A boa canção é a magia das pequenas coisas.
Explico.
Uma música, pra ser completa no sentido cancioneiro da palavra, demanda algumas partes precisamente posicionadas para que ela possa fazer bem o seu trabalho.
Sim, as notas, a harmonia, ritmo, dinâmica e demais elementos musicais precisam fazer sentido, ser bem tocados e interpretados para atingirem a raiz primitiva que nos envolve sempre que o acorde correto soa.
Mas, para além desse aspecto sonoro, as letras exercem um papel fundamental. As palavras têm de estar lá, mas nem só de vocabulário amplo é feita uma boa canção. Aliás, é muito fácil as palavras estarem ali e não causarem coisa alguma. Há um conjunto de informações melódicas que têm de fazer sentido não só no âmbito semântico, mas também emocional.
É por isso que muitas vezes uma frase aparentemente sem nexo algum atinge um certo nervo que faz sua orelha se esticar em direção àquela informação.
É essa verdade emocional que nos atrai e é super difícil de desenvolver. O motivo é que, apesar de existirem técnicas para chegar a certos resultados, a sutileza de uma visão honesta, a abertura para se expor e colocar em evidência os pequenos sentimentos – muitas vezes inconfessáveis – é que nos fazem ressoar junto com a canção.
A Bedibê parece trazer consigo essa pureza e abertura em suas músicas. Em cada linha é possível entender o que moveu os amigos Diego Bravo (percussão e backing vocals), Fred Rocha (voz, violão, baixo e cavaco), Karin Hueck (voz, teclado e caixinha de música) e Tiago Van Deursen (voz, violão, gaita e cavaco) se unirem ao redor desse projeto.
Cada observação, frustração e alegria cotidiana que seria compartilhada em uma tranquila mesa de boteco em algum canto da cidade está ali. A vontade de deixar o emprego, o sentimento diante de envelhecer, o medo de se prender em uma relação, as conversas entre amigos. É possível ouvir tudo isso.
O disco passeia entre a MPB e o Folk e oferece uma atmosfera bem intimista, digna do nome.
Recomendo em especial "Esquina" que serviu de base pro clipe que, aliás, está ótimo.
Envelhecer (2016)
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.