Tenho tido a incrível oportunidade de entrevistar jovens interessados em política. E assim, dia após dia, estou descobrindo que política é bem mais do que sempre achei que fosse.

Alguns trabalham diretamente na política, outros agem de forma independente, outros estão somente agora se dando conta de que o que fazem em seus projetos tem um papel político. Ouvi um jovem de 23 anos pensando em se candidatar a deputado federal e querendo fazer uma campanha colaborativa.

Assembleia popular horizontal em BH
A assembléia popular horizontal acontecendo em BH

Jovens que criaram uma “assembleia horizontal” embaixo de um viaduto que reúne centenas de pessoas em Belo Horizonte. Advogados que descobriram um papel ativista durante as manifestações. Garotos de coletivos da periferia usando a música como arma política. Saio dessas conversas inspirada e com vontade de passar adiante essa sensação.

Acredito que para a maioria das pessoas, falar sobre política significa discutir partidos, candidatos e eleições. Mas vai muito além disso. Pensar em política dessa forma limita uma discussão que poderia ser muito mais profunda e que poderia envolver mais pessoas da sociedade.

Com um olhar investigativo, descubro a cada dia que a política é, e sempre foi, parte da minha vida. E certamente é da sua também – a forma como ela faz parte da gente não tem só a ver com em quem votamos.

Entrou de presente na minha vida esse projeto: uma pesquisa sobre como o jovem pensa e atua politicamente, que estamos chamando de “Sonho Brasileiro da Política”. Uma proposta talvez inusitada de pensar sobre a equação “jovens, política e sonhos”. Somado a isso, impossível negar que estamos vivendo, como sociedade, um momento muito especial no Brasil.

Ainda está no ar um clima diferente, uma sensação inexplicável de se ter ido para as ruas e não saber muito bem o que fazer com tal experiência de participação. Foi a primeira vez que a atual geração jovem viveu essa forma de expressão pública coletiva. Para uns ela teve cárater de protesto veemente, para outros serviu para levantar bandeiras e causas e para muitos foi puramente uma manifestação de “eu existo, estou aqui”.

Foi assim que nasceu essa pesquisa. Do sentimento de que nossos jovens estão vivendo algo único no Brasil e inclusive no mundo. Podemos pensar que isso já aconteceu antes, que “jovens se manifestando” não é algo tão novo.

Historicamente outras manifestações já foram levantadas por gerações jovens, mas a reflexão que o mundo inteiro tem feito é de como essa movimentação global é diferente no contexto de uma era líquida, de poderes diluídos e da informação em rede. Se pensarmos em Brasil, além de tudo disso, ainda estamos vivendo um “bônus demográfico” onde a maioria da população é economicamente ativa, o que inclui em boa parte pessoas de 18 a 32 anos – público da nossa pesquisa. Em outras palavras, os jovens nunca foram tão importantes como atores sociais, no nosso país, quanto hoje.

Por tudo isso decidimos dar continuidade ao estudo Sonho Brasileiro lançado em 2011. Dessa vez, estamos menos sozinhos: trouxemos para a equipe e para o projeto pessoas muito especiais que querem tanto quanto a gente saber como a política pode ser ressignificada.

Pessoas que nos ajudaram no processo de captação, que doaram (e estão doando) recursos para o projeto, voluntários que se dispuseram a colocar a mão na massa, artistas que cederam suas obras para a pesquisa, empresas que cederam seu tempo e profissionais para nos ajudar, parceiros apoiando na divulgação que precisamos para captar recursos. Tudo isso porque nos abrimos para fazer uma pesquisa da sociedade civil para a sociedade civil, sem fins lucrativos e supra partidária. E tenho certeza de que muita colaboração ainda vem pela frente.

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Três anos atrás a pesquisa identificou que 59% dos jovens não tinham um partido político de preferência. Entretanto, 39% acreditam que são responsáveis pelo futuro do país e 92% acreditam que suas ações podem mudar a sociedade. Agora voltamos a campo para ver como anda este cenário, no ano que sucede a popularização da frase “não me sinto representado”. Se em 2011 detectamos que existem “jovens-pontes” praticando microrrevoluções, como isso se dá com eles engajados com movimentações políticas?

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Mas se no estudo anterior a pesquisa abordava política sem se aprofundar, já que o estudo era mais amplo, dessa vez estamos mergulhando em grupos, vivências e entrevistas com jovens engajados em transformar o Brasil pela política, que não estão imobilizados pela complexidade e enrijecimento da política institucional.

Ainda é um pouco cedo para adiantar conclusões da pesquisa, que será lançada em setembro deste ano, mas já dá para dizer que, como era de se pensar, ainda há poucos jovens querendo se aventurar no sistema político tradicional – vêem essa política como partidária, institucionalizada e desgastada.

Alguns tentaram e desistiram. Uns poucos querem entrar porque acreditam que o sistema tem que também ser mudado de dentro para fora. Mas estes têm medo de perder a identidade e a individualidade – ou, como nos dizem em um linguajar mais politizado, de serem cooptados. Porém, quando perguntamos o que é política, temos respostas como esta:

“A política hoje, para mim, é uma grande possibilidade de mudança. (…) A sociedade civil está se organizando para fazer várias coisas. (…) Eu acho que a gente está muito perto do ponto da virada pra política, porque os jovens estão começando a se apropriar da política. E eu acho que a gente começando a sentar nas cadeiras certas, a mudança vai vir de forma pesada.
E não descarto a possibilidade de eu próprio assumir as cadeiras. Só que eu não tenho ambição de ter um cargo eletivo. Eu tenho ambição de ter um cargo que eu vá conseguir fazer a diferença. A diferença estrutural.”

Estamos conversando com jovens extremamente articulados que vão muito além da discussão partidária – essa discussão, aliás, não está ligada à forma como desenvolvem seus projetos.

Pessoas que já estavam agindo, tocando seus projetos quando aconteceram as manifestações de junho do ano passado. Para eles as manifestações ajudaram a dar legitimidade a um trabalho que já estava sendo feito. Os amigos destes jovens engajados politicamente também foram afetados pelo despertar político de 2013: começa a haver um primeiro movimento de conscientização de que “todos somos políticos”.

De que é possível fazer política sem ser político.

Mas disso vamos falar muito, e com profundidade, quando lançarmos a pesquisa. Ainda estamos em uma fase de aprofundamento das nossas descobertas e ainda não temos os números da pesquisa quantitativa.

O resultado da pesquisa será público, disponibilizado em uma licença Creative Commons, ou seja, poderá ser reutilizado e até mesmo editado. Se você quer saber do andamento do projeto, pode seguir nossa página no Facebook.

Contribua com o Sonho Brasileiro da Política e ajude essa pesquisa a ter ainda mais alcance

Qualquer pessoa pode contribuir com o projeto, doando a partir de R$ 10,00 no Catarse. Falta apenas 4 dias para o fim do prazo.

A pesquisa está garantida, pois já foram captados recursos para sua realização, mas a forma como ela será divulgada depende do sucesso dessa campanha de financiamento coletivo. Ela deve viabilizar um site e um vídeo que vão tornar mais acessíveis os resultados do projeto.

Sonho brasileiro da política

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Nessa trajetória estivemos em 7 capitais brasileiras (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo). Para saber o resultado dessa investigação você vai ter que esperar até setembro. E faça sua doação aqui.

Por fim, deixo a vocês a mesma pergunta com a qual começamos a conversa com os mais de 300 jovens que conhecemos até agora: “o que é política para você?“.

Carla Mayumi

Ativista e pesquisadora de educação, sócia das empresas de pesquisa <a>Box1824</a> e <a href="http://www.talkinc.com.br/">TalkInc.</a>