageros.

Vamos seguir o papo? Esperamos vocês aqui nos comentários.

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* * *

Nota editorial: agradecimento especial ao Boticário e à W3Haus, sua agência responsável pelo projeto. Sabemos que foi um editorial ousado, que exigiu coragem ao peitar associar a marca ao tema. Nos deu gosto produzir conteúdo benéfico e realmente significativo – além disso, estouramos as metas do projeto. Dá sim pra unir qualidade e resultados ao entregar algo de fato útil para as pessoas. Por uma publicidade melhor, acreditamos em mais parcerias como essa!

Nota editorial 2: e outro agradecimento à articuladora do projeto, Anna Haddad, às autoras Giovana Camargo, Vanessa Guedes e Carol Patrocínio, à Ana Higa e Luiza Oliveira (videomakers), e também para a Viviane Dall'alba, ilustradora. Nunca havíamos trabalhado no PdH tendo um articulador independente para o conteúdo, experimentamos pela primeira vez e ficamos bastante felizes. Foi maravilhoso trabalhar com elas na construção de pontes – ao invés de termos uma guerra dos sexos nos comentários, tivemos lindas e construtivas discussões. Muito mérito desse time pra lá de talentoso!

Anna Haddad

Acredita no poder de articulação das pessoas e numa educação livre e desestruturada. Entrou em crise com o mundo dos diplomas e fundou a plataforma de aprendizagem colaborativa <a>Cinese</a>. Tá por aí