Após longo e tenebroso inverno, volto a falar do assunto que mais rendeu Ibope em minha coluna na PdH.

Faço isso após discussão com colegas médicos sobre a possibilidade da existência de poros no látex do qual são feitos os preservativos.

Que permitiriam a passagem de partículas como o vírus HIV e assim, tornariam a camisinha falha.

Sim! Estamos falando delas, suas velhas conhecidas | Foto

Com todo o respeito, uma tremenda furada (não resisti ao trocadilho), e algo que vem bem a favor das intenções de entidades que são contra o uso do preservativo.

Permitam-me então refutar essa balela de “poros na camisinha”.

Uma consideração aqui: Seria burrice de minha parte dizer que a camisinha é 100% garantida na prevenção da AIDS e outras DSTs. Não é.

Mas posso afirmar que quando o contágio ocorre, é porque houve falha no uso do método, seja por contato íntimo antes ou depois ou ruptura do preservativo. Se utilizada corretamente sem falhas, o indivíduo não contrairá doenças.

E da mesma forma que você nunca morrerá de falha na abertura do seu paraquedas, se jamais saltar de paraquedas, você nunca pegará AIDS por via sexual se for abstinente. E quando eu falo abstinência, isso inclui sexo com o cônjuge, mesmo que ache que este é fiel.

Algo que vi muito em minha época de internato foi mulher achando que o marido era fiel e depois descobrindo ser portadora do HIV.

Realidade nua e crua: Você não tem como saber! Abstinência só é 100% garantido se você realmente não transar. Com ninguém!

Como os preservativos são testados

Após o processo de fabricação, todas as unidades são colocadas num bastão de metal que fica debaixo d´água, e uma corrente elétrica é lançada. Pois bem, se existirem poros no látex, que é um isolante elétrico, a corrente elétrica vai passar. Nesse caso, o preservativo é descartado. A não passagem da corrente implica em uma coisa: Ausência de poros. Afinal, os elétrons são muito menores que o HIV, e se eles não passam, que dirá o vírus.

Outro teste que se faz com as camisinhas é pegar amostras de determinados lotes e enchê-las com uma espécie de “sopa viral”. Se apenas uma das camisinhas deixar algum vírus passar, todo o lote é descartado.

Com essa testagem toda, fica inviável a afirmativa que a camisinha tem poros. Mas continuemos…

Link YouTube | Essa não é a maneira correta de se testar

Estudos

Já em 1993, em um estudo conduzido pelo National Institute of Health (NIH) / Estados Unidos, utilizou-se um microscópio eletrônico para ampliar os preservativos duas mil vezes e nenhum poro foi encontrado, mesmo quando os preservativos foram esticados.

Outro estudo, datado de 1989 pelo The Consumers Union, demonstrou que nenhuma das marcas de preservativos mais utilizadas no mundo apresentavam poros (mais de 40 foram testadas). Neste estudo, a microscopia eletrônica também foi utilizada nos preservativos esticados, mas com a magnificação de X 30.000, na qual é possível observar partículas do tamanho do HIV, e novamente não houve confirmação de poros.

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Ou seja, há pelo menos 17 anos já se sabe que os preservativos não apresentam poros…

Em condições de testagem laboratorial, o HIV não consegue atravessar a camisinha, então como explicar a eficácia desta não atingindo os 100% (fica em 90-95%) na vida real? Ora, os estudos epidemiológicos são feitos em larga escala, e por mais que se instrua e confie no indivíduo quando este responde: “Você utilizou o preservativo corretamente?”, o que a pessoa chama de “utilizar corretamente” pode não corresponder ao conceito de utilização correta. Pode ter havido contato íntimo antes. Pode ter havido uma pequena ruptura (acontece).

O uso de lubrificante à base de petróleo é capaz de criar poros. Uma infinidade de fatores que causam esse viés.

Até porque a taxa de infecção pelo HIV é dependente da quantidade de vírus inoculado. Mesmo que os tais poros existissem, a quantidade de vírus que por ali passaria dificilmente seria capaz de causar uma infecção. Quer uma prova disso? Existem relatos de casais soro divergentes, especialmente no caso do marido soronegativo e da mulher soropositiva, onde simplesmente houve sexo desprotegido e o marido não pegou o vírus. Imagine se existisse uma barreira parcial? E na verdade a barreira é total.

Isso sem contar que o látex não é o único material usado na fabricação de preservativos. As camisinhas femininas são feitas de poliuretano, também impermeável. E agora já está disponível uma versão masculina, feita de resina de polietileno, que promete 3 vezes mais sensibilidade e 3 vezes mais resistência. Quem quiser testar, fica aqui a dica: http://www.naturalsensation.com.br (Não, não estou fazendo propaganda, foi indicação de um amigo)

Finalizando, uma exortação (caso eu esteja errado)

As famosas luvas de látex | Link

Estou longe de ser o dono da verdade, e mesmo achando que não, dadas as evidências acima, posso estar enganado.

Neste caso, faço uma exortação à comunidade científica, sobre uma grande amiga dos profissionais de saúde: a luva de látex.

Se eu estiver errado, por muitos e muitos anos nós profissionais de saúde fomos ENGANADOS, por achar que as luvas são seguras. No meu caso, estou praticamente todo dia em contato com sangue e secreções, e os “poros do látex” me deixaram em risco por todos estes anos. Sem contar que as luvas são bem menos resistentes que os preservativos. Meu HIV é negativo por pura sorte, provavelmente.

Aí fica a pergunta para pensar: Por que nunca as entidades que combatem a camisinha se levantaram a favor dos pobres profissionais de saúde usuários de luvas de látex, se já sabiam da presença de poros?

Nos defendam, criem movimentos para que nunca mais participemos de cirurgias e outros procedimentos arriscados! “Abstinência” já!

Acho que não vai acontecer… Os interesses são outros.

Dr Health, esclarecendo que as luvas de látex não têm poros.

Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.