Ele tem medo que sua namorada engravide. Ela sofre pela desconfiança. Dr. Health lista as soluções.
Dr. Health, beleza?
Eu comecei a namorar com uma amiga de uma ex-namorada (estamos separados há alguns anos, mas temos um filho juntos). Porém a ex não gostou.
Brigou com a minha atual e veio falar um monte de abobrinha para mim. Disse que a minha atual é um tanto irresponsável sugeriu que tivesse cuidado, pois ela poderia engravidar de propósito.
Depois disso eu fiquei encucado e não tenho coragem de transar com ela sem camisinha. Porém a situação está ficando insustentável pois a atual está chateada, diz que toma remédio e que eu não confio nela. Eu até acredito que ela tome um anticoncepcional, não sei o nome, mas são aquelas injeções que se toma uma vez por mês.
Mas sei sei lá, esses remédios são realmente confiáveis? Existe alguma outra dica?
Obrigado!
Olá, aflito leitor.
Seu email me remeteu ao ótimo livro do Dr. Drauzio Varella, Estação Carandiru. Em uma das histórias, Drauzio conta sobre a amizade de dois bandidos, parceiros para o que der e vier. Certo dia um dos bandidos descobre que a mulher do primeiro está tendo um caso. Quando interpelada, a mulher acusa o segundo bandido de estar colocando meleca na cabeça do seu marido e que na verdade é o seu acusador que a vive assediando. Sem saber o que fazer, o possível chifrudo chama o amigo e diz:
“Infelizmente o corvo da desconfiança pousou em nossa amizade. É melhor cada um seguir para o seu lado.”
No final das contas, os dois se reencontram na cadeia. O que acusou a mulher foi pego num assalto. E o possível chifrudo acabou que era chifrudo mesmo, com requintes de crueldade: o mulher o traíra com um policial, delatou todos os detalhes de um roubo, o marido foi preso logo após, e o policial fugiu com a mulher e todo o produto do roubo. Preso e desiludido, o bandido chafurdou no crack e acabou morrendo de tuberculose.
Na enfermaria da prisão, era o fiel amigo que cuidava dele.
Parece, leitor, que o corvo da desconfiança, enviado por sua ex-mulher, pousou no seu relacionamento. A situação é complicada porque você simplesmente não tem como saber a verdade. Por um lado, existe a possibilidade da sua ex-mulher estar recalcada em relação ao seu novo relacionamento e, em atitude baixa, colocar abobrinhas na sua cabeça. Por outro, ela pode ter razão e estar deixando um alerta, vai saber? Depende de como é a personalidade dela, o jeito que vocês se separaram, o grau de confiança que existia… Um sem número de variáveis.
Ao analisar suas opções, vou me ater aos aspectos técnicos. Aos potenciais comentaristas mais exaltados, especialmente a galera do “Que absurdo, tem que ter confiança e blá-blá-blá”, por favor ler esse parágrafo 10 vezes.
Eu já vi muita gente cair no argumento da “confiança na parceira” e logo depois ser agraciado com um presentinho. O fato é que, por não existir anticoncepção masculina no modelo da pilula, nós homens, grosso modo, ficamos à mercê das vontades da parceira quando resolvemos retirar o preservativo da jogada. Caso seja intencional, ela tem o álibi perfeito: a pílula falhou. Qual argumento você pode usar contra isso? Sinistro.
Há um fator complicante na sua história: o relacionamento já começou. Explico fazendo uma analogia a um vaso: quando o vaso ainda é barro, você pode moldá-lo como bem entender. Se por acaso não gostar, é só desmanchar e começar de novo. Agora, se o vaso já está pronto, para mudar, você precisa quebrá-lo e juntar os cacos – e não vai ficar igual antes. Trazendo para a situação do leitor: se no começo você frisasse que só transa de camisinha e que só vai tirar para ter filho, pronto, problema resolvido. Regra estabelecida. Para fortalecer o argumento, ainda podia fazer uma listagem de efeitos colaterais da pílula, como a trombose venosa profunda.
Mas se vocês já tiraram a capa, já era. Vão quebrar o vaso e a montagem vai ser meia-boca.
Uma coisa preocupante: você não faz ideia do método que ela usa. Concorda comigo que, se a intenção dela por um acaso for dar o golpe da barriga, você está com a bunda exposta na janela? É algo que, no mínimo, você deveria saber. Use o pretexto de estar interessado na vida sexual de vocês dois para buscar essa informação – aliás, pretexto mais do que justo. Sua pergunta foi se os métodos são confiáveis. Sim, eles são. A questão é se a sua parceira está fazendo uso correto deles. Se não estiver…
Outra opção seria tentar fazer sua namorada trocar a pílula pelo DIU. De preferência, com você indo no ginecologista com ela. Já que o corvo anda por perto, né? Nunca se sabe. Novamente, você pode citar a vantagem de ela não precisar se preocupar em tomar medicamentos, é só relaxar e gozar.
A solução radical-plus seria você fazer uma vasectomia. Se ainda pretende ter filhos, congele o sêmen antes. Desta forma, não terá mais preocupações, tirando DSTs. Isso vai requerer dinheiro, obviamente.
A solução radical-crente seria você simplesmente aderir à castidade até o casamento. Mas, voltando à analogia do vaso, já era.
E a solução radical-ogro-animal-plus é dar um pé na bunda da sua namorada. Bom, não é o mais sentimental, reconheço, mas como eu disse anteriormente, estou me atendo a critérios técnicos e praticidade. A possibilidade de tomar golpe da barriga ao fazer isso é zero.
Dr Health, que se recorda até hoje de um momento de alívio extremo ao ler um papel onde estava escrito “Beta-Hcg: NEGATIVO”.
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