Pergunta:“Olá Dr. Health,
parabéns pela sua coluna aqui na PDH! Gostaria que você tentasse me ajudar no meu problema.
Tenho 21 anos e trabalho de segunda a sexta das 8h às 18h e em seguida tenho que sair voando para a faculdade. Com essa correria do dia-dia, consigo ir dormir por volta da 0h e tenho que acordar às 7h.
O problema é que às vezes deito na cama e não consigo dormir! Os problemas continuam “rodando” na minha cabeça e isso faz com que eu nao durma. E cada dia mais eu tenho mais dificuldade de conseguir acordar no horário!
Já tentei colocar o celular longe da cama para me forçar a levantar direto, mas volto a deitar e perco a hora. Atualmente coloco meu celular para despertar 45min antes das 7h e vou usando a função “soneca” que faz com que o despertador me dê 10min para tocar novamente, mas isso de um tempo pra cá também não funciona mais…
E chega o final de semana eu acabo também na maior correria, pois acabo saindo com os amigos, fazendo compras e etc..ou seja não consigo descansar direito! Até mesmo porque meu “relógio biológio” faz com que eu acorde por volta das 9h e eu não consigo mais dormir, mesmo estando com sono.
Já ouvi falar duma doença chamada “burnout career”, será que estou
sofrendo dela?
Você teria alguma dica para melhorar a qualidade do meu sono? Acredito que
7h são mais que suficientes pro corpo descansar.
E, principalmente, vc tem alguma dica para fazer eu acordar “de uma vez”
nas manhãs?
Obrigado pela ajuda!”
– Caio
O que me parece, pelo seu relato, é que uma entidade dos tempos modernos está batendo à sua porta. O nome dela é stress.
As alterações que você me relata são perfeitamente compatíveis com uma pessoa que anda estressada, principalmente no que tange à sua insônia. Não digo propriamente uma insônia clássica, mas a alteração do seu ritmo normal de sono. O normal de sono para repor as energias é de oito horas diárias, mas à medida que o organismo vai envelhecendo, pode cair para 6 horas. 7 horas é bem razoável.
Como acordar mais cedo
Sobre acordar depois do horário, é questão de pura lógica. Você está indo dormir tarde, e seu despertador toca no momento do auge do “desligamento” do seu organismo. Completamente compreensível a dificuldade em acordar. E a melhor dica que posso te dar para acordar na hora, é dormir mais cedo (ou então contratar um segurança parrudo para te sacudir na hora certa). Outra coisa, o horário do seu descanso é “responsabilidade” sua. Será mesmo que não há nada que você não possa sacrificar em nome da sua saúde? Pense nisso.
O Burnout
Falando sobre o “burnout”, ele ocorre num momento onde os efeitos do stress são tão grandes que a pessoa praticamente vira um zumbi. Não tem ânimo para fazer nada, perde a vontade de qualquer coisa, enfim, fica praticamente vegetando, um estado de esgotamento mental. Não é o seu caso.
Eu poderia te recomendar procurar algum colega para te receitar alguma medicação ansiolítica que pudesse te ajudar, mas acredito que a melhor solução vem de dentro. Lá na raiz do problema.
A meu ver, o único problema que não tem solução é a morte. Particularmente falando, a Medicina me tornou uma pessoa muito mais otimista em relação aos problemas que a vida nos apresenta.
Exemplos:
Já aconteceu de eu estar “estressado” por causa de ter batido com o meu carro, e enquanto isso, recebia um paciente com uma amputação traumática do braço. Outra feita, eu ficava ruminando porque aquela gata que eu estava afim me deu um fora, e via um paciente diabético ficar impotente aos 30 e poucos anos. Aí eu constatava: acho que esses pacientes adorariam trocar de “problema” comigo. Sei que comparar os problemas com os dos outros não é agradável, mas é apenas para pensar.
Enfim, nossos problemas não são maiores do que aquilo que nossa imaginação faz com eles, compreende? E uma abordagem mais otimista em relação aos desafios com certeza faz nosso cérebro trabalhar melhor em busca das soluções (isto é cientificamente comprovado pela Neurolinguística).
Outra forma de abordagem é avaliar se realmente isto é necessário para você. Muitas pessoas fecham a cabeça em relação aos caminhos problemáticos que aparecem pela frente, não enxergando que existem outras alternativas.
Faça a pergunta a você mesmo, Caio: Será que VALE A PENA enfrentar tudo isso que você tem enfrentado, seja no seu trabalho, seja na faculdade?
Novamente cito um exemplo pessoal:
Eu já tive dois empregos concursados em hospitais públicos. Vão me chamar de maluco, afinal, impera a mentalidade de “concurso público é uma segurança, estabilidade, blá blá blá”. Caio, se você não conhece alguém que pediu demissão de dois empregos públicos, muito prazer, meu nome é Mauricio. Eu só me aporrinhava naqueles empregos (O SUS não existe!). E olha, não me fazem falta nenhuma. O mundo gira e outras oportunidades surgem sempre.
Enfim, o que eu quero te passar é o combate a todo o malefício que esse stress está te causando. Seja por uma visão mais positiva e construtiva dos seus problemas, ou por uma mudança de hábito. Você não morrerá por causa disso, e provavelmente terá noites de sono muito melhores. Em último caso, ainda existem os ansiolíticos.
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Bônus – Teste seu nível de Stress
A foto acima tem dois golfinhos idênticos pulando da água.
No entanto, um estudo científico conduzido por pesquisadores da USP revelou que pessoas sob grande nível de stress perceberam diferenças entre os dois golfinhos.
Olhe para a fotografia, se você perceber uma ou mais diferenças entre os golfinhos, pode estar passando por stress.
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Abraço,
Dr. Health, orgulhosíssimo de se demitir de dois empregos públicos em nome de sua qualidade de vida.
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