Recebo muitas dúvidas em meu email, mas recentemente uma delas me chamou a atenção pois trata-se de um padrão exaustivamente repetido.

Os ingredientes para esta receita são:

1. Moça jovem, muitas vezes adolescente

2. Falta de diálogo em casa ou pais conservadores

3. Namoradinho

4. Fermento vivo da espécie “Bacurinhax ardentis” (não serve fermento em pó Royal)

5. Menstruação atrasada

6. Desespero

7. Email do Dr Health

Modo de preparo: em uma forma contendo o ingrediente 2, misture 1 e 3 lentamente, e vá adicionando uma pitada de 4. Cuidado para não adicionar de uma vez, pois gera uma reação exotérmica intensa. Reserve por alguns dias e fique atento ao surgimento do ingrediente 5. Retire da forma e coloque num recipiente polvilhado com 6. Prontinho: você pode enviar seu produto final para 7.

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Nem todas são igual a Caroline, que casou virgem com o Kaká…

Sexo escondido

Confesso que é um pouco difícil para mim o entendimento da situação. Filho de uma médica acostumada a lidar com adolescentes, desde cedo tive diálogo e fui instruído sobre sexualidade humana. Muitos vão argumentar aqui que é fácil para mim pelo fato de ser do sexo masculino, mas no final das contas as pessoas que mais te amam no mundo deveriam, sim, cuidar de sua orientação sobre sexualidade. E não se fechar num mundinho de faz de conta achando que “minha filha é uma santa e vai casar virgem”.

Muitas vezes por medo de contrariar pais linha dura ou religiosos, a jovem quer ter uma atitude de adulta (transar) de forma escondida. Mas transar não é só abrir as pernas e gozar, pois uma transa pode ter consequências, desde gravidez até doenças venéreas.

Uma das dúvidas que recebo nesse estilo é a que concerne a visita ao ginecologista. Muitas vezes a moça não tem dinheiro para pagar a consulta (precisa da grana da mãe) ou a mãe faz questão de ir junto. E aí elas me perguntam se o ginecologista poderá revelar à mãe que a garota não é mais virgem. Até onde eu sei, ele não pode, mas vai saber o que acontecerá no consultório?

Desinformação e irresponsabilidade

Um de meus argumentos ao receber estes emails é: “E se você estiver grávida, o que vai fazer?”. Respondo desde já: vai fazer o que devia ter feito desde o começo. Não quis ter atitude de adulta ao transar? Arque com as consequências, como boa “adulta” que você é.

Suponhamos que a garota tenha pego uma doença venérea e fique sem saber o que fazer pois só vai ao ginecologista com a mãe. Se ela esconder o que tem, esperando dar tudo certo, a infecção pode atingir as trompas e se transformar num quadro de doença inflamatória pélvica, cujas consequências podem ir de esterilidade a morte. E aí eu vou dizer que morreu de bobeira.

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Em algumas horas, as garotas que me escrevem parecem querer apenas um alento psicológico. “Doutor, eu transei de camisinha, minha menstruação atrasou. Posso estar grávida?”. Sou obrigado a dizer que sim, pois qualquer método anticoncepcional tem uma taxa de falha e eu não estava lá pra saber se tudo correu bem.

A própria desinformação, advinda da falta de orientação por parte dos pais (já que em matéria de educação sexual nas escolas, estamos bem mal), atrapalha bastante, pois gera o desconhecimento de métodos contraceptivos de emergência. Numa eventual gravidez, pode até levar a atitudes extremas e ilegais como provocar o aborto – aqui não vou entrar no mérito da mortalidade por aborto clandestino.

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Tem certas coisas que não adianta esconder…

Diálogo aberto

Cada dia mais as meninas tem sua iniciação sexual de forma precoce e a falta de diálogo na família acaba gerando uma situação delicada. Fazer sexo exige responsabilidade. Tal medo de os pais descobrirem, do ponto de vista da saúde em si, é injustificável. Se você foi adulta para transar, deve ser adulta para aguentar o tranco.

Não tenho pretensões de mudar a relação atual de pais para filhos. Mas que fique plantada a semente quando cada um de nós passar por esse momento de educar nossa prole. Um diálogo aberto sobre sexualidade é muito importante e pode evitar constrangimentos como esses que chegam ao meu email, além de tornar a menina mais segura e consciente do que é a transa em si, de sua responsabilidade.

Tenho certeza que até hoje muitas garotas tem uma primeira vez dolorida, muito pelo desconforto do momento, que por sua vez é gerado pelo desconhecimento sobre o assunto. A moça tem tantas dúvidas que acaba não relaxando, a experiência é dolorosa e pode inclusive causar bloqueios psicológicos que levam a uma condição chamada dispareunia (dor ao coito).

Deixo uma pergunta…

Aos que quiserem opinar: você tem (ou tinha, quando adolescente) um diálogo franco sobre sexualidade com seus pais?

Passou por situação semelhante? O que pensa a respeito?

Dr Health, recomendando cautela ao utilizar o Bacurinhax ardentis. Aprecie com moderação!

Para outras dúvidas, me envie um email: drhealth@papodehomem.com.br

Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.